A Favela do Samba se fez Bandeira no Planeta de Cesar Teixeira, no carnaval de 2010, e arrebatou o quinto campeonato consecutivo, no Concurso das Escolas de Samba de São Luís, na passarela do Anel Viário, e o seu 13.º título. Embalada pela Bateria Carcará, do Mestre Júlio, com seus intérpretes (Cacá e Coracinha) agitando a torcida com o samba-de-enredo composto por Gilvan Mocidade e Zé Lopes, a agremiação do Sacavém venceu de ponta a ponta, no seu desfile, já na madrugada da terça-feira gorda. Com uma diferença de quase 10 pontos para as suas principais concorrentes (Flor do Samba e Turma do Quinto, vice-campeã e terceiro lugar, respectivamente), sem contestação, a pentacampeã do nosso tríduo momesco mostrou ao que veio, em cinco grandes carros alegóricos; 20 alas de figurantes, além da de baianas, que se fantasiaram, apropriadamente, de A Luz no Fim do Túnel.


O enredo de uma artista de mão-cheia — O resultado foi desenhado no desempenho da escola de samba que mais acertou, realmente, nas exibições de domingo e segunda, em que 11 entidades participaram em dois grupos, quando a Favela interagiu com o público a idealização de uma sociedade mais livre e igualitária, proposta quotidiana do jornalista, poeta, militante dos Direitos Humanos, e compositor e cantor maranhense Cesar Teixeira. Cantou —e contou muito bem— a vida e obra do seu homenageado, desde o nascimento, no Beco das Minas, a 15 de abril de 1953, na área de São Pantaleão, em São Luís, passando por sua incursão nas artes plásticas, influenciado pela pintura moderna, que lhe concedeu alguns prêmios, no fim dos anos de 1960; e se projetando na música popular, que lhe latejou nas veias, valendo aí as mãos do seu pai, o compositor e cantor Bibi Silva, que o levava para assistir aos programas radiofônicos de então, avivando seu interesse pela diversidade de ritmos da terra, enquanto herança das raízes da nossa Cultura.


Dos festivais de música, e de Bandeira de Aço à Oração Latina — Em parceria com seu contemporâneo do Liceu, poeta Viriato Gaspar, ganhou o terceiro lugar no III Festival de Música Popular Maranhense, com Salmo 70, em 1972, ano em que integrou a trupe de criação do Laboratório das Expressões Artísticas (Laborarte), iniciando experiências com sons regionais; e, em consequência, estudou violão clássico com o mestre João Pedro Borges (Sinhô), de 1974/76, na Escola de Música do Maranhão. Na apresentação favelense, foram exaltadas, igualmente, suas canções famosas, como Boi da Lua, Flor do Mal e Bandeira de Aço, inseridas, em 1978, no disco produzido pelo pesquisador e produtor pernambucano Marcus Pereira, com composições de outros reluzentes musicistas conterrâneos da sua geração: Sérgio Habibe, Josias Sobrinho e Ronaldo. Em 1979, em coautoria com o compositor José Pereira Godão, sagrou-se vitorioso no 1.º Festival Universitário de Música Popular da UFMA, com Sentinela, defendida por Gabriel Melônio; e, com a celebrizada Oração Latina, por Gabriel Melônio e Cláudio Pinheiro, abiscoitou o primeiro lugar do Festival Viva, em 1985, em São Luís, logo requisitada em movimentos sociais (de Sindicatos de Trabalhadores, etc.), amiúde, pelas ruas centrais da Cidade.


De Tocaia e com seus intérpretes — Não faltariam na montagem da performance concebida pela direção de carnaval da Favela (com os carnavalescos Júlio Matos e Euclides Moreira Neto), a música Tocaia, com que foi vitorioso aqui e concorreu em festival de Marabá (PA), em 1994, e lembrança de que teve composições gravadas, sucessivamente, por intérpretes maranhenses: Rita Benedito Ribeiro, Chico Maranhão, Gabriel Melônio, Alcione, Cláudio Pinheiro, Célia Maria, Cláudio Lima, e Papete, e o menestrel mineiro Dércio Marques, dentre outros.


