Falecidos no mesmo dia, na segunda-feira passada (16.3.), José de Ribamar Moraes, aos 68 anos, e Luiz Alves Ferreira, 75, tiveram a memória reverenciada pelo Governo do Estado (através da Secretaria da Cultura do Maranhão-Secma), com nota oficial em que lamenta a morte do funcionário público, e do médico e professor da UFMA. Lembrou que “Fotógrafo, pesquisador e gestor cultural, Moraes era servidor do Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho, e encontrava-se em processo de aposentadoria. Trabalhou ainda, durante muitos anos, na Secretaria de Cultura da Prefeitura de São Luís. Era apaixonado pela Cultura do Estado. Que seu legado continue ajudando a fortalecer o que nosso povo tem de mais caro, que é nossa Cultura Popular. O professor Luizão foi um dos fundadores do Centro de Cultura Negra do Maranhão e membro do Conselho Estadual de Igualdade Racial do Maranhão. Era médico formado pela UFMA, onde foi professor-mestre e desenvolveu pesquisas na área da saúde da população negra. Deixou um legado na defesa dos direitos da população negra e quilombola. Neste. momento de grande dor, a Secma manifesta pesar e deseja conforto espiritual aos familiares e amigos.”


Nota de pesar do prefeito — Ribamar Moraes recebeu necrológio, na Imprensa, do prefeito Edvaldo Holanda Júnior, de quem gozava de atenção e prestígio: “A Prefeitura de São Luís lamenta profundamente o falecimento de José de Ribamar Moraes, na madrugada desta segunda-feira (16), aos 68 anos, em decorrência de uma pneumonia. Moraes, como era conhecido por todos, exercia o cargo de coordenador de Eventos da Secretaria Municipal de Cultura de São Luís (Secult), tendo trabalhado no órgão por 24 anos. Ele era um apaixonado pela cultura maranhense e de São Luís, tendo contribuído de forma efetiva para o seu fortalecimento e engrandecimento. Na Secult, exerceu com dedicação e competência importante trabalho em prol das manifestações artísticas e folclóricas da cidade. O prefeito Edivaldo Holanda Júnior estende seus sentimentos aos familiares, amigos e conhecidos por essa perda irreparável. E informa ainda que o expediente do dia de hoje (16/3) está suspenso na secretaria.”


UFMA reverencia o Dr. Quilombola — Luiz Alves Ferreira, que foi docente do Departamento de Patologia da UFMA, fez honra ao mérito, na instituição: “É com profundo pesar que a Universidade Federal do Maranhão comunica o falecimento do professor aposentado do Departamento de Patologia Luiz Alves Ferreira, ocorrido nesta segunda-feira, 16. O professor Luizão, o Dr. Quilombola, como era, carinhosamente, conhecido, nasceu, em 1944, no povoado Saco das Almas, pertencente ao município de Brejo-MA. Formou-se em Medicina pela UFMA, com mestrado em Patologia, pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-SP. Foi secretário regional da SBPC em duas oportunidades, membro fundador do Centro de Cultura Negra (CCN) e da Academia Maranhense de Ciência. A Universidade se solidariza com familiares e amigos do docente, e presta seus votos de profundo pesar.”


“Perdemos dois ícones maranhenses: José Ribamar Moraes e Professor Luizão”. Procurado pelo JP Turismo, para emitir sua opinião sobre a vida e obra dos dois conterrâneos que nos deixaram há pouco, o jornalista, escritor, carnavalesco e mestre universitário Euclides Moreira Neto, sempre atencioso, foi salomônico: “Os campos da Cultura e dos Movimentos Sociais esta semana perderam as presenças marcantes do José Ribamar Moraes e do Professor Luiz Alves Ferreira (Luizão). Foram duas notícias que pegaram os integrantes desses campos de atuação de maneira inesperada, deixando parte de nossa cidade em luto, pois cada um tinha em sua biografia um caminho de luta para manter viva a chama de uma sociedade mais bem avaliada por seus seguidores. Conheci Moraes, nos idos da década de 1970, quando ele, fotógrafo, desenvolvia atividades junto ao Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho. De lá pra cá, ingressou em diversas atuações no meio cultural até adquirir o status de pessoa totalmente reconhecida pelos praticantes, gestores e apreciadores de nossa cultura. Já o Professor Luizão, além de médico, tem como marca maior sua atuação no meio social, especialmente junto às lutas dos movimentos pelas igualdades raciais. Com amplo trabalho em favor da construção identitária dos menos favorecidos, sobretudo ao movimento negro, era tido como símbolo de resistência e coerência, como foi louvado, no último carnaval, pelo Bloco Akomabu. Nosso reconhecimento a ambos e a torcida para que seus familiares e amigos possam enfrentar esse momento de ruptura com resignação, força e fé. Euclides Moreira Neto – professor, mestre em Comunicação Social, e investigador do meio cultural ludovicense.”
Parceiro da Literatura Maranhense — Luiz Negão prestigiava também muito a Literatura Maranhense, qual, no ano passado, na Livraria da AMEI, no São Luís Shopping, abraçou este repórter e adquiriu um exemplar, na ocasião em que relancei Um Terço de Memória, Entre Anjo da Guarda e Capela de Onça, e os Heróis do Boi de Ouro (A História de Fato e de Direito do Bairro Anjo da Guarda).


