A ampliação da estrutura viária e de transporte de São Luís deve estar associadas às vocações de desenvolvimento econômico, e também às potencialidades culturais e ambientais, como o turismo e a movimentação portuária. O turismo em todo o mundo requer, entre, entre outras exigências, sistemas viários e de transportes capazes de atender locomoção fácil, rápida e cômoda de pessoas e cargas, e ao mesmo tempo proporcionar aos usuários interessantes e agradáveis paisagens ao longo dos caminhos percorridos.
Neste sentido, vale destacar a importância do acervo ambiental e do patrimônio cultural de São Luís. A Ponta D’ Areia, o Rio Bacanga, a Lagoa da Jansen, a orla marítima e o Centro Histórico poderiam ser contemplados por meios de transportes criativos e exclusivos, envolvendo pontes, túneis, elevados, vias de pedestres, sistemas de integração apropriados para veículos multimodais. Paralelo a isto, é importante atentar para as deficiências sociais de uma cidade com a maioria da população com renda de no máximo um salário mínimo e que igualmente precisa de meios de locomoção seguros, rápidos, confortáveis, e, principalmente baratos. Regiões adensadas, de infra-estrutura deficiente e ocupadas por populações com baixo poder aquisitivo precisam de meios dignos de transportes e devem estar integradas aos diversos pontos e áreas de São Luís. Dessa forma, tanto os bairros próximos aos centro como, a Vila Palmeira, Camboa e Liberdade, e outros mais distantes como Cidade Operária, São Raimundo e Maracujá devem ser alvo de um programa de ampliação viária e de transportes.
A esse respeito, defende que a proposta deve incluir uma via Perimetral, vias Marginais, vias Verdes e vias de Ligação. A Perimetral envolveria o entorno do espaço urbano da cidade, passando pelo Itaqui, Vila Maranhão, Sacavém, São Cristóvão, Distrito Industrial, Cidade Operária, Forquilha, Cohatrac e até o Araçagy. As Vias marginais seguiriam o trajeto do Rio Anil. Estendidas as Verdes – Anel da Lagoa da Jansen, Sítio do Tamanção, Avenida Litorânea e Sítio do Físico, e as Vias de Ligação aproximariam bairros como São Francisco, Renascença, Ponta d’areia e outros. Além disso, seria necessária a integração entre as grandes avenidas e eixos, como Centro – Itaqui; Centro-Cohab/Anil; Centro – São Cristóvão, além do Anel Viário.
Esses grandes eixos somados ao Anel Viário no Centro devem ser considerados prioridades no investimento do transporte público exatamente porque atravessam bairros grandes e populosos, e integram regiões urbanas distantes entre si e estas ao centro, formando um conjunto de artérias estruturais. Assim, devem ser ampliadas e adaptadas em elementos troncais urbanos e funcionarem como corredores de um sistema de transporte modernos com a implantação de faixas centrais exclusivas pra veículos coletivos como ônibus articulados, trolebus ou, até mesmo, bondes.
O sistema de transporte sobre trilhos permite grande absorção de passageiros, rapidez e ótimo conforto. Os bondes modernos e metrôs leves, por exemplo, apresentam baixo nível de ruídos, fácil acesso aos usuários e os menores índices de acidentes entre todos os meios de transportes coletivos e, conseqüentemente conquistaram enorme aceitação em países europeus. Por outro lado, os trolebus e os ônibus articulados, também largamente usados na Europa e em algumas cidades de países em desenvolvimento, permitem relação eficiente de custo/benefício, devido ao fato de exigirem investimento relativamente baixo em infra-estrutura. Além disso, adaptam-se facilmente a qualquer contexto urbano e facilitam a valorização urbana e imobiliária das cidades. A eficiência de ambos os casos depende da capacidade de promover integrações físicas, operacionais e tarifárias eficiente e baratas. E, para isso, os requisitos básicos são a correta definição dos eixos troncais e adequada localização de terminais e pontos de integração, geralmente próximos a cruzamentos destes eixos e em regiões de grande circulação de usuários.
Um sistema de transporte eficiente para São Luís deve ainda considerar alternativas para as regiões central e costeira, já que estas representam e resumem a essência cultural e ambiental da cidade. O litoral apresenta e resume a essência cultural e ambiental da cidade. O litoral apresenta facilidade de transporte e concentra maior volume de investimentos públicos e privados. O centro, com características culturais e arquitetônicas de reconhecimento internacional, possue complexidade de transportes peculiares a sítios históricos. Desta maneira, a integração destas áreas deve ocorrer através de soluções que venham a valorizar a paisagem urbana e o potencial turístico da cidade.
A solução seria, por exemplo, uma nova ponte sobre o Rio Anil entre a Avenida Litorânea, na área da Ilhinha no bairro do São Francisco, e o Anel Viário, na área do aterro do Bacanga, o Centro Histórico. A ponte poderá permitir a implantação de um sistema de transporte moderno empregando, por exemplo, um mega-onibus (trolebus ou articulado), ou até mesmo o bonde, que além de circular pelos bairros próximos às praias, pelos grandes eixos e pelo centro, poderá também utilizar o Terminal da Integração existente no aterro do Bacanga para associar-se a outros meios de transportes. A ponte seria não apenas um lamento físico no cenário urbano, mas um instrumento de integração geográfica e econômica e de enriquecimento ambiental, cultural e paisagístico da cidade. Assim,seria mais que apenas um facilitador de transporte, mas também um fator de valorização cultural turístico de São Luís.
Finalmente, cabe salientar que esse conjunto de medidas deve estar relacionado à superações de outras deficiências urbanas e sociais, como os grandes vazios urbanos da cidade; a carência habitacional; a falta de equipamentos para o lazer, a saúde e a educação; a escassez de parques, jardins e áreas verdes – para que assim um sistema de transporte moderno seja realmente assimilado como parte de um amplo programa de desenvolvimento integrado para São Luís.
Gustavo Martins Marques
Arquiteto, Mestre em Planejamento Urbano e Doutor em Urbanismo