Ainda como pesca de arrastão, sem escapar arraia-miúda, após alumiar as pendências, na queimação das pestanas, a sustentação em Meus Brilhantes no Tempo de Cada Um (São Luís em Verso, Prosa e Quatrocentona), um dos meus oito livros inéditos, de que a França fundou São Luís, e Portugal ficou a ver navios, e Atenas Brasileira foi honra ao mérito dum Grupo Maranhense, consoante seu maior estudioso, o paraense José Veríssimo. Permanece, na ressalva, contestação sobre uma façanha francesa, mas que se fragiliza pela própria substância de análise, passando a teima para o contrassenso.
Nossa plêiade no alicerce da Academia Brasileira de Letras — Porque se pretendesse incensar a participação de uma nossa plêiade, no alicerce patronal da Academia Brasileira de Letras (ABL), a Casa de Machado de Assis, fundada em 1898, no Rio, e da qual considerado o principal idealizador, Veríssimo flagra, em seu arrazoado, o surgimento desde 1825 como publicistas, à frente de jornais, de dois daqueles do fenômeno intelectual —Odorico Mendes e Sotero dos Reis—, que João Lisboa é jornalista desde 1832, e que, com a Revista, dada à luz em 1840, o segundo introduziu o jornalismo literário na província: ”O jornalismo destes homens de letras, talvez neles deslocado, era doutrinal, de alto tom e boa língua”. Em prosseguimento, o estudioso da bibliografia nacional, rende-se, de caso-pensado, à produzida no Maranhão: “Quaisquer que tenham sido suas determinantes, já existia na época da Independência o gosto literário no Maranhão. Prova-o o apuro com que ali se estudava e escrevia a língua nacional em contraste com o desleixo com que era tratada no resto do Brasil e parte que ali se dava no mesmo jornalismo político à literatura.” Para Veríssimo, paraense da gema, a certa altura da sua viagem pelo universo da nossa inteligência, naquele quartel do séc. 19, “Não é menor testemunho deste pendor maranhense, a possibilidade ali de livros, como os de Sotero dos Reis, e de publicações, como o Jornal de Timon” (de João Lisboa), e aí se surpreende mais que o previsto: “Neste ambiente literário, por qualquer motivo que nos escapa, apareceu a bela progênie de jornalistas, poetas, historiadores, críticos, eruditos, sabedores que desde o momento da Independência até os anos de 1860, isto é, durante cerca de quarenta, ilustraram o Maranhão e mereceram a alcunha gloriosa de Atenas Brasileira.”
Luz sobre a França Equinocial— A chamada França Equinocial (1612-1615) se caracterizou pela tentativa de instauração de uma colônia francesa na parte norte dos territórios portugueses na América. Neste período, fundaram o Forte de São Luís, o qual originou São Luís, Capital do Maranhão. Esta foi a segunda tentativa francesa de estabelecer uma colonização no país. A primeira delas (França Antártica–1555-1565]) ocorreu na Baía da Guanabara (Rio de Janeiro). Os principais objetivos dos franceses eram fortalecer as relações comerciais com os indígenas e conquistar territórios no Novo Mundo.
O gargalo da dificuldade dos portugueses — No contexto em que os franceses se apossam daquela região, esta não passava de uma possessão registrada nos mapas luso-espanhóis e fundamentado no Tratado de Tordesilhas (1494). A maioria das Capitanias Hereditárias (1534) havia fracassado pouco tempo depois de seus estabelecimentos. O Governo Geral, instaurado nos idos de 1549, não dava conta da administração daquelas regiões. O Norte era tido como verdadeiro sertão (lugar longínquo), onde diferentes nações europeias e indígenas empreendiam trocas comerciais em larga escala.
Os franceses eram chegados dos indígenas — Dadas as dificuldades de acesso luso e facilidade de comércio com os indígenas, os franceses empreenderam o estabelecimento colonial e a posse dos territórios indígenas no Maranhão. Com o patrocínio da Coroa Francesa, Daniel de La Touche e François de Razzille fundaram a França Equinocial. As trocas voluntárias, que já se processavam há mais de um século com os nativos, intensificaram-se.
A Fundação de São Luís pelos franceses — A historiadora Ana Luiza Ferro vai direto ao ponto: Considerações iniciais — São Luís, segundo evidenciam plenamente as fontes históricas, foi fundada pelos franceses Daniel de La Touche, idealizador da França Equinocial, e François de Razilly, autêntico “senhor da colônia” (PROVENÇAL, 2012, p. 68), em 1612. A concepção de que os lusitanos, especificamente por meio de Jerônimo de Albuquerque, foram os fundadores da cidade de São Luís reflete um mito de origem, construído por uma historiografia, alimentada por relatórios, cartas e outros documentos da época colonial, repercutindo, após a expulsão dos gauleses, as posições, interesses e preocupações das elites políticas ibéricas (da metrópole) e dos segmentos sociais que as representavam ou as apoiavam no Maranhão, para os quais era necessário eliminar os traços da ocupação francesa promovida pelas letras e pelas armas na Ilha de São Luís de 1612 a 1615 e, simultaneamente, atribuir-lhe a pecha de invasão realizada por hereges (protestantes), em conflito com a vontade divina. (Mais trechos do artigo na próxima edição)
É muita coça para um só socó coçar! – “São Luís foi fundada com este nome, em homenagem a Luís XIII e não Luís IX!”. Com erro de pontuação e de História, assim está correndo nas redes sociais. Foi com o nome de Luís IX, Rei de França, que era santo! A ignorância está querendo vencer até na Fundação de São Luís. E, salvo melhor juízo, o Sotaque da Ilha está ficando mais sozinho nesta peleja!