Após 79 anos de marcante contribuição à cultura popular e religiosa do Maranhão, a Festa de São Pedro, o Padroeiro dos Pescadores, na Madre de Deus, em 2020, por conta da prevenção ao Novo Coronavírus num espaço que seria de total aglomeração e por muitas horas, não deu o ar da sua graça com suas procissões (marítima e terrestre), dezenas de grupos de bumba-bois, que reverenciariam a imagem do taumaturgo pelo amanhecer de 29 de junho afora, com milhares de assistentes. Como sempre prestigiado por brinquedos de todos os sotaques, no seu largo, num dos maiores arraiais juninos, jornalistas e folcloristas consideram ali o auge do folguedo, em São Luís.
Com isso, rememorei, há pouco, que valeu a pena a reunião do lado de fora da capela, na tarde de 10.7.2019, quando a coordenadora de eventos paroquiais, que não conhece da missa um terço, por não haver nascido na comunidade, não abriu o templo, acertado ao telefone com este cronista, pois os descendentes dos criadores da tradição cultural e incentivadores, que residiram no bairro, encararam a falta de consideração que receberam, pautando uma programação que se iniciaria com o lançamento do livro da minha autoria, possivelmente, em junho deste ano, o que não se concretizou, não só pelo surto da pandemia, também por não estar impresso: Tudo a Ver com o Peixe de São Pedro (A Festa do Pedro Santo, o Padroeiro dos Pescadores, no Bairro da Madre de Deus), no ponto de ter o original repassado para o deputado federal Eduardo Braide, considerado no bairro, há um bom tempo, e que abraçou de bom grado a minha solicitação para viabilizar a publicação do título histórico e memorial. Agora, estou lhe informando que a obra memorável sobre o Pedro Santo está pronta, com textos sobre a filiação dele ao Podemos, no Hotel Abbeville, no São Francisco, e de uma reunião, antes, na Fiema, quando solicitei o benefício cultural, e ele me autorizou para eu falar com Buchudo Barata, da assessoria, que me passou para Fernando Braide (no escritório do partido), que resumiu que estavam tratando só de filiação, e em abril seriam os outros assuntos!
Nomes de relevância —Todos do comitê têm nomes relevantes para constituírem uma entidade para gerir a organização da Festa de São Pedro: Valdenir Estêvão Castro, que, rapaz, foi pescador, na Madre de Deus, antes de ser funcionário da CEMAR (Centrais Elétricas do Maranhão) e estudar para formar-se advogado no Curso de Direito da UFMA, e, atualmente, presidente da Associação dos Aposentados da CEMAR; as irmãs Célia e Nilta Azevedo, católicas fervorosas com trabalhos na paróquia de São Pantaleão, netas de Gregório Tito de Sena (o popular Gregório Cambel), tesoureiro da Colônia de Pescadores que realizou a construção da primeira igrejinha de alvenaria e telhas do santo; e eu, filho, e sobrinho de criadores da Festa de São Pedro, e neto da primeira zeladora da capela, a beata Marcelina Cirila dos Santos (D. Marcela), e que teve seu berço atrás da igrejinha inicial.
(para as orelhas do livro)
Herbert, o poeta da dinastia dos santos, que carda, fia, doba e tece a túnica festiva de São Pedro
*Rossini Corrêa
Herbert Poeta – neto de Marcelina e filho de Felipe, da linhagem dos Santos, e de São Pedro, em especial – todos têm Tudo a Ver com o Peixe de São Pedro, por constituírem uma genealogia que se encontra na pedra fundamental da construção da Festa de Pedro Santo, o Padroeiro dos Pescadores, cujo palco, nos degraus da alegria e da devoção, é no Bairro da Madre de Deus, em São Luís do Maranhão. Ninguém melhor do que este poeta e prosador para resgatar, com superior espírito antropológico, a dimensão existencial e cultural da construção de um louvor, no qual uma comunidade praiana, à semelhança do apóstolo Pedro, sob o sol e sobre o sal, vencendo ao tempo, singrou para sempre os caminhos da fé e da festa.
Herbert Poeta realiza a sua louvação da Madre de Deus, que é a capital da cultural popular em São Luís do Maranhão, ao destacar, entre brinquedos, becos, carnavais, palafitas, sinos, largo e capela, o universo da Festa de São Pedro, como manifestação de uma comunidade que, em sua semeadura, realizou a produção de uma apoteose da alegria devota no Brasil. Da mudança da geografia não resultou, por mar e por terra, a perda da memória, que significaria o desencontro comunitário com o seu ser mais profundo, sem peixe, santo, Pedro e tudo, ou, talvez, nada mais. Ao contrário, no rio e no mar profundos de si mesma, a comunidade transformou em água doce o mar salgado e, lavando as suas mágoas, tudo transfigurou sob a magia das matracas, dos pandeirões, das zabumbas, das orquestras e do bailado das índias e dos caboclos de pena do bumba-meu-boi, para reinventar a si mesma, guardando o fogo sagrado de geração a geração, entre o céu e a terra, no escorrer verde do rio e no golfão cinza do mar.
Herdeiro maior de uma tradição de estudos da cultura popular, fundada no Brasil por outro grande maranhense, ou seja, Celso da Cunha Magalhães, com os artigos enfeixados em A Poesia Popular Brasileira, Herbert Poeta corta, dribla, tabela, cruza e goleia, vencendo por terra, mar e ar, neste livro vestido de luz. Na tradição de Nunes Pereira, Nascimento Morais Filho e Lopes Bogéa, de que Valdelino Cécio também foi representante, ele, Herbert Poeta, com o gosto sábio e lúdico de convívio com o povo, termina por esculpir um painel humano extraordinário, em que desfilam a mascarada, clube de jovens, heróis do boi, governador, prefeito, atores, praianos, pescador, zeladora, fogueteiro, advogado, ourives, cantadores e, em meio a todos, o Senhor dos Ventos e Patriarca do Mar, Pedro Santo.
Em verso e em prosa, Herbert Poeta carda, fia, doba e tece, no cotonifício do painel humano revelador da verdade de Miguel de Unamuno, de que o homem é um animal afetivo ou sentimental, feito de osso, nervo e sangue, que nasce, cresce, canta, chora, dança, ri e um dia morre. Mas, apesar desse sentido trágico da existência, o humano é também um ser que fabula antes, durante e depois, vivendo, e querendo vida; morrendo, e buscando mais vida, em uma eternidade que começa agora, nas escadarias e nos portais de São Pedro, entre o Peixe e o Santo, de que o mar é o trigo, de onde vem e vai, para onde vai e vem, na busca e no encontro, o pão sagrado, de que este maravilhado livro, Tudo a Ver com o Peixe de São Pedro, com certeza, é pedra, semente, edifício, guarnicê, igreja e religação.
Parabéns ao obreiro, que trabalha o barro na olaria do tempo, e, na vida do Mundo, esculpe a humana e divina eternidade: Herbert Poeta, da dinastia dos Santos.
*Poeta e prosador maranhense, membro da Academia Brasiliense de Letras