Literatura e Direitos Humanos — A Favela, em alto e bom som, abrilhantou, inclusive, a presença de Cesar Teixeira na ala de compositores da Escola de Samba Turma do Quinto, para a qual compôs sambas-de-enredo em carnavais memoráveis da azul-e-branco da Madre de Deus, da extensão de Praia Grande (campeã em 1981) e Poema Sujo (da obra homônima de Ferreira Gullar). Trilhou, nesse tempo, a estrada da literatura, ganhando, em 1996, o Prêmio Nacional de Poesia Vinícius de Moraes, da RioArte, promovido pela Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, com o Poema de Amor e Alquimia Sobre o Araguaia, em reverência às mulheres guerrilheiras que atuaram no teatro de batalhas, na região, e foram mortas durante regime militar.


Parangolé e Mutuca, na Escola da Rua da Coragem — Duas composições suas (Parangolé e Mutuca) constaram da coleção de CD´s do Programa Rumos Itaú Cultural; e a Rádio Universidade FM o escolheu o melhor compositor de 2001, recebendo troféus de Melhor Música e Letra pelo chorinho Ray-Ban; e, já em 2002, menção honrosa pelo poema Patrimônio Cultural Profano, no Prêmio Carlos Drummond de Andrade, em Ipatinga (MG). Reconhecido por sua militância, literalmente, no campo, pela Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, a Favela do Samba realçou a participação corajosa do autor e A Bala e Ato Público (dentre outros poemas), em movimentos dos sem-terra, nas áreas de conflitos entre humildes lavradores e poderosos latifundiários. Essa sua atividade foi uma das mais emocionantes e aplaudidas na passagem da agremiação favelense, que nasceu a 26.10.1950, na Rua da Coragem, no Sacavém.
Shopping Brazil, Faustina e Maria Aragão — O 1.º CD de Cesar Teixeira, Shopping Brazil, fechou com lixo e luxo o enredo sobre o ás e combativo maranhense, que não se esqueceu de mencionar, no histórico, duas legendas da vida cultural e política do Estado: Faustina, a última dama da Praia Grande, e a médica e ativista Maria Aragão.


Uma plêiade maranhense no cenário da Favela — Prestigiaram Cesar Teixeira, desfilando em alas da Favela do Samba, figuras reluzentes em diversos campos artísticos e sociais: Joãozinho Ribeiro (compositor e cantor), Zema Ribeiro (jornalista e agente cultural), Magno Cruz (engenheiro civil, sindicalista e do Centro de Cultura Negra), Emílio Azevedo (jornalista e escritor), Regina Oliveira (cantora), Herbert de Jesus Santos (jornalista, poeta, prosador, compositor e folclorista) e sua companheira, Maria Gorete Protázio Alves (professora do Estado).
A FAVELA SE FEZ BANDEIRA NO PLANETA DE CESAR TEIXEIRA
Compositores: Gilvan Mocidade e Zé Lopes
Fez-se a luz divina, nasce uma estrela popular,
tambores anunciam a chegada de um ser menino,
um poeta, um sonhador de arte, do teatro, a emoção,
rosa e espada, tortura e prisão.
Bandeiras de luta, o grito da terra, vou com a Favela,
dando a Cesar o que é Cesar,
Cesar Teixeira ilumina a passarela, (bis)
dando o tom da poesia nos acordes da Favela.
Vem… hastear nossas bandeiras
no terreiro noite inteira tem mutuca e parangolé,
minha namorada do cangaço,
sou ave de rapina, sou de aço,
eu planto em teu jardim flores do mal;
o meu Ray-Ban é manchete de jornal;
minha Oração Latina é sucesso nacional,
na pungada da coreira, na batida do tambor.
Se fez seguir, se fez sonhar,
se fez sorrir, se fez cantar
a Liberdade é para todos nós, (bis)
não tem censura para calar a nossa voz
Texto: Herbert de Jesus Santos