Em nosso calendário cultural estamos em pleno período do ritual do bumba meu boi, patrimônio imaterial brasileiro, se estivéssemos em tempo normal, ensaios seriam abertos logo depois da quaresma. Mas estamos durante a pandemia do coronavírus; a fogueira não está sendo acesa para afinar os tambores e pandeirões que costumavam ecoar pelos quatro cantos de nossa Ilha e em todo o Estado. O tempo de guarnicê é outro.
“As atividades estão paralisadas, o ensaio de abertura desta temporada foi intimista, apenas com cinco pessoas estiveram juntas na sede do boi para fazer a oração pedindo a permissão para São João; e os cantadores fizeram duas toadas do tempo”, disse a administradora e produtora cultural Talyene Melônio, herdeira do grupo de bumba-meu-boi da Floresta, sotaque da baixada, do saudoso Mestre Apolônio Melônio.
Essa realidade é tão igual ao que acontece com os demais grupos de nossas genuínas manifestações culturais, que movimenta a cadeia econômica e produtiva (de turismo, principalmente) durante as festas juninas.
Os ensaios técnicos não estão acontecendo. Dito nos versos de “Itamirim” do compositor rosariense Chico Saldanha “no mês de maio tá todo povo ensaiando, e desse jeito eu não vou ficar aqui, estrelas brilham no céu, igual os teus olhos brilhando pra mim…”. Agora, todo o calendário do Boi que constitui seu Batismo, Auto e Matança estão comprometidos. “Em relação ao calendário do Boi temos como obrigação fazer algo no sábado que antecede o dia de Santo Antonio (13 de junho) que seria, em ocasião normal, o ensaio redondo. Só teremos ladainha e a família vai cantar algumas toadas, não será aberto ao público, porque a gente não sabe como vai ser até lá. Depois disso, a próxima data importante é o Batizado, que, provavelmente, será restrito também”; contou Talyene.
Além de suas obrigações com o bumba-meu-boi, Talyene Melônio é uma das lideranças comunitárias que vem realizando um trabalho voluntário com a Central Única das Favelas através do projeto “Mães da Favela”, que contribui com mulheres ligadas ao Boi da Floresta, Boi da Liberdade e Povos do Terreiro, entidades culturais situadas no bairro da Liberdade.
Felizmente, até o momento não há nenhum caso de contaminação ou suspeita de coronavírus na família do Boi da Floresta (do saudoso Apolônio Melônio); entretanto, houve casos próximos, uns recuperados e outros não tiveram a mesma sorte. A Presidente do Boi, a turismóloga Nadir Olga é também costureira. Ela está produzindo máscaras. Inclusive, recebeu uma encomenda de 1.500 peças para confecção, contratada por um empresário que realizou a distribuição gratuita delas.
“Quanto às festas juninas, nós não temos esperança que aconteça no mês de junho. Mas o poder público e as secretarias de cultura sinalizaram que ainda vai ter festa este ano. Essa é a nossa expectativa. Até mesmo pra gente tentar superar as dores e as perdas desse período da quarentena”, conclui. E como diz um outro hino do nosso cancioneiro, uma composição de Gerude, Ronald Pinheiro e Omar Cutrim, Tempo de Guarnicê: O meu boi te espera pra brincar/ É tempo de guarnicê/ Que São João mandou chamar/ Mas se você não aparecer/ Eu vou levar meu batalhão/ Espero o ano que vem/ Essa toada de novo cantar”.
O Homem do Fim do Mundo
Fernanda Rafaela Silva Costa*
Fernanda Rafaela Silva Costa – Divulgação
O Homem do Fim do Mundo nasce sozinho e na realidade vive mais sozinho ainda, rodeado de rostos desconhecidos que fingem alguma intimidade. Na medida em que cresce, esse ser agrega a ele convivências. Não aceita sua condição fundamental de solitário e adota para si o estado essencial de coletividade. Não porque precise dividir, mas porque não suporta a ideia de admitir solidão. Evita ficar cara a cara com sua natureza de indivíduo.
A partir de então, vive uma vida de remendos. O rio de sua vida compõe-se de pedaços, de cacos, restos de outras vidas que em nada dependem da sua para significar. Sem dúvida, vive uma vida inteira a remendar-se, alinhavando-se com uma frágil linha do tempo, que ameaça romper-se a qualquer instante, ou no próximo rosto que encontrar.
