Sálvio Dino foi abraçar o filho, governador Flávio Dino, no comitê do PC do B, na campanha à reeleição, em 2018. No último discurso, na AML, em março, pediu um bem-comum para São Luís
(Sinto-me lisonjeado em anunciar que serei candidato à sua vaga na Academia Maranhense de Letras (AML)! “Vale a pena, pois a alma não é pequena!”
“Não chores, meu filho, não chores, que a vida é luta renhida: Viver é lutar. A vida é combate, que os fracos abate, que os fortes, os bravos, só pode exaltar”! (Gonçalves Dias). “ Na quinta-feira, eu e meu pai recitamos juntos Gonçalves Dias. Hoje, ele morreu, aos 88 anos, vítima de Coronavírus! (Flávio Dino)”
No apogeu do Serviço de Imprensa e Obras Gráfica do Estado (Sioge), numa extensão que vai da gestão do ensaísta e editor Jomar Moraes ao advogado e professor universitário Antônio José Muniz, em que se inseriu a do jornalista e historiador Benedito Buzar, nas três, fui assessor e co-editor, na Revisão Literária, em que não faltavam autores ansiosos por suas criações, em fase de confeccão ou de impressão, e alguns termos que se impuseram, nas linguagens falada e escrita, como opimo. Era opimo, nas conversações de Waldemiro Viana, que, em 1978, tinha no ponto do prelo Graúna em Roça de Arroz, romance de cunho regionalista, papeando com Jomar Moraes, que confiavam no taco da minha arguciosa leitura, assim como Mílson Coutinho, com o seu Atualidade do Padre Vieira, e ascenderia em sua historiagrafia. Não demorou para eu acertar com opimo, e num Caldas Aulete, da futuira Biblioteca Erasmo Dias do Sioge, chequei: excelente, rico, abundante, fértil, fecundo. De lambuja: “Despojos opimos, entre os romanos, as armas do general inimigo, morto e despojado pela própria mão do general vencedor.”
Foi ali que, em 1991, candidatei-me, pela primeira vez, à imortalidade da AML, para a cadeira 29, patroneada por Filipe Franco de Sá e fundada pelo Mestre Ruben Almeida, e na sucessão do jornalista Viegas Netto. Foi a personalização dos ossos do ofício: Com apoio de Buzar, alcancei 16 votos, no primeiro escrutínio, e perdi, no segundo, para Francisco Marialva Mont´Alverne Frota.. Eu fui revisor do livro de Francisco Marialva, Entre o Timbira e o Pastor Serrano, fazendo serão para dar conta do recado com os colegas impressores, e estava com três livros, dois de crônicas, premiados em concurso literário, e Uma Canção Para a Madre de Deus (poemas), desde os anos 80. Ali, eu prometi com meus botões que capricharia mais na Literatura, na crença de que, já ouvida a lição do inesquecível jornalista, cronista e contista Ubiratan Teixeira: “A Academia não faz nenhum de nós, nós é que a fazemos!”
Não faltou Sálvio Dino na Revisão Literária do Sioge — Com o sentido falecimento de Sálvio Dino, na segunda-feira última, rememorei que ele fora muito realçado, no áureo tempo do Sioge. Buzar personalizava o jornalismo, literatura e política, enquanto eu, que quase batia sino e acompanhava a procissão, na Revisão Literária do Sioge, fui me abastecendo da perfomance daquele, por seu parceiro de idealismo político, religiosamente, na disseminação do período de exceção e de obscurantismo, em nossas plagas, e não só falava como escrevia no jornal O Estado do Maranhão, dando para a minha gravação até hoje: “Em 1954, ainda jovem, elegeu-se vereador de São Luís, reelegendo-se em 1958, para em seguida, em 1962, ganhar nas urnas o mandato de deputado estadual. Na Assembleia Legislativa, notabilizou-se pelas ações como opositor implacável do governador Newton Bello”. Como era de esperar-se (onde sofremos perseguição, sem quê nem pra quê, a mim, só por causa de algumas palavras contumazes e ácidas, nunca mentirosas, nesta Coluna), o nosso herói pagou preço alto por suas posições políticas e ideológicas: na caça às bruxas, que perpetrou contra políticos democratas e de esquerda, a ditadura militar, malnascida do Golpe de 1964, ocasionou a cassação do mandato de Sálvio Dino, e, porque não era de perder a viagem, no plano estadual, alcançou também o jovem deputado Benedito Buzar, e na esfera federal os parlamentares acesos, Neiva Moreira e Cid Carvalho. Ficou conhecida sua via-crúcis, no período de chumbo: enfrentou inquérito, interrogatórios, sofreu ameaças, e se manteve de pé. Reza sua biografia: “Retornou ao bom combate pelo voto em 1974, elegendo-se deputado estadual pela Arena – partido que abandonou em 1980 para se filiar ao PP, fundado por Tancredo Neves -, equilibrando-se numa linha de ação independente, ainda que no campo liderado por José Sarney”. Depois, ficou mais do conhecimento público: foi prefeito de João Lisboa (1989- 1993 e 1997-2001), “onde realizou gestão elogiada por aliados e adversários!”
O necrológio do Governador Flávio Dino ao pai — Eis a mensagem em que Flávio Dino comunicou a morte do pai: “Partiu ontem, em São Luís, aos 88 anos, vitimado pelo novo coronavírus, o advogado, jornalista, escritor e político Sálvio Dino, encerrando uma das mais ricas biografias entre os expoentes da geração de líderes maranhenses que enfrentou o vitorinismo e fez frente à ditadura militar. Ele amargou cassação de mandato, não se acanhou com o banimento da política, atuou pela volta da democracia, cumpriu vários mandatos parlamentares e foi prefeito, sempre com lealdade às regras do estado democrático de direito e da ética na política. Paralelamente, desenvolveu intensa e densa atividade profissional, intelectual e literária, que o imortalizou na cadeira 32 da Academia Maranhense de Letras. Sálvio Dino foi alcançado pelo novo coronavírus há alguns dias, procurou ajuda médica em Imperatriz, teve seu estado de saúde agravado, foi transferido para São Luís, mas não resistiu ao desgaste implacável imposto pela Covid-19, falecendo no Hospital Carlos Macieira, na manhã dessa segunda-feira. Sálvio Dino deixou quatro filhos: Nicolao Dino (procurador da República), Flávio Dino (ex-juiz federal e atual governador do Maranhão) e Sávio Dino (advogado), do primeiro casamento com Maria Rita Dino, e Saulo Dino (empresário), do segundo casamento, com Iolete Dino.”
Antecessores de Sálvio Dino, na AML, foram editados do Sioge — Félix Aires e Raymundo Carvalho Guimarães vieram logo à minha reminiscência, como editados do Sioge, sob a minha Revisão, quando opimo surgiu nas conversa literárias dos nossos autores, que se reluziriam em nossa constelação, quanto os, mais recentemente, saudosos Mílson Coutinho e Waldemiro Viana, que já possuem pretendentes às suas vagas, na Academia Maranhense Letras, com os poetas e prosadores de grandeza cultural opima e que darão a luminosidade necessária à Casa de Antônio Lobo: Fernando Braga e Rossini Corrêa.
Sálvio Dino, um nome opimo a ser sucedido – Já sei que, dando a lume o interesse da minha candidatura, para a sucessão do pranteado jornalista, político e intelectual conterrâneo, terei que falar em excelente, rico, abundante, fértil, fecundo! Já estou, sem sombra de dúvida, num bom começo!