A Batalha de Guaxenduba (uma das mais encarniçadas no período do Brasil Colônia, acontecida entre franceses e portugueses, no sítio de igual nome, no atual povoado de Santa Maria, município de Icatu-MA) completou 405 anos na terça-feira passada, e foi debatida, na tarde/noite desse dia, numa mesa-redonda e por um auditório atencioso, no Espaço Cultural AMEI, no São Luís Shopping. Sobre o assunto, expuseram seus conhecimentos: Euges Lima (pós-graduado lato sensu em Teoria e Metodologia para o Ensino da História da Uema, graduado em História/Uema, professor da rede pública estadual do Maranhão, historiador, vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão-IHGM, e membro do Instituto de Investigação Joaquim Veríssimo Serrão/Portugal) e Frans Cistelinck (graduado em Teologia, professor de Teologia e conservador de coleções antigas e preciosas da biblioteca da Faculdade de Teologia na Universidade de Lovaina. Foi professor da Uema e autor do livro 1612: A França Equinocial); e, como mediador, Paulo Matos: graduado em Administração de Empresa, membro da Academia Icatuense de Ciências, Letras e Artes (Ailca), presidente da Casa dos Açores do Maranhã, pesquisador e ex-professor da Uema, no Programa de Qualificação de Docentes(PQD).


Consoante Euges Lima, as forças portuguesas, comandadas pelo mameluco pernambucano Jerônimo de Albuquerque, mesmo mais debilitadas, acabaram derrotando o exército francês, sob a liderança de Daniel de la Touche, senhor de la Ravardière, por utilizarem um estilo de combate peculiar ao Brasil colonial, mesclando estratégias de guerra europeia com a nativa. “Ao contrário dos seus inimigos que, apesar de possuir um contingente de mais de dois mil Tupinambás e duzentos soldados franceses, usaram o estilo de tipicamente europeu das guerras dos Flandres”! — assinalou. Conforme ainda Eudes, “Os franceses sofreram uma baixa de entre 115 a 150 combatentes, muitos não soldados profissionais, ou seja, uma verdadeira carnificina, fora centenas de aliados indígenas que tombaram”! Euges Lima arrematou: “A Batalha de Guaxenduba, como relata Diogo de Campos Moreno, em sua Jornada do Maranhão, foi um verdadeiro inferno na praia, sobretudo para as tropas de la Ravardière!”
Frisando que a história poderia ser outra, se no comando dos expedicionários de França estivesse o almirante François de Razilly, àquela altura de volta a Paris, tentando trazer mais reforços, junto à regente Maria de Médici, em vão, contudo, Frans Cistelinck dissertou, em síntese, o conteúdo da sua portentosa obra 1612: A França Equinocial. A partir daí, com o debate aberto para o auditório, tomou a palavra o escritor, engenheiro-civil, artista plástico e marinheiro de muitas viagens Bento Moreira Lima, que apontou, entre as causas da derrota dos fundadores de São Luís, em Guaxenduba, o pouco conhecimento das marés, principalmente na adjacência da Praia de Santa Maria, em Icatu. Numa discussão de alto nível em que participaram integrantes da AIlca, qual o major do exército Reginaldo Lima (debatedor), mestres e estudantes universitários e de ensino médio, e (ouvinte) o professor, guia de Turismo e poliglota Simão Cirineu Ramos, a conferência histórica atingiu o seu auge, ainda com a presença do suplente de vereador(PTC) Vieira Lima, Cel. Furtado (da Academia de Ciências, Letras e Artes da PM), prof. Azullay (da União Brasileira de Escritores-UBE), e o pastor Luiz Porto, sócio correspondente da Ailca, que nem este repórter.
Maria de Médici na salvação da coroa — O ciclo de debates foi encerrado pelo repórter (jornalista, escritor e pesquisador), argumentando, ao microfone, à mesa e ao auditório, que sem Japi-Açu, o principal cacique dos Tupinambás, não haveria França Equinocial e, por conseguinte, a Fundação de São Luís, com a expedição francesa comandada por Daniel de la Touche, Senhor de la Ravardière, e François de Razilly, pois foi ele quem preferiu estes aos lusitanos. Salientou que a Batalha de Guaxenduba, em 19.11.1614, só foi vencida pelas forças lusas, quando a regente Maria de Médici, católica, deixou os expedicionários dela à própria sorte, sem enviar os reforços solicitados por Razilly, na corte, porque estava cuidando de safar-se contra adversários protestantes, ali, e assim, em 21 de novembro de 1615, casou Luís XIII, com apenas 14 anos, com a infanta Ana d´Áustria, filha do poderoso rei Felipe III de Espanha, e dava sua outra filha, Isabel de Bourbon, em casamento a Felipe IV de Espanha, irmão de Ana. Era o tiro de misericórdia no sonho de França Equinocial, com la Ravardière derrotado de regresso à sua pátria.
Do Cacique Japi-Açu à Mestra Rosa Mochel — Este repórter acrescentou, num tom eloquente e emocionado, no que foi bastante aplaudido: “Em represália, os tubarões (portugueses) perpetraram um verdadeiro genocídio nas vinte e sete aldeias de Upaon-Açu, com os sobreviventes Tupinambás fugindo para a selva. Japi-Açu só é recordado, graças à professora Rosa Mochel, secretária da Educação do Município, então, com nome de colégio no Anjo da Guarda, em 1970, e o também importante, em 1972, Centro de Artes Japi-Açu, no Diamante, na formação de profissionais de todas as classes em pintura, cerâmica, dentre outras atividades, sucateado, por ironia do destino, pelo Palácio de La Ravardière, com o prefeito atual, e Rosa Mochel não tem nome sequer no Parque da Juçara, cuja festa ela criou, há cinquenta anos, no Maracanã, com que peço ao IHGM, pelo professor Euges Lima, que providencie a justiça e honra ao mérito, a fim de que a guilhotina, inventada na Revolução Francesa, não faça estragos na memória maranhense, quanto nesta parte relevante do Brasil colonial, ao que parece, sobre que irei confirmar, se suprimida da sala de aula em nossos colégios!”
Texto: Herbert de Jesus Santos