Por várias vezes se sente vagar sem rumo ou na direção de um imenso nada, que parece estar disposto a engolir sua existência inteira. Leva uma vida onde não faz ideia para onde se dirija, portanto incapaz de trazer alguém consigo, incapaz de guiar alguém. Principalmente a ele mesmo. Talvez por isso, tenha chegado até aqui, ao Fim do Mundo. Neste lugar onde suas verdades nascem e são liquidadas como se não merecessem dignidade ou consideração.
Atormentado, abandona seu corpo e agora vive alheio a sua alma, em um encontro premeditado com suas dúvidas e escolhas irreais. Não sabe ao certo o que se tornou, ou o que está se tornando neste momento. Sente-se kaficanear a cada dia que seus olhos presenciam opacos a real inexistência do seu próprio ser, fingindo enxergar mentiras disfarçadas de verdades momentâneas.
Preso aqui, no Fim do Mundo, dentro desta escuridão que infelizmente clareia seus pensamentos, pode contar nos dedos de uma única mão as verdades que viveu. Achas que ele próprio é parte disto? Não. Sua vida é assim: como se outros passassem por ela e fincassem suas presenças lá, travando a sua história, impondo condições para que haja fluidez.
Ele se pergunta qual o sentido disto tudo. Por que viver neste lugar? Por que revê-lo tantas vezes enquanto existir? Quantas vezes mais serão necessárias para o cumprimento de sua sentença? Quantas vezes mais revisitará sua punição?
O Homem do Fim do Mundo não chora, nem lamenta. Não pode fazê-lo porque não conheceu nada diferente da dor. Não sabe o que significa perda porque nunca ganhou. Desconhece a escuridão, pois jamais esteve na luz.
O Homem do Fim do Mundo não é. Nunca foi! Findou-se antes mesmo de iniciar sua trajetória. Falhou como ser humano, como essência, como história. Há apenas para ele trapos a serem queimados para que nunca se esqueça do caminho por onde nunca mais deva andar.
*Atriz, formada em Teatro Licenciatura pela Universidade Federal do Maranhão, professora de Arte da rede de ensino do município de Magé- RJ.
CHECK IN:
*A BRK Ambiental, prestadora dos serviços de água e esgoto em Paço do Lumiar e São José de Ribamar lança o canal de atendimento via WhatsApp, pelo número (11) 99988-0001.
*A ferramenta tem como objetivo auxiliar os clientes na solução de dúvidas e na solicitação de diferentes serviços, como a emissão de segunda via de faturas e histórico de consumo.
*Além do atendimento via WhatsApp, a BRK Ambiental disponibiliza também o telefone 0800 771 0001, o site e o e-mail faleconoscoma@brkambiental.com.br que funcionam 24 horas. Em horário comercial, a concessionária conta também com a página no Facebook para atendimentos. Assim como no site, na rede social é possível solicitar a emissão de segunda via das faturas: basta digitar #2viabrk no chat e seguir as orientações.
*O Centro Cultural Vale Maranhão reabriu as inscrições para a Art 120″: Mostra de Videoarte, que exibirá vídeos experimentais e videoarte. Inicialmente pensada para o formato presencial, a mostra foi recriada para acontecer online durante a pandemia do coronavírus. As inscrições vão até o dia 20 de maio, para realizadores de todo o Brasil. As produções devem ter a duração máxima de 120 segundos (2 minutos) e a temática é livre.
*Serão selecionados 20 vídeos, que receberão prêmio de R$ 400,00 (quatrocentos reais). A cada semana, dois vídeos serão exibidos online e depois estarão por um período disponíveis no canal do CCVM no YouTube. A ação é um resultado do edital Pátio Aberto. Confira o regulamento no site www.ccv-ma.org.br. Informações: comunicacao@ccv-ma.org.br/ 98 98141 3859.
*Através do instagram @vanessaserrah e no facebook (@vanessaserra1974) estamos realizando lives com discotecagem 100% vinil às segundas, às 21h, “Segunda de Lei”, e as quartas, às 20h30, “Vinil & Poesia”. E às segundas-feiras, de 7h às 9h da manhã, realizamos a “Alvorada” com set 100% vinil e repertório repleto de samba, choro, samba-canção, bossa, moda de viola e bolero. Sejam bem-vindos!
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