Cristo soube na própria pele que ninguém é rei em sua própria terra. Uma constatação triste, mas real. Sabedora dessa verdade, a escritora Lenita Estrela de Sá resolveu dar um bordo fora de sua querida ilha de São Luís. Ela não foi o primeiro escritor que, no mundo, ousou um périplo além das fronteiras do insulamento. Homero saiu da ilha de Ítaca para a ilha de Colofon; James Joyce, de Dublin, Irlanda para a França; Gabriel García Márquez, teve que sair de sua Aracataca (Macondo); Gonçalves Dias, idem e Ferreira Gullar mudou-se para o Rio de Janeiro, onde viveu até a morte.


O caso do namoro de Lenita, com a Paulicéia Desvairada, começou, em 2015, ano em que empreendeu a primeira viagem para lá e onde, de saída, teve uma excelente recepção pois, no mesmo ano, foram publicados dois poemas de sua autoria, na revista O Casulo, da Editora Patoá.
Simultaneamente, o escritor Rubens Jardim a incluiu num trabalho dele intitulado As Mulheres Poetas na Literatura Brasileira. Essa coletânea, para 3 volumes, está, por enquanto, publicada em i book. Ela participou do Sarau da Paulista, também organizado pelo escritor Rubens Jardim “que, durante 6 anos já vinha lendo seus poemas pela Internet, garimpando, pinçando e coligindo para dar uma melhor visibilidade a minha produção poética’, afirma Lenita.
“A minha decisão de vir morar em São Paulo, não foi intempestiva. Aos 20 anos de idade, desejei morar no Rio. Fui. Lá morei com um irmão, fiz vestibular para a UFRJ, Direito. Aprovada, frequentei o curso. Mas não me adaptei à cidade. Devido à cordialidade, fiquei em São Paulo. Recentemente estive no Sarau da Casa Amarela, cujo organizador é Akira Yamasaky, do qual participou, recentemente, em edição anterior, um grupo de poetas maranhense, com os quais estive, Carvalho Júnior, Dyl Pires, Antonio Aílton e Boque Mesito. Estive, também recentemente no Sarau Santa Sede, organizado por Fabiano Fernandes Garcês e do Sarau da Paulistana, do qual já me considero membro honorária, porque participei das primeiras apresentações do Grupo, que já tem três anos de existência. Também participam do Sarau Paulista os poetas maranhenses Luís Augusto Cassas e Rubervam Nascimento. Em julho de 2019, lançamos uma Antologia da qual participo com três poemas. Também fui homenageada no Sarau Gente de Palavra Paulistana, também coordenado por Rubens Jardim, que é uma espécie de aglutinador dos poetas do Brasil, que vivem em São Paulo.
Ocorre que, em São Luís, os escritores, como eu, se ressentem do fato de poucos ou raros tomarem conhecimento de suas obras. E, se não tomam conhecimento de nossas obras literárias em São Luís, imaginem chegarem a ter repercussão em São José de Ribamar, onde também não chegam. Ao contrário, em São Paulo, o campo de oportunidade é dinâmico e tenho sido recepcionada aqui com muita cordialidade.
A minha vinda para São Paulo, se deu tão-somente por uma tentativa de procurar dar visibilidade para minha obra, exercício que pretendo realizar até a morte.
Sempre fui inspirada na luta da primeira romancista brasileira, Maria Firmina dos Reis que, morando em Guimarães, jamais deixou de lutar por fazer com que sua obra literária chegasse a São Luís. E, tendo vivido no século XIX, só foi resgatada e reconhecida no começo do século XX, pelo jornalista e escritor, poeta Nascimento Moraes Filho que, inclusive, foi o meu grande incentivador, ao lado de Josué Montello.”


A escritora Lenita Estrela de Sá está sendo lançada pela Editora Pena Lux, de São Paulo, que, cujos autores editados, já foram finalistas de vários Prêmios Literários Brasileiros e até internacionais, como o Prêmio Oceanos, ganho pelo poeta carioca Alexandre Guarnieri.
