Inserido no contexto do discurso preconizado pelo meu inesquecível mestre da UFMA e escritor (ensaísta, contista, novelista e teatrólogo) de mão-cheia Fernando Moreira de que, antes e melhor do que ingressar numa Academia de Letras, o autor deveria querer ser bem lido, fui picado, no melhor do léxico, pela mosca azul, quando no outro dia ao lançamento do meu segundo título de poemas, São Luís em PreAmar (em concorrida noite de autógrafos, em 5.8.2005, no Espaço Poeta Valdelino Cécio, do Centro de Criatividade Odylo Costa, filho), ao telefone, fui agraciado pelas palavras acesas e preciosas do ensaísta e poeta de densidade nacional, Luís Augusto Cassas, com: “Herbert de Jesus Santos, parabéns pelo São Luís em PreAmar! Não é comum um bom prosador ser um bom poeta! Você sabe que não sou de elogio fácil”! Cassas, um dos exponenciais da Literatura indígena, prestigiou-me, ali, qual os realçados José Chagas, José Maria Nascimento, Alex Brasil, Nauro Machado, JM Cunha Santos, Lenita Estrela de Sá, etc. Na mesma manhã ludovicense, no Coração da Cidade, Nauro, deixando-me ver suas cãs, retirou da cabeça o seu chapéu, à guisa de elogioso. Em sua reverência, aqui, o poema O Parto, da sua estreia, em 1958, em Campo sem Base, com que ganhou o Concurso Literário Cidade de São Luís da prefeitura: “Meu corpo está completo, o homem—não o poeta. Mas eu quero e é necessário que me sofra e me solidifique em poeta, que destrua desde já o supérfluo e o ilusório e me alucine na essência de mim e das coisas, para depois, feliz e sofrido, mas verdadeiro, trazer-me à tona do poema com um grito de alarma e de alarde: ser poeta é duro e dura e consome toda uma existência.”
Insurgência Contra a Burra Cheia da Poesia Maranhense — Foi o jornalista e poeta da praia estelar, JM Cunha Santos, que me achou metralhadora giratória a alvejar figurinhas carimbadas não de boa cepa, não contemporizadas por mim no São Luís em PreAmar: “Cronista desaforado, às vezes, furioso contra os que perturbam sua Cidade, estudioso da História, compositor premiado e poeta ainda bem que submisso aos distúrbios da alma humana, Herbert de Jesus Santos é um cultor de imagens e engrandecedor do belo. Capaz de transmudar sentimentos e acender em linguagem própria as luzes didáticas que fazem de São Luís berço de trovadores imbatíveis, existe-nos agora com uma obra com a qual, para não fugir de sua sacrossanta característica de guerreiro impiedoso da palavra, combate o bom combate, como lhe impõe o coração de menino rebelde da Madre de Deus e filósofo do populacho.“
“Covardes saqueadores da sua terra” — Prossegue o poeta maior sobre a minha poesia: “Este poeta que, à guisa de prefácio, desnuda São Luís à beira de um ataque de nervos, diante do que chama de “decadência moral, intelectual e socioeconômica, que ataca os covardes saqueadores (no sentido bruxo e deletério do substantivo) de sua terra, usa sua arma mais constante, a poesia, para dizer um basta aos vilões engasgados por gravatas que roubam de São Luís o ouro e a aura. Basta obtê-lo, transfigurado e assustado com quem “silencia por encomenda” (Poema da Quase Quatrocentona), para que se nos assalte um certo orgulho nativista; basta vê-lo quedar (Estrela Cadente), de aversão e mágoa, diante de patranhas literárias inconfessáaveis, a investir violento: “A poesia parece estar com a burra cheia/e nunca é de graça um pé de meia”; basta o alimento da sua revolta, o estrebuchar do seu inconformismo sobre bandeiras rasgadas por “tubarões de black-tie”, para a verve de Herbert soar como um trompete a ferir os ouvidos dos que, com sua linguagem, caruncham a dignidade de um povo e da poesia: “Quem passa em branco os males da farsa,/em qualquer universo,/é comparsa!(…)”
Sentida Canção dos 400 Anos de Vida— Poetizei, com a insuflação da Minha Cidade (Para os que não amam São Luís só da boca pra fora): Por ti, São Luís, faço, agora, minha a tua voz e de todos aqueles iletrados, que não podem dizer de peito aberto, deveras, e dos que morrem de medo de César e dos potentados, que mais dão ao Povo pão e circo e vice-versa, que nem fizeram aos cristãos, na arena, às feras! Por isso, justiça, aqui, é uma infeliCidade, onde aquela possui mais culpa no cartório e é só conversa pra bumba-boi dormir a seriedade, em que o vil metal desonra o falatório (pois que tudo é panelinha de corrupta e corruptora grei dos donos do tempo, da hora e dos arrotos, poluem e quebram até aos raios decentes e em brotos), onde mais o Sol não nasce para todos e menos somos todos iguais perante a lei! Muitos aí flertam, sem máscaras, que a amam, vemos, porém, mais só conversa fora da bacia. São poucos os que, sinceramente, te devotam: Os que ficam a ver navios e no deserto clamam! Por isso, também, a barra está mais pesada que os sinos da Igreja da Sé, do Carmo e do Desterro, onde já nascem Jesus Cristo antes da hora, para carregar o pesado símbolo do madeiro, com a Missa do Galo alertando mais cedo o risco de vida que é a meia-noite lá fora, e na maior parte do tempo carregamos a Cruz, que, igualmente, é tua, São Luís, embora, em viagem, nós que nascemos mais à imagem, e, marchando, a um de fundo, à semelhança de Jesus! Tua culpa é não poder falar o que mais deve, qual de ti cobrou Raimundo Lopes, um dos teus grandes filhos, mestre e poeta: “Amamos-te, a amargura, embora, à flor dos lábios, Atenas, que votaste à cicuta teus sábios, Jerusalém, que apedrejas os teus profetas!”— como envenenaram de morte Sócrates, na Grécia Antiga, e caem de pedras de uma alienígena e, aqui, inútil cantiga, dando o ar de mediocridade e de lorotas, com sinal de que pode ser urubu na carniça, que tocará melhor se o Boi cultural bater as botas! Não mereces ser e estar assim, Minha Cidade, mais vestida de andrajos e de fezes as tuas praias, sempre em benefício dos ratos de cartola, que posam, na mídia, ar de frajola, que denotam estar fuçando no real monturo, por ser lixo moral todo o seu luxo, e deveriam puxar uma masmorra e uma bola confinados, como sua maldição, atrás do muro!