Nas duas últimas edições do Sotaque da Ilha, venho me ocupando de escrever sobre o advogado, jornalista, escritor, político e integrante da Academia Maranhense de Letras,(AML) Sálvio Dino, recentemente falecido, por um preito de gratidão e reconhecimento da sua vida e obra, ante uma solicitação de obséquio, o que fi-lo para outras personalidades, e só ele se prontificou em ajudar-me, quando o encontrei após uma sessão na Casa de Antônio Lobo, e num golpe de sorte, por ele estar residindo em João Lisboa, na região tocantina.
Antes, acompanhei-o, quando a Favela do Samba, campeã do carnaval de 2017, definiu o seu enredo para 2018, inspirado no livro dele A Coluna Revolucionária Prestes a Exilar-se, com que a agremiação do Sacavém contaria a história do movimento que envolveu O Cavaleiro da Esperança, Luiz Carlos Prestes, durante sua passagem pelo Maranhão, quando pretendia chegar à capital em um movimento de rebeldes para instalar uma trincheira socialista no Brasil. Para João Moraes, presidente da Favela, o livro de Sálvio Dino, uma obra rica em detalhes, daria margem para a realização de um belo enredo e um excelente roteiro carnavalesco: “Vamos revisitar aquele movimento político com a leveza de um olhar poético-crítico para produzirmos um grande desfile na passarela do samba”, destacou Moraes.
Em consonância com João Moraes, a partir de que o escritor Sálvio Dino deu autorização para a utilização de seu livro para fundamentar o roteiro da Favela do Samba, caberia à escola se debruçar sobre as informações prestadas pelo escritor para realizar um grandioso desfile em forma de ópera carnavalesca. Para o diretor de carnaval da escola, Euclides Moreira Neto, o tema, rico em fatos e histórias, tinha tudo a ver com o Maranhão, o que proporcionaria um desfile pedagógico e fácil de ser compreendido pelo público e jurados. O enredo foi lançado, oficialmente, na primeira quinzena do mês de agosto, na quadra da escola, com a presença do escritor Sálvio Dino, e de outros acadêmicos da AML, e da minha, que faria matérias a respeito para o JP Turismo.
Conhecendo mais uma presença alterosa maranhense — Foi uma vida intelectual intensa, que enveredou pelo conhecimento filosófico, dando base ao advogado, pelos mergulhos na História que lhe proporcionaram os meios para resgatar fatos e momentos importantes da trajetória maranhense, como a restauração do roteiro que marcou a passagem da Coluna Prestes no Sul do Maranhão. Sálvio Dino foi também intenso no jornalismo, quanto bom articulista e bom cronista, e um excelente contador de histórias e causos, produzindo um rico acervo de impagáveis registros da vida e da política interiorana, que fez com competência ao longo de anos nas páginas do jornal O Estado do Maranhão. O pesquisador de fatos históricos, o cronista, o contista e o contador de causos deixam nada menos que 13 títulos, entre eles Leões, um Palácio de Histórias, Lendas, Mitos & Chefões, Verdes Sertões e Vida, Nas Barrancas do Tocantins, etc.
O último discurso na Casa de Antônio Lobo — Na sua última aparição pública, na Academia Maranhense de Letras, Sálvio Dino pediu inclusão da Rua da Paz no projeto de revitalização do Centro Histórico de São Luís, e foi no dia 12 de março na solenidade de posse da nova diretoria do sodalício, da qual era membro, e que tem Carlos Gaspar como presidente. Escolhido para fazer a saudação da noite, ele recordou uma aula do famoso historiador Fernando Perdigão, na qual descreveu, endereço por endereço, as pessoas destacadas nos mundos das letras e do Direito que ali residiam, para classificá-la como a Rua dos Intelectuais. Trata-se da mesma via onde está instalada a Casa de Antônio Lobo, e diante dessa explanação fez uma sugestão à direção da entidade e ao Governo do Estado, ali representado pelo vice-governador Carlos Brandão, para que a Rua da Paz fosse incluída no projeto de obras de revitalização do Centro Histórico, recebendo um tratamento especial, na ligação entre as praças João Lisboa, que homenageia o grande jornalista maranhense, e Deodoro, onde está o Pantheon Maranhense, que reúne bustos de importantes intelectuais do Maranhão. Sálvio Dino, que era pai do governador Flávio Dino, ao fazer essa sugestão em público, quis deixar patenteado que não gostaria de usar o parentesco com a maior autoridade do Estado para fazer um pedido em nome da sociedade, mas sim sugerir que a entidade da qual era integrante fizesse isso, institucionalmente.
Sálvio Dino, um nome opimo a ser sucedido – Já sei que, dando a lume o interesse da minha candidatura, para a sucessão do pranteado jornalista, político e intelectual conterrâneo, terei que falar em excelente, rico, abundante, fértil, fecundo! Já estou, sem sombra de dúvida, num bom começo! Félix Ayres, um dos seus antecessores, faleceu, em 1979, na residência de Jomar Moraes, onde se achava hospedado. Como Felício Alves, nasceu em Buriti Bravo (MA), em 1904, poeta, prosador, médico veterinário. Em sua missa de sétimo dia, observando que seu conterrâneo, Raymundo Carvalho Guimarães, chorava, copiosamente, o poeta e cronista Bernardo Almeida, liderou sua eleição parta a sucessão do amigo, e eu fui o encarregado de fazer uma Revisão em regra para o livro do querido Mundico, o maior devoto da Casa de Antônio Lobo. Eu estava lá, para subsidiar Raymundo Carvalho Guimarães, que ocupou a cadeira 12, fundada pela poetisa Mariana Luz, e que Sálvio Dino sucederia.
Elogio de Álvaro Urubatan para mim vale ouro — “Maranhense considerado na poesia, na prosa, no jornalismo bravo e independente, enfim em todas no universo das letras. Como sabes, sou teu leitor. Por sermos da mesma geração, praticamente testemunho os assuntos que escreves, Neste, toca-me n’alma a menção feita à memória dos meus queridos amigos Waldemiro Viana, Milson Coutinho e Sálvio Dino, com que mantive assíduo contato, Os outros, muitos colegas e conhecidos. Sim, Herbert, outra razão desta resposta é para, carinhosa e alegremente, agradecer-te por tua generosidade em incluir nosso modesto nome nesta louvação tua que será o livro Brilhantes no Tempo de Cada Um. Afetuoso abraço.”