Lenita foi vencedora, em 2010, do Prêmio Literário Sousândrade, de poesia, SECMA, com o livro
Pinceladas de Dali e Outros Poemas, lançado em 2015. O Antídoto, foi lançado em 2017, pela 7 LETRAS, no Rio de Janeiro, com apresentação do poeta Salgado Maranhão.
Não dúvida, Lenita Estrela de Sá é uma escritora madura e brilhante, cujos raios de luz estão em sua obra literária e em seu próprio nome.
“Atrás do Baú de Guardados” é o 16º livro da escritora maranhense, poeta, dramaturga e contista Lenita Estrela de Sá. Com prefácio de Daniel Zanella e apresentação na orelha de Itamar Vieira Júnior (vencedor do Prêmio Leya, 2018), a obra ficcional da escritora é um mergulho nos meandros da história dos mitos literários de São Luís, cujos protagonistas dos contos dialogam em busca de uma identidade maranhense/ludovicense perdida nos confins de um auto colonialismo flagrante.
Alguns contos dialogam com personagens de livros anteriores, como Cândida (personagem fictícia, amiga confidente de Ana Jansen, na peça teatral de autoria de Lenita, lançada em 1982, que é protagonista do conto que dá título ao livro, a qual, por sua vez, relata o sofrimento de seu casamento em moldes patriarcais, cuja base é ver-se obriga a exercer os únicos papéis permitidos na época, o de dona-de-casa e o de esposa. Um exemplo lapidar está na cena de seu comportamento, ao ver o marido entrar no quarto, quando se vê obrigada a esconder o jornal que lê, atrás do baú de guardados, daí o título, que desponta como um insight.
Dando curso ao diálogo de protagonistas e personagens de contos, publicações de diferentes datas, Teresinha é um típico protagonista que traz à tona a lenda central do folclore maranhense, agora transformado em mito literário, no conto “Teriam chegado ao Reino de Dom Sebastião?” Ela é uma desempregada que se tornou moradora de rua, em São Luís e sua saga continua interpolada em outra história, iniciada em outro conto, “A Casa do Coreto”, publicado em 2009, no livro “Cinderela de Berlim” (Prêmio Gonçalves Dias, via plano editorial da SECMA)
O lançamento dos contos de Lenita Estrela de Sá, acontecerá, hoje, 13 de dezembro de 2019, às 19h, na Adega e Restaurante Dona Carmen, Rua Dr. Bacelar, 649, Vila Clementino, São Paulo.
A obra Atrá do Baú de Guardados poderá, no entanto, ser adquirida pelo site da editora: www.editorapenalux.com.br E, em São Luís, na Livraria AMEI (Shopping São Luís) e na Livraria Vozes, Rua do Sol, 496, Telefone: 3231 5699.
Texto: Alberico Carneiro
Texto de Orelha
Por Itamar Vieira Júnior (vencedor do Prêmio Leya 2018)
Em Atrás do baú de guardados, Lenita Estrela de Sá, autora de coletâneas de contos e poemas, nos oferece onze narrativas que se desenrolam no ambiente sutil do cotidiano. Das tramas onde passeiam personalidades históricas, como Ana Jansen, em “Joalheria Madrid” à tensão teatral dos diálogos de “Depois da paixão o que resta”, a autora nos apresenta um rol de personagens com as mais diversas origens: latifundiários, moradores de rua, comerciantes, presidiário e poderosas mulheres da alta sociedade. São eles que nos guiam por tramas que guardam o frescor dos bons folhetins.
O Maranhão, com seus encantos e fabulações, é a paisagem por onde eles peregrinam. Da São Luís do século XIX aos nossos dias, facilmente reconhecida nas descrições da sua geografia – Cais da Sagração, Bacanga, Ponta da Areia, Rio Anil e Rua do Giz -, à paisagem fértil do campo maranhense, povoada por uma sociedade profundamente desigual, encontramos um país marcado por um passado colonial que insiste em não nos abandonar.
Entre o passado e o presente, a natureza de seus personagens reflete a complexidade da alma de um povo que nunca conseguiu ter uma existência plena. É na descrição detalhada desse universo – onde a autora se alinha aos neorrealistas – que encontramos a catástrofe da nossa história guiada por uma elite arraigada a um tempo de permanente exploração e que repercute em nosso momento como uma constatação: somos colonizadores de nós mesmos.