Professor da UFMA e coordenador do Observatório de Turismo da Cidade de São Luís, Saulo Ribeiro, afirma que a tecnologia já é uma realidade e vai estar cada vez mais presente na atividade turística.
Tecnologia será estratégico para sobrevivência de agências e operadores de turismo como canal de informações e venda de produtos. Mas, relação com o cliente e remodelagem das empresas deve contribuir na retomada pós-pandemia, aliado ao diferencial das normas sanitárias como estratégia para garantir segurança dos clientes.
São Luís/MA – As medidas de isolamento social para combate ao novo coronavírus não têm prazo certo para acabar. Neste momento, praticamente é impossível pensar em pôr fim às restrições para circulação de pessoas pelo mundo. Mas, esse cenário, ao contrário do esperado, tem desafiado as agências de viagem a pensar em alternativas para manter os negócios em atividade, já pensando na retomada no pós-crise, em um ambiente onde devem se sobressair a criatividade, uma base tecnológica e a obediência a normas de segurança sanitária sem precedentes.


As agências de viagem, que antes da crise já atuavam com expressivo suporte de tecnologia em suas operações, aprofundaram a tendência e esboçam os primeiros passos da retomada.
Entre as soluções adotadas para mitigar os efeitos da crise, dados levantados pelo Observatório do Turismo da Cidade de São Luís (UFMA) apontam que a adequação no quadro de colaboradores e remodelagem do negócio é preponderante para 21,1% dos entrevistados. 7,83% dos ouvidos incluem ainda a adoção de serviços online; 7,83%, o investimento em parcerias com outros estabelecimentos, 3,61%, a opção por inovações como os vouchers digitais e 2,41% incluíram no portfólio serviços de tele entrega, todas essas alternativas com forte impacto da tecnologia.
Além disso, entre outras medidas citadas, estão o adiamento de projetos e investimentos (18,67%), remarcações e adiamentos de serviços (16,26%), oferta de descontos e promoções (9,63%), busca por financiamentos ou empréstimos bancários (6,62%), redução/isenção de multas aos clientes (6,04%), sinalizando um olhar para o cliente.
O levantamento aponta, ainda, expressivas transformações no modo de empreender e na gestão dos negócios. Entre as empresas consultadas, 55,88% adotaram a modalidade de trabalho em home office, já sendo 26,47% com 100% do negócio operando nesse modelo.
São empresas como a Taguatur Turismo & Eventos, que opera hoje com todos os oito colaboradores em home office. Na empresa, a palavra de ordem é adequação, trabalhando com equipe reduzida e munindo os clientes de informações. “Paralelamente, estamos reavaliando roteiros de experiência junto a parceiros, porque essa será uma tendência do pós-pandemia”, explica Virginia Virgínia Barros, gerente de operações da empresa.
Avaliação de novos produtos e amadurecimento de projetos para o futuro, além do contato permanente com o cliente são estratégias usadas pela Gekos Receptivo. O proprietário, Adriano Brito, revela que nos últimos dois meses foi necessário rever o modelo de operação, ampliando a atuação via home office. No dia a dia, o empresário trabalha na criação de roteiros e produtos novos, mas sem descuidar dos clientes. “Estamos nos comunicando com o cliente, fazendo Lives para nos aproximarmos do público, divulgar destinos e mostrar que estamos trabalhando. Estamos planejando novos projetos e observando o mercado para sentir de que forma vamos nos posicionar para aproveitar as oportunidades”, afirma Brito.


