Humberto de Maracanã, um dos criadores da passagem dos bois de matraca, em 1972, testemunhado por Mané Onça, da Madre de Deus, e Adalberto Cantador, então garoto, há 48 anos, no Boi da Maioba – Fotos: Reprodução da Internet
No auge da festança junina, a Grande Ilha (São Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa) seria sacudida por cordões de bumba-bois de matraca, em maioria, que ajudariam a fazer as noites mais brilhantes, e hoje a aproximação de São Pedro (29 de junho) e São Marçal(30) motivou preocupação, com o anúncio da reabertura de bares depois de meses, sinalizando perigo para a observação de jornalistas, folcloristas, professores, notadamente. Essa possibilidade, que poderia ser trágica, forçou o jornalista e professor do Curso de Comunicação da UFMA, Euclides Moreira Neto, ao artigo, nas redes sociais, com essa ameaça mortal. Enfatizou: “Com a liberação de parte do comércio local, o que verificamos? A população saiu descontroladamente para as ruas e o risco de contaminação deverá ser alastrado, aumentando o sofrimento de centenas ou milhares de pessoas. Espero que esse meu olhar catastrófico não se confirme!”
O que mais houve, no dia 30 de junho, foi uma carreata de São Marçal, no João Paulo, e uma bruta faixa na avenida, charlando que o evento fez 94 anos. Correram risco a saúde dos boieiros mais impulsivos e a verdade do tempo exato da passagem dos bois de matraca, ali.
A cronologia das aparições dos bois onde nunca foram vistos: Encetei a contestação abalizada, e inconformados juraram, sem fundamentação científica, que o São Marçal com os bois da Ilha foi iniciado no João Paulo, em 1928, pois não podiam passar para o Centro. Assinalei que os conjuntos de matraca não eram vistos na passagem pela Av. João Pessoa, antes de 1972, e ousaram publicar que “desfilavam” ano, no Monte Castelo, ano, no Bairro de Fátima. Durmam com um ruído desse!
O lendário Luís Gonzaga Danavó! — Adalberto Cantador, ao telefone, na manhã de ontem, diretamente do seu sítio em Itapera do Maracanã, refrorçou sua badalação aos famosos amos do Boi da Madre de Deus, antes dizendo que, no começo mesmo do concurso de toadas, era o lendário Luís Gonzaga Danavó, do Boi da Maioba, antes de ser sucedido por João Chiador, que reinava para o Major Pereira, diga-se de passagem, oficial do exército mais celebrizado por sua truculência consabida na Cidade. “Só davam Mané Onça e Vavá!” – “Os concursos de toada da Voz Diacuí, eram vencidos pelo Boi da Madre Deus, com Mané Onça e Vavá, na Praça São Roque!” — recordou o cantador Adalberto, ali, garoto, acompanhando seu padrinho de batismo, o saudoso Cel. Bebeto, no Boi da Maioba, e já amo do Boi de Itapera de Maracanã, além de um dos baluartes da Fefcema (Federação das Entidades Folclóricas do Estado do Maranhão). Cantei para ele, uma de Vavá (Wandeley Pena, o chamado o Poeta da Ilha): “Maioba e Maracanã fizeram seleção pra querer me ganhar! Estou só, com o meu batalhão, e a mesa julgadora é que vai julgar”! Outra de Mané Onça: “Guerreiro da Madre Deus é um batalhão pesado e quem comanda ele sou eu! Puxei a lira, eu vou chamar pra guarnecer e a turma da pesada vai fazer terra tremer!”
“Quem te mandou alemão tu te meter com os brasileiro?!” – Houve um tempo, inclusive, que o João Paulo era um Paralelo 38 (alusão à Guerra da Coréia, na península asiática/1950-3), em que bois da Ilha não passavam, realmente, por causa dos encontros violentos e licença cassada pela polícia, na 2.a Guerra Mundial. Daí por que o receio do cantador Paulino, do Boi da Pindoba, no São João de 1945, mesmo com o recente armistício, quando foi convocado pelo comandante do 24.o BC, episódio que eu soube ouvindo o veterano boieiro Severiano Caboclo, maiobeiro, há muitos anos, na Madre de Deus e dirigente do nosso batalhão: Era para ele cantar uma toada em que exaltava o Brasil no conflito, quando os bois introduziram, nos versos, batalhão, trincheira, canhão, bomba atômica, torpedo antiaéreo, rajada de metralhadora, etc.. Refeito do susto, Paulino velho-de-guerra mandou bala, puxando brasa só para a sardinha do Brasil: “O Brasil foi pras Oropas,/foi lutar no estrangeiro:/quem te mandou alemão/tu te meter com os brasileiro?!”
Agora, a toada seria outra! — Com os amos dos bois da Ilha mais letrados, ou com compositores especiais, dando de bandeja a toada para os pássaros gorjearem, versejariam que, em 25.11,1944, começava a mais importante incursão brasileira na 2.ª Guerra Mundial: a Batalha de Monte Castelo, no front italiano. Getúlio Vargas, após remanchar com suficiência, pois cochichavam que ele era simpático aos nazifascistas, assinou a portaria da criação da FEB (Força Expedicionária Brasileira), para representar o País no conflito.
A cobra está fumando! — A FEB contou com 25 mil homens, e tinha como símbolo uma cobra fumando um cachimbo – uma resposta a uma anedota popular da época, consoante a qual seria mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra.. O envio das nossas tropas foi estratégia dos Aliados para romper a chamada Linha Gótica, pontos estratégicos ocupados por forças nazifascistas no norte da Itália. Só a História para contestar Paulino velho-de-guerra — “Quem te mandou alemão tu te meter com os brasileiro?”, como o amo do Boi da Pindoba cantou, em 1945, no então 24.º BC, na verdade, contaria outros atores, assim: As primeiras ofensivas foram em dezembro daquele ano. O preparo dos exércitos do Eixo e o inverno europeu fizeram com que a FEB não tivesse êxito na missão. O cenário mudou em fevereiro de 1945. Com a ajuda de tropas de elite dos EUA, os nossos soldados cercaram o monte e emboscaram italianos e alemães. Com a base tomada, os Aliados puderam avançar até a cidade de Bolonha.
Foram heróis nossos também em Montese — Ao todo, 450 soldados brasileiros morreram nos três meses da Batalha de Monte Castelo, a nossa primeira vitória na 2.ª Grande Guerra. A segunda conquista aconteceu em abril de 1945, na Batalha de Montese, que também tinha como objetivo enfraquecer a Linha Gótica. Nesse combate, parte da ofensiva final dos Aliados na Itália, mais 420 soldados brasileiros pereceram.
“Para o Diabo que os carregue!” — Com todo este meu esforço de guerra, para quem cair na insistência de charlar que o São Marçal, no João Paulo, na passagem dos bumba-bois de matraca, ostenta 94 anos, não 48, como os maiores lecionam, não vou gastar o meu latim com “Vade retro, Satanás”! Irão mesmo para o português claro de “O Diabo que os carregue”! E para o governo deles, estou melhor em toada de pique e samba-enredo!