Palestra do professor e escritor José Neres, membro da Academia Maranhense de Letras (AML), Conhecendo o Romance Janelas Fechadas de Josué Montello, às 17 h de segunda-feira passada, marcou a comemoração dos 40 anos da Casa de Cultura Josué Montello(CCJM), numa reunião muito prestigiada, no Auditório Viriato Correia, na Rua das Hortas, 327, Centro de São Luís. Na programação: Abertura da Exposição CCJM Fragmentos de 40 Anos de Fundação; lançamento da reedição de Janelas Fechadas; sarau com a cantora Clara Madeira; e homenagem a funcionários pela direção do órgão da Secretaria de Estado da Cultura (Secma), por seus trabalhos na extensão dos anos; e servido um “coffee-break”.


Ao abrir a mesa dos trabalhos, agradecendo a participação de todos, a diretora da CCJM, Joseane Souza, evocou que “No dia 23 de janeiro de 1983, a Casa de Cultura Josué Montello estava sendo inaugurada, com a presença dele, sua família, representantes dos poderes públicos, personalidades literárias, leitores e admiradores do autor. O Maranhão estava prestando uma homenagem ao escritor em vida, mas recebendo de presente um enorme legado dele que levou o nome do Estado para o Mundo. Sua primeira sede (1983 a 1989) funcionou em um sobrado no Ribeirão que foi adquirido no Governo de João Castelo e inaugurado no Governo de Ivar Saldanha, sob a gestão da querida escritora Arlete Nogueira Machado, à frente da Fundação da Cultura do Maranhão. Com o passar dos anos, o volume do acervo foi aumentando e com isso precisava de um espaço maior para abrigá-lo; foi então que em 1990 sua sede foi instalada neste casarão que foi adquirido pelo Governo do Estado. A data escolhida para a inauguração teve significado importante para o escritor: Estamos falando do aniversário de D. Yvone Montello, sua segunda esposa e grande responsável pela guarda do acervo que temos hoje, à qual temos eterna gratidão, e do escritor maranhense Viriato Correia, seu amigo que na época (1983) estaria completando 100 anos, hoje 140. Salve a memória dos dois!”


A palestra de José Neres — Após a mestra de cerimônia, Kedia Mara Brandão (servidora administrativa) anunciar a presença de personalidades que prestigiavam a data importante, foi chamado para a mesa o professor, autor e membro da AML, José Neres, para proferir a palestra sob o tema Conhecendo o Romance Janelas Fechadas de Josué Montello. Em linhas gerais, enfatizou que o romance por si só traz uma leitura agradável. No livro, é contada a estória de uma família simples: Benzinho, Juca e sua mãe, D. Binoca. A vida dos três muda quando Benzinho se envolve com um cara casado e acaba engravidando. Logo os três se mudam da Praça da Alegria, no Centro de São Luís, para o Anil (no subúrbio) a fim de que não sofressem com os comentários da vizinhança: Benzinho deixa o colégio de freiras e vai viver com a mãe e o irmão as dificuldades de uma maternidade concebida fora do casamento. Neres acentua que todo o enredo ocorre em torno da casa nova em que a família foi morar. Enquanto D. Binoca e Juca se concentram em seus afazeres diários, Benzinho decide enclausurar-se, sem contar o verdadeiro do nome do pai, que afirmou (fingiu!) voltar revê-la após a morte da sua esposa que estava enferma. No entanto, isto não aconteceu, e meses se passaram até nascimento da filha que se chamou Loló. Benzinho vivia reclusa à espera do pai de sua filha, olhava a movimentação da rua em frente à sua residência e, quando queria ficar sozinha, deixava as janelas fechadas. Fechá-las provavelmente poderia ter um significado expressivo para Josué Montello, que pretendeu fazer uma referência aos nossos comportamentos e características provincianos, à época. Dele lhe disse, mais prazeroso, o crítico Antônio Cândido: “Josué Montello tem a capacidade de caracterizar o personagem pelo exterior, ou seja, por aquele conjunto de atitudes que nos permitem conhecê-los do exterior. […] Estas qualidades –de descrição, de detalhe, de boa escrita de visão externa— é que me fazem crer na possibilidade de um forte escritor neorrealista”. Em outras palavras, Ler Josué Montello é ver o mundo real de fato pela literatura. Aí José Neres instigou a audiência sobre a leitura completa de Janelas Fechadas, e advertiu que não valia a pena lê-lo, pelo interesse de saber-se o final, pular as páginas. Para o repórter aqui, atencioso, foi mais uma abrangente aula sobre Janelas Fechadas.
Honra ao mérito — Em prosseguimento, houve a entrega de certificados e mimos a diversos membros do quadro da Casa de Cultura Josué Montello, na extensão das suas atividades meritórias. O fecho das celebrações ocorreu com um lauto “coffee-break”.


Presenças ilustres — Participaram da cerimônia alusiva aos 40 anos da Casa de Cultura Josué Montello, dentre outros nomes: Laura Amélia Damous (poetisa, representando o presidente da Academia Maranhense de Letras, Lourival Serejo), Mundinha Araújo (mestra e historiadora), Dino Cavalcante (mestre e doutor em Literatura da UFMA), Dilercy Adler (escritora e presidenta do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão-IHGM), Antônio Melo e Lourença Araújo (da Academia Luminense de Letras), Raimunda Frazão (cordelista), Jucey Santana (escritora e presidenta da Academia Ludovicense de Letras), Inaldo Lisboa (professor e da Academia de Ciência, Letras e Artes de Itapecuru-Mirim), Aline Nascimento (bibliotecária e diretora da Biblioteca Pública Benedito Leite), Iramir Araújo (historiador, mestre em História Social pela UFMA, escritor, roteirista e editor), e Herbert de Jesus Santos (jornalista, poeta, prosador, compositor, folclorista e coeditor).


A Casa memorial – A instituição conta com um dos mais ricos acervos em Literatura, Artes, Ciências Sociais, História, Geografia, além de preservar e divulgar a obra do escritor maranhense Josué Montello, seu idealizador. A sua biblioteca possui mais de 60 mil títulos, a maior parte doados pelo romancista, além de suas fotografias e objetos pessoais.
Texto: Herbert de Jesus Santos

