Reprise, por exigência da veracidade: Em primeiro lugar, aviso ao detrator anônimo, que não sabe da missa do Lava-Bois, em São José de Ribamar, um terço, e que assanhou a passarinha para o desacerto de que pandeiro de fibra sintética, no Boi da Maioba, é por que junho é chuvoso, e aquecer o instrumento na fogueira ficou dificultoso, que perdeu boa oportunidade de ficar calado, pois, desde que puseram o couro animal no pandeiro, no século 19, os junhos do Bonito de se Ver ficaram mais luzeiros e sonoros, e que nem o Boi do Cu Pelado (aquele sem guarda-roupa, enfeites e guarnição de peso), o achincalhado Espalha-Merda, não brinca debaixo de aguaceiro. Não foi pior, pois o dito cujo se mancou na bestice de que, na Roseira da Maioba, a mudança para o pandeiro de náilon (ruim de som, já reprovado por músicos indígenas) seria por que evitaria a extinção de cabras e bodes que fornecem a matéria-prima da zoada mais grave e vibrante, pois a pele natural é muito agradável de tocar, quer pelo ressalto acrescido da pele, quer pelo efeito de surdo que permite, devido à reverberação.
Falar em Lava-Bois, desde o seu surgimento, temos que, forçosamente, evidenciar a presença de Silvestre (Batista) Botão, no tempo das vacas gordas, quando ele, sozinho, valeu um “órgão” cultural, no primeiro domingo de julho, em essência. Não foi por coisa de somenos relevância que, no seu passamento, em 18.12.2010 (num sábado), publiquei, no Jornal Pequeno, a sua benquerença pela nossa tradição cultural de que tinha dele mais apreciação: O Bonito de se Ver de matraca.
Um necrológio alteroso — Foi no dia 21.12.2010 que redigir a manchete Povo dá Adeus a Silvestre Botão, o “Órgão” Cultural dos Bois de São Luís, Ribamar e Paço do Lumiar, com o texto coerente: O ex-vereador e marchante de São José de Ribamar, Silvestre (Batista) Botão, pai de filhos aos botões, entrou, ontem, para a cultura da tradição oral do Maranhão: Falecido na manhã de sábado passado (18.12.), aos 70 anos, no Hospital do Ipem, vítima de um diabetes que lhe ocasionou a falência múltipla dos órgãos, mereceu dos seus conterrâneos, em sua residência, um dos mais prestigiados velórios dos últimos tempos, e de participantes, em seu sepultamento.
O vaivém dos agradecidos— Assim que a família noticiou o seu passamento, começaram as centenas de visitas à sua casa, na Rua da Liberdade, 597, desde a manhã de anteontem, numa “sentinela” enobrecida também por seus ex-colegas de parlamento, como o vereador e ex-vice prefeito Antônio Augusto, ex-vereador Mazinho, e o ex-vereador e secretário municipal da Cultura, João Damásio Pinheiro, o Garrafinha, vereador Artuzinho, e a lembrança de passagens interessantes que fizeram de Silvestre Botão, quanto ele ficou mais conhecido, na política e na Cultura Popular, uma figura pública elogiada, por suas ações de solidariedade, e criticada, por rompantes intransigentes. Os prós pesaram mais que os contra, na conta de uma pessoa mão-aberta em auxílio aos mais necessitados que lhes chegasse aos ouvidos e ele pudesse ajudar, inclusive, financeiramente, e a inclinação para fortalecer a Cultura Popular, principalmente, a dos bumba-bois de matraca, havendo ele nascido no povoado Cururuca, em Paço do Lumiar, berço de um dos batalhões pesados: O de Iguaíba.
Elogios de João Chiador e de Ivan Miranda — Como seria esperado, entre uma multidão que levou o caixão de Silvestre Botão ao cemitério, na Av. Gonçalves Dias (Rua Grande), estavam dirigentes e brincantes de bois de matraca, como os cantadores João Chiador (do Outeiro-Ribamar) e Ivan Miranda (amo do guarnecido e gracioso Boi do Cu-Pelado). No cortejo fúnebre, parentes e amigos de longas datas fizeram uma das mais emocionantes homenagens prestadas a um dos maiores colaboradores da comunidade e dos grupos joaninos indígenas, nos últimos anos. “Ele fez muitas coisas boas, para não ser esquecido quanto homem público”!— disse Ivan Miranda.”Foi um dos maiores ajudantes dos nossos bois, e mais depois que foi vereador do município” !— lembrou João Chiador, ali, com 73 anos, tirado por Silvestre do Boi da Maioba para o de Ribamar, em 1991, numa transação que rendeu durante anos rusgas com a rapaziada maiobeira, que ascendeu Chagas seu principal cantador e com sucesso imediato.
Canetada na Câmara — Após o enterro do corpo do reverenciado, bastante aplaudido, não faltaram na Praça Nicolau Sodré, a Praça da Tesoura, reminiscências sobre a personalidade de Silvestre Botão. Dentre elas, o episódio de quando vereador e viu que não havia caneta na Câmara, e por isso não titubeou na compra imediata de caixa do material para a devida distribuição aos seus colegas e aos funcionários. “Ele era assim mesmo, irredutível, certas horas, e bom de coração, tanto que adiamos de hoje para o próximo domingo o jogo de futebol que programamos entre os times amadores Gonçalves Dias e Guarany”! – revelou José de Ribamar Dias Filho, o Mijão, cartola do Gonçalves Dias, que paga as cervejas para si e os atletas, após o compromisso!
O criador do Lava-Bois — Sentindo que fraquejava a presença dos batalhões de matraca, no primeiro domingo de julho, em Ribamar, em 1988, nem pestanejou: Inaugurou um arraial defronte da sua casa e contratou todos os brinquedos de matraca, pagando a chamada do seu próprio bolso, depois de cada exibição: Madre de Deus, Ribamar, Maracanã, Matinha, Iguaíba, Juçatuba, Pindoba, Maioba, Sítio do Apicum, etc.
Ele foi o cara para ajudar! — Foi assim durante sua vereança, já que a Municipalidade não incentivava “o capim” dos bois, no Lava-Bois, às voltas com despesas para a locomoção, e Silvestre pagava o cachê. Quando os bumba saíam do seu arraial, e iam medir forças no Lava-Bois, na Rua Grande, ele andava atrás deles, com bebidas, para os brincantes, e vinho e água mineral, para as índias e mutucas. Falo de cadeira, pois, a meu pedido, Silvestre bancou a Morte do Boi da Madre de Deus, em termos de carne de boi e mocotó, num tempo difícil, no começo da década de 1990, em que o secular touro se valia de São João e do meu prestígio na praça!
Lembretes ao prefeito Julinho Matos e ao meu afilhado Ribinha Jacaré — Dr. Julinho: O Lava-Bois de Ribamar poderá ser um dos chamarizes para um turismo mais intenso, com massificação no Sudeste, e o Lava-Pratos será melhor com a permanência da sua originalidade. Ribinha Jacaré, hora de guarnecer a memória dos criadores do Boi do Outeiro! (Fecho da dissertação cultural, com elucidações, na próxima edição)