Não é novidade para ninguém que o Maranhão é um estado com um folclore dos mais autênticos da federação brasileira, possuidor de uma riqueza formada pelas mais diferentes e diversas tradições rítmicas e culturais absorvidas por sua gente. Porém nem todas as manifestações possuem o mesmo espaço nas grandes mídias, caso por exemplo, do Bumba-meu-boi de orquestra Mocidade de Pinheiro, mais conhecido como Príncipe da Baixada, surgido no dia 24 de julho de 2008 em referência ao título que a cidade ostenta de Princesa da Baixada Maranhense e que mesmo com o cenário da pandemia, escolheu manter de pé seus projetos de inclusão social, além de ter realizado apresentações via internet direto para os lares maranhenses.


Antes do surgimento do Boi Mocidade de Pinheiro, a professora Jucine Azevedo de Castro, dona e fundadora da agremiação, havia fundado uma escola de samba no município de Pinheiro, que teve suas atividades encerradas devido ao fato de não ter recebido muita atenção dos gestores municipais, porém a profissional da educação sentia que precisava encontrar uma forma de continuar inserida no contexto cultural da Princesa da Baixada, começando ali a pensar uma nova formação que a pudesse fazer está envolvida no contexto cultural da cidade, foi assim que se originou a ideia de junto com amigos, vizinhos e parentes fundarem uma brincadeira folclórica.


Batizada com o nome de Grupo Foclórico Cultural Bumba meu Boi de Orquestra Mocidade de Pinheiro e contando atualmente com 80 brincantes, a brincadeira já se apresentou em diversas cidades do interior do Maranhão, passando por Bacabeira, Bequimão, Cururupu, Maranhãozinho, Mirinzal, Pedro do Rosário, Presidente Sarney, Santa Helena, São Bento, Turiaçu, Viana, tendo participado também de apresentações oficiais, em São Luís, nos arraiais dos governos estadual e municipal, assim como o projeto Vale Festejar que durante muitos anos celebrou a cultura maranhense em uma importante iniciativa da mineradora multinacional brasileira Vale.


Tradições Folclóricas – Como o nome de origem diz, o Boi Mocidade de Pinheiro, formado em sua maioria por jovens talentos da dança e da musicalidade pinheirense passeia toda sua batida rítmica pelo sotaque de orquestra, resgatando tradições buscadas de uma região do estado que aperfeiçoou suas raízes, e se constituiu o berço das agremiações folclóricas desse estilo de bumba-meu-boi, nascido a beira do Rio Munim, sendo hoje um dos sotaques com o maior número de grupos espalhados pelo estado maranhense. O ritmo possui como principais características o uso dos instrumentos de sopro (metais) e cordas; como Saxofone, Clarinete, Banjo, entre outros; além de uma vestimenta mais elaborada e colorida, na confecção de suas indumentárias trabalhadas com miçangas, paetês e canutilhos, em bordados que produzem um colorido especial e reluzente. Assim como a maior parte dos outros sotaques, seus personagens remontam a história de Pai Francisco e Mãe Catirina, em um belo espetáculo teatral com vaqueiros, índios, cazumbás, burrinhas, doutores, pajés e o personagem principal, o boi.


A Bruna Soares é uma das índias do grupo há 9 anos. Ela entrou na Mocidade de Pinheiro motivada por uma irmã e um amigo que sabiam o quanto a jovem gostava de estar envolvida com atividades culturais. Em conversa com a reportagem, ela nos conta o que serve de inspiração para continuar fazendo parte do boi e deu sua opinião sobre o que acha dos incentivos a cultura dentro dos municípios.
“É importante salientar algumas questões dentro dessas tradicionais agremiações. A importância de dançar na Mocidade de Pinheiro é algo inexplicável para mim, só quem ama estar envolvido com as danças de tradições culturais de raízes locais sabe o quanto tudo isso é especial. Saber que você faz parte de algo valorizado pelas pessoas, e que leva alegria para os arraiais é muito prazeroso, ainda mais contando com o reconhecimento que as pessoas têm para conosco, o que nos serve de incentivo para continuarmos a fazer o que gostamos”, descreve Bruna.
O amigo citado por Bruna é o fotografo Rullit Diniz, que possui uma forte paixão por dança e cultura, além de ocupar as funções de vaqueiro e também de coreógrafo há 7 anos.


Rullit Diniz também destacou a importância da brincadeira na sua vida. “Eu me interessei pela mocidade devido a vários fatores, o primeiro de amar dança e em seguida por está atuando dentro da cultura de alguma forma. Em 2012 participei da pós-temporada do boi, mas foi em 2013 que eles me deram a oportunidade de ser coreógrafo, função essa que exerço até hoje com carinho e dedicação. É inexplicável fazer parte da mocidade, uma brincadeira que leva a alegria a população e que chama atenção por todos os cantos por onde passa, sendo esse um fator especial pra mim, até porque meu trabalho está envolvido no meio”, declarou o coreógrafo.
Jucine Castro, idealizadora da Mocidade Pinheirense conta que quando as apresentações acontecem em Pinheiro, muitos moradores da cidade procuram saber detalhes do evento, como data e horário para estarem presentes e acompanharem as novidades apresentadas.


“Estamos nos organizando para nos transformarmos em ponto de cultura. Para isso estamos preparando uma serie de documentos, atividades, pois à estrutura já temos. Esses investimentos em oficinas acontecem sempre em nossa sede, mesmo lugar onde são realizados nossos ensaios, tudo em um ambiente de sonoridade, arejado e bem espaçoso”, afirma Jucine Castro, presidente da agremiação.
Com o fim do período de São João, os membros da diretoria do Bumba-meu-boi Mocidade de Pinheiro estão voltando suas atenções para uma serie de projetos de integração social que são ligados a arte, cultura e educação na região. Entre os projetos, estão oficinas de musica, bordado e dança.
Já Jennyfer Azevedo; filha de Jucine; índia e presidente da agremiação acha que o público poderia ser bem maior, visto a falta de uma maior valorização por parte do município no tocante as festividades locais.


