Como mais motivação, para tomarmos as providências necessárias, poderemos nos valer do escrito, em 2007, do escritor e editor Jomar Moraes, que não deixaria pedra sobre pedra era a ignorância sobre as nossas riquezas mais caras, publicado no jornal O Estado do Maranhão em cima, justamente, da nossa Praça do Panteon
Jomar Moraes
Com a finalidade de prevenir conclusões equivocadas, esclareço que não tive em mira, na breve série que hoje espero esteja encerrada, polemizar com quem quer que fosse. Pretendi apenas deixar bem claro o papel que teve a Academia Maranhense de Letras no episódio da retirada dos bustos da Praça do Panteon e, por extensão, o papel dessa entidade cultural no que respeita a esses e aos demais monumentos, parcos e modestos, de nossa cidade.
De logo fique bem claro o seguinte: não sou eu quem representa a Academia Maranhense de Letras nos âmbitos judicial e extrajudicial, mas o seu presidente, segundo expressa disposição estatutária. Esse fato, porém, não me proíbe ou mesmo dispensa de falar por ela, Academia, sempre que tal se fizer necessário, mormente tendo-se em conta, como é mister que se tenha, que fui o presidente que por mais tempo a dirigiu (22 anos consecutivos) e hoje ocupo o terceiro lugar entre os mais antigos membros da Casa. Ademais, importa-me dizer que entendo de minha obrigação irrenunciável sair em defesa da Academia todas as vezes em que ela sofrer a injustiça de acusações infundadas, as quais soam como provocações deliberadas e gratuitas.
Firme nesse propósito, asseguro, desde já, que enquanto me for possível, a Academia não será impunemente molestada ou agredida, já que me sinto permanentemente vinculado à sua defesa, da qual, tenho plena consciência, não detenho o monopólio, nem mesmo o dever ou encargo estatutário, fato, porém, que não me exime nem tampouco me proíbe de defender essa Instituição a que me encontro visceral e formalmente ligado desde a noite de 6 de agosto de 1969.
(…)
Voltando ao assunto bustos do Panteon, informo aos atenienses de araque o seguinte, que certamente os deixará bastante decepcionados: os venerandos monumentos que estavam na praça em frente da Biblioteca Pública, expostos à mais vexaminosa execração, não sumiram, exceto o de Humberto de Campos. Teriam desaparecido por completo, se a Academia Maranhense de Letras não tomasse a iniciativa de, por um expressivo grupo de seus membros, solicitar urna audiência ao prefeito Tadeu Palácio e pedir-lhe imediata solução do grave problema dos bustos do Panteon, que além de vituperados pela iconoclastia de vândalos imbecilizados, corriam o risco de serem totalmente roubados, como já ocorrera com o monumento a Humberto de Campos.
Felizmente nossa denúncia sensibilizou o prefeito, que no dia seguinte, conforme prometera, mandou remover todos os monumentos da praça para lugar seguro, oportunidade em que os executores da providência constataram que sete bustos já haviam sido desconectados de seus pedestais, e a qualquer momento seriam dali subtraídos para, pesados na balança infame de algum receptador inescrupuloso, terem seu valor inestimável aviltado à equivalência com umas poucas moedas de paga pela ignominiosa traição a nossos altos e lídimos valores cívicos.
Por algum tempo guardados e protegidos de roubos ou furtos no Centro de Arte Japiaçu, os bustos passaram por adequado tratamento de recuperação e conservação, e foram solene e festivamente instalados no pátio interno do Museu Histórico e Artístico do Maranhão. A lista completa dos bustos do Panteon, em cujo rol não entra a intrujice proveniente de cafajestadas ruidosas e vociferações histriônicas, é esta: Gomes de Castro, Teixeira Mendes, Urbano Santos, Maria Firmina dos Reis, Arnaldo Ferreira, Clodoaldo Cardoso, Bandeira Tribuzi, Silva Maia, Coelho Neto, Raimundo Correia, Dunshee de Abranches, Artur Azevedo, Gomes de Sousa, Antônio Henriques Leal, Corrêa de Araújo, Nascimento Moraes. A esses l6 expoentes da cultura maranhense em suas mais diversificadas áreas de expressão, veio somar-se, com inteira justiça, o monumento a Josué Montello que, do ponto de vista estritamente numérico, perfaz os 18 bustos que originalmente havia no Panteon. Fato, porém, que não supre nem compensa o lamentável desfalque sofrido com o roubo do busto de Humberto de Campos, que precisa ser reposto no grupo de que foi criminosamente arrancado. E outros luminares de nossa vida cultural merecem a homenagem da consagração no bronze, a exemplo de Sousândrade. Aluísio Azevedo, Graça Aranha, Sotero dos Reis, Gentil Braga, Joaquim Serra e tantos, tantos mais que a lista, por extensa e exauriente que seja, não chegará jamais à inclusão de medíocres e sacripantas que, em matéria de “bustificação” (acho que acabo de cunhar um neologismozinho) somente deveriam merecê-la se acaso a primeira sílaba da palavra entre aspas tivesse a sua vogal substituída.
Para terminar, algumas palavras sobre o tal orgulho ateniense, orgulho do qual já não se jactarão, nestes dias de tropelias e quebradeiras, nem mesmo os gregos de nascimento: a despeito de alguns livros ultimamente surgidos sobre o assunto, lembro que essa pabulagem de Atenas tupiniquim não gozou nunca de entusiasmo unânime. E aos atenienses de araque novamente me dirijo, para informar-lhes que os bustos acham-se protegidos de desrespeito e a salvo de roubos, no pátio interno do Museu Histórico e Artístico do Maranhão, onde foram festivamente instalados na noite de 24 de outubro de 2007.
Dá até para maldosamente supor que os inconformados com a preservação dos bustos estejam a serviço dos receptadores interessados em bronze para as caldeirarias.
Quando os bustos voltaram, deu nos jornais:
(Retirados há 11 anos, na última quinta-feira (29. 11.2018), os bustos que homenageiam grandes personalidades maranhenses foram postos de volta na Praça do Panteon, no Centro de São Luís. … A volta das 18 esculturas ao espaço aberto faz parte da reforma da Praça do Panteon, realizada pela atual gestão da prefeitura.)