Como comunicar destinos turísticos ameaçados por enchentes, incêndios ou calor extremo — sem afastar o turista, mas convidando à escuta e ao pertencimento? A jornalista socioambiental, pesquisadora e presidente do Instituto VerAmazônia, Mariluz Coelho responde a essa pergunta a partir das experiências acumuladas ao longo de nove anos de pesquisa entre a Amazônia, Portugal e Espanha, sobre comunicação de riscos socioambientais, no contexto da crise climática.


A palestra aconteceu durante o II Congresso Nacional da FEBTUR (Federação Brasileira de Jornalistas e Comunicadores de Turismo), em Belém. O evento reuniu mais de 150 profissionais da comunicação, do turismo, estudantes, pesquisadores e representantes de comunidades locais entre os dias 10 e 15 de junho, com o tema “Sustentabilidade também se faz com informação”.
Com mais de três décadas de atuação na comunicação socioambiental, Mariluz defende uma nova abordagem comunicacional: “O risco não pode ser escondido, nem alarmado. Ele precisa ser compreendido como parte da vida nos territórios. Comunicar turismo, hoje, é também comunicar formas de viver”, defende.
A pesquisadora lembra que a crise climática já não é uma ameaça futura, mas uma realidade concreta que atinge comunidades, paisagens e viajantes. Ela cita exemplos como os incêndios em Portugal e Espanha, e as secas severas na Amazônia brasileira.
Durante suas exposições, Mariluz Coelho exibe imagens da pandemia que reforçam a capacidade de adaptação humana. “Quadrados na areia da praia em Gijón, na Espanha, e círculos no chão do Santuário de Fátima para manter o distanciamento entre as pessoas mostraram como o turismo encontrou formas de continuar, mesmo em tempos de desastre sanitário”, afirma jornalista que pesquisou os comportamentos e as percepções durante a pandemia, incluindo praias da Espanha e Portugal, durante o verão europeu.


Para Mariluz Coelho, muitos destinos, principalmente nas áreas costeiros no mundo todo estão ameaçados. Porém, assim como na pandemia, as adaptações neste novo normal do clima já estão acontecendo. Mas, a especialista afirma, que além dos investimentos em infraestrutura para mitigar os impactos das alterações climáticas, também há necessidade de comunicação especializada em riscos para envolver as pessoas, que é diferente da comunicação social instrumental.
“Na maioria dos países, os sistemas de governança de riscos e desastres ainda tratam a comunicação de risco como um instrumento a ser acionado apenas durante as crises. Esse é um equívoco. Muitas vidas poderiam ser salvas se a comunicação fosse integrada de forma contínua à governança, e não utilizada apenas em momentos críticos”, analisa
A solução, segundo a pesquisadora, passa por uma comunicação relacional: que envolva o turista, valorize os saberes locais e estimule práticas de cuidado. “Turismo é fazer parte. É respeitar a história do lugar, seus limites e sua beleza frágil”, conclui.
Edição: Gutemberg Bogéa