“Aqui na Baixada muitas pessoas não valorizam a cultura, a maioria dos jovens que moram na região acabam não dando muita atenção para danças folclóricas e culturais locais, preferindo os modismo e encontros cercados de carros com paredões nas sedes dos municípios, onde o barulho e as irregularidades das leis acabam afetando a cultura popular, devido a proliferação de uma música sem um conteúdo poético, que acabam denegrindo a musicalidade brasileira. A valorização de bandas vindas de fora, com ritmos como o funk, forró, sertanejos nas principais festividades do calendário anual atrapalham essa relação das agremiações locais com a população. Quando chega à época do período junino, muitos preferem bandas vindas das grandes capitais e os prefeitos acabam atendendo esse pedido. Nós temos o nosso público, nos esforçamos para manter as atividades culturais vivas, porém seria muito mais prazeroso, se as pessoas dessem mais valor a cultura existente no estado”.
Apresentações na Internet e TV
O período junino veio cheio de surpresas. Após uma apresentação veiculada no Arraiá do Povo em Casa – serie de apresentações transmitidas pela TV Assembleia e redes sociais entre os dias 24 e 26 de Junho/2020 -, a agremiação realizou sua própria live no dia 27 de Junho. Na ocasião foram apresentadas cerca de onze toadas. No repertório “Abre suas cortinas”, de Lucas Neto; “Querida Pinheiro”, de Ribamar Souza; “Luar de ternura” e “De volta para o Guarnicê”, ambas de Eduardo Gal, autor de um dos dois depoimentos que foram ao ar durante a live, onde o mesmo elogiou o bumba-meu-boi e sua fundadora.


No depoimento Eduardo Gal falou da trajetória da brincadeira, e da importância de sua criadora na valorização cultural e no foco de novos projetos. “É um boi aguerrido e vencedor, é fácil falar dele, possui grandeza e beleza e o que muito contribuiu pra isso é o fato de ter a sua frente essa guerreira a Jucine Castro, que para mim é um ser humano ímpar e que está diante de um projeto que caminha a passos largos. Me senti realizado compondo toadas para o Bumba-meu-boi Mocidade de Pinheiro”, afirmou Eduardo.
A jornalista Adrielli Pinheiro é divulgadora e apresentadora dos eventos do Bumba-meu-boi Mocidade de Pinheiro. Natural de Rondônia, morando no Maranhão há 10 anos, ela conta que sempre foi uma grande entusiasta da cultura. Adrielli falou da sensação de apresentar a live e ter dado sua opinião sobre a iniciativa.


“Quando o batalhão me convidou e disse que eu iria apresentar de Índia, dei pulos de alegria. A experiência também foi única por conta dos protocolos para resguardar a saúde de todos os envolvidos e o número de pessoas bem reduzido presentes no ambiente. A tecnologia está aí para aproximar, para facilitar e expandir as relações humanas. As apresentações via live foram uma forma que os mercados do entretenimento e da cultura encontraram não só para manterem suas atividades com responsabilidade, mas para também para contribuírem com o bem-estar social”, discerniu, Adrielli.
No dia 12 de Julho, o programa Maranhão TV, transmitido pela TV Guará e apresentado pelo jornalista José Raimundo Rodrigues, exibiu imagens do bumba-meu-boi Mocidade de Pinheiro, na interpretação da toada “Protetora da Floresta”, de Sthephany Castro. O jornalista também comentou com nossa reportagem, a respeito dessa agremiação que tem proporcionado um ótimo trabalho no folclore maranhense.
“Sou filho da cidade de Pinheiro e acredito que o Boi Mocidade de Pinheiro tem muito a oferecer para o setor cultural da Princesa da Baixada, inclusive ao levar em conta o sotaque que o boi escolheu, que é o sotaque de orquestra ou sotaque do Munim, reunindo uma parte da juventude pinheirense e que simboliza uma opção de entretenimento cultural”, comentou, o apresentador.
Lei Aldir Blanc


No dia 29 de Junho, foi sancionada a Lei Numero 14.017, mas conhecida como Lei Aldir Blanc, homenageando o músico e compositor que faleceu em maio e que tem como objetivo ajudar os artistas e espaços artísticos e culturais que tiveram suas atividades influenciadas de forma negativa pela Pandemia. A medida provisória 990/2020, de 9 de Julho, que é complemento da Lei, permitiu a abertura de 3 Bilhões de reais que serão divididos e repassados a governadores e prefeitos, que utilizarão a quantia para aplicações nas seguintes ações emergenciais. O pagamento de três parcelas de 600 Reais de Auxilio Emergencial; Subsidio mensal, com valor entre 3 mil e 10 mil reais, que será utilizada para a manutenção de espaços artísticos e culturais, microempresas e pequenas empresas culturais, cooperativas, instituições e organizações culturais que tiveram suas atividades interrompidas devido ao isolamento social e Realização de ações voltadas a produções culturais, como cursos, editais e prêmios.
Ao conversarmos sobre o assunto, Jucine Castro comentou sobre suas expectativas em relação a lei.
“Esperamos conseguir sermos ajudados por essa iniciativa do governo federal, apenas estamos a espera do edital para nos inscrever e assim receber os benefícios. Acredito que ela será muito útil para ajudar financeiramente não só a instituição em si, mas também cada membro da Mocidade de Pinheiro, já que a falta de apresentações presenciais interferiu na nossa situação”.
Texto: Ítalo Cavalcanti (Estagiário do JP Turismo)