O produtor do primeiro show de Cristóvão — Na tarde de quarta-feira, o folclorista Luzian Silva Fontes, um dos grandes do Boi da Mocidade de Rosário(de orquestra), não deixou Ribamar Moraes por menos: “Com seu olhar refinado de fotógrafo, viu, no couro do bumba-boi Mocidade de Rosário, a capa do nosso primeiro disco, em 1988. Produziu o primeiro show do inesquecível Cristóvāo, no Teatro Alcione Nazaré, acompanhado pelo Regional 310 da Madre Deus, com total apoio do poeta e compositor Jeovah França, ali diretor do Centro de Criatividade Odylo Costa, filho”. O repórter aqui sempre elogiou a resolução de Moraes, em 1997, em prol do Boi da Madre de Deus, que precisava de dois ônibus a mais, para levar o batalhão a Axixá, quando pagaria a visita do Boi de Chiquinho Naiva feita dias antes. Ele estava há pouco na então FUNC-hoje Secult(presidida pelo cantor e compositor Joãozinho Ribeiro), e, vendo-me agoniado, sem poder solucionar o impasse, telefonou para a diretora do departamento financeiro do órgão, a senhora Chicheak Reis, que alugou dois coletivos para aumentar o comboio e a nossa rapaziada viajar de tarde. Era manhã de sábado, dia de reunião, no Parque do Folclore da Vila Palmeira, entre dirigentes de bumba-bois de todos os sotaques, que, com honestidade, gerenciavam o espaço, em regime de comodato, no Governo Roseana Sarney.
O repórter, no CCN, sem reencontrar Luizão — Na noite de 23.1.2020 (uma terça-feira), no CCN-MA, nos Barés (João Paulo), o Bloco Afro Akomabu oficializou o tema com que, no carnaval, homenagearia Luiz Negão, que não pôde comparecer, ali. Em reunião, com sua filha, Luciana Ferreira, docente do Curso de Turismo e Hotelaria da UFMA, e lideranças do CCN, foi dito que o contributo dele, grande líder e referência no movimento negro nacional, seria retratado ainda nas vestimentas da agremiação. Estiveram no evento, brincantes de proa do bloco e militantes do CCN, como: Carlos Benedito (Carlão), Luís Guerreiro, Betinho Lima, Aírton Ferreira, e o cantor e compositor Paulinho Akomabu. Luizão, em Ribeirão Preto (SP), participou da criação do Movimento Negro Unificado (MNU). Em1978, voltou ao Maranhão, reencontrando, em São Luís, o amigo João Francisco, e conheceu Mundinha Araújo, quando, com outros ativistas, iniciaram a criação do CCN (em 19.9.1979), no Laborarte, com respaldo da Sociedade Maranhense dos Direitos Humanos. Este repórter, em O Imparcial, testemunhou a relevância.
“Parecia que estava se despedindo!” — Foi o dito, ao celular, na tarde de ontem, pelo compositor, cantor e agente cultural Gigi Moreira, ao remeter uma pose que clicou de nós dois (Moraes e eu), na Passarela do Samba, na noite de segunda-feira gorda, no penúltimo desfile das agremiações carnavalescas, onde um dia antes fora alvo de homenagem do Bloco da APAE (“hors concours”), com samba-tema de Ribão d´Oludô. “Betinho, parecia que ele estava se despedindo!”— Gigi Moreira frisou ao repórter. Por meu lado, fazia tempo que não ouvia dele o seu bordão, para falar da nossa luta pela Cultura Popular Maranhense, como na última vez, ali: “Poeta, estamos aqui pra isso!”
Texto: Herbert de Jesus Santos