A maioria das empresas, como a Gekos e a Taguatur, também foca em ações para o segundo semestre e trabalha na criação de pacotes e produtos voltados para públicos específicos, a partir de agosto. Estão também retomando negociações com fornecedores pensando no pós-crise e nas próximas temporadas.
O objetivo é incentivar as viagens no futuro, flexibilizando ao máximo as condições para satisfazer os anseios do cliente. “Nesse sentido, informação, conhecimento do mercado e qualificação para empreender são decisivos”, afirma Adriano Brito.
Com forte atuação no setor do turismo nas últimas décadas, o Sebrae tem voltado suas atenções para o setor, um dos mais impactados na pandemia.
“O Sebrae tem direcionado sua estrutura de apoio aos pequenos negócios neste momento de crise, com muita atenção para o turismo, que é um dos segmentos de maior impacto na nossa economia. Temos procurado ouvir os empresários e apoiá-los com soluções efetivas que representem um diferencial, como por exemplo, no desafio de remodelagem dos negócios, para fortalecer a gestão, com soluções de acesso ao crédito, com atendimento por meio dos nossos especialistas nas consultorias direcionadas para a gestão, tecnologia e criação de novos produtos, com ideias para a venda de pacotes e com as recomendações para elaboração dos protocolos sanitários, com as orientações sobre segurança sanitária e normas técnicas que ordenam a atividade e serão o grande diferencial na retomada. Enfim, o Sebrae está oferecendo ao empresário do turismo, às agências, as orientações necessárias neste momento desafiador para todos”, comenta o coordenador de Turismo e Cultura do Sebrae no Maranhão, Luís Walter Muniz.
Tecnologia será componente decisivo para recuperação do setor, mas alto investimento ainda é empecilho para empresas
Já pensou em alternativas que proporcionam ao turista a experiência de viajar sem sair de casa? Com a pandemia de corona vírus, essa realidade está mais perto do que se pensa. E o caminho é o uso da realidade virtual, aliado à gamificação de produtos e de soluções para aplicativos, que permitem ao espectador vivenciar a experiência como se estivesse in loco.
O aplicativo Travel World, por exemplo, oferece vídeos em 360º, que podem ser assistidos pelo Youtube, propiciando um tour em um ônibus de dois andares em Londres ou um mergulho na Grande Barreira de Corais, na Austrália.
Grandes redes hoteleiras, empresas de cruzeiros e destinos turísticos têm investido nessa tecnologia com o objetivo de deixar a experiência de viagem mais completa e gerar desejo nos consumidores, pensando em oportunidades no pós-pandemia.
O uso de realidade virtual é uma tendência usada prioritariamente como forma de promoção. A tendência é que o uso cresça, abrangendo outros formatos, mas o alto investimento ainda é um empecilho para empresas e destinos menores.
Para o professor da Universidade Federal do Maranhão e coordenador do observatório de Turismo da Cidade de São Luís, Saulo Ribeiro, a concretização dessas alternativas de sustentabilidade das empresas neste momento ocorre na contramão do que se pensava e tem a tecnologia como base.
“Muito se pensou que o advento da tecnologia e a abertura dos canais de vendas diretas por empresas aéreas, operadoras de cruzeiros, locadoras, dentre outras, isso significaria que as agências de turismo iriam por água abaixo. Mas o que aconteceu foi um saudável processo de reinvenção, que vai acompanhá-las daqui para frente. Um exemplo disso é a extinção da comissão das companhias aéreas, que fez com que os agentes repensassem o modelo de vendas”, analisa Ribeiro.
Segundo ele, muito mais que produtos, as empresas passarão a vender informação associada à logística, tudo isso combinado para oferecer aos clientes experiências únicas.


“Nesse contexto, a tecnologia vai estar cada vez mais presente. Só que para isso, as agências vão precisar identificar que tipo de tecnologia o cliente utiliza e está familiarizado e também avaliar qual é mais viável para as suas necessidades (da empresa), qual o produto a empresa pode oferecer, o perfil de público a ser atingido, tudo isso levando-se em conta as peculiaridades desse ramo de negócios, particularmente das agências de pequeno porte, que não tem tantos recursos para investir em tecnologia”, frisa o professor.
Por outro lado, Saulo Ribeiro avalia que o suporte tecnológico para vendas e comunicação de produtos e serviços já é uma realidade. “Essa nova forma de aproximação com o mercado e de vendas, já não é uma tendência, mais uma realidade da qual as empresas não têm como fugir”, constata o especialista.
Ele destaca boas práticas no uso de tecnologia como recurso para inserção no mercado, citando as adotadas por agências de receptivo no município de Bonito – MS. “Se avaliarmos comparativamente os portais das agências do local e similares no Maranhão, vamos identificar um abismo com relação à oferta de informações do destino e de produtos, de design, imagens e funcionalidades (como chat online) para atendimento do cliente. Esse é um ponto em que precisamos avançar, pois o uso da tecnologia como canal de informação e de contato com o cliente passaram a ser fundamentais ao lado do desafio de tangibilizar a experiência turística”.
Para o professor, essa pausa ocasionada pela pandemia está fazendo com que as empresas reavaliem seus processos e pensem em como melhorar e ampliar a inserção no mercado, adotando boas práticas que podem ajudar muito.
“São boas práticas que devem ser incorporadas agora, quando as pessoas estão em casa, ávidas por informação e até desejosas de planejar suas viagens no futuro. Então, neste momento, um olhar para a tecnologia como componente estratégico pode ser decisivo na retomada das atividades”, completa Saulo Ribeiro.