Os finais de semana do mês de agosto até amanhã, sábado, dia 04/09 na maior metrópole da América Latina ficam ainda mais efervescentes e atraentes com uma das mais tradicionais festas do calendário religioso no país. O bairro do Bixiga, formado em sua origem por negros, nordestinos e por imigrantes italianos, comemora novamente este ano, após a pandemia, o seu tradicionalíssimo festejo de Nossa Senhora da Achiropita, em sua 96ª edição.


A reportagem do JP Turismo percorreu o bairro do Bixiga, e pôde ver de perto a fé, a devoção e a bela Capela construída a partir da chegada da imagem da Madona Achiropita, e que passou a ser Paróquia São José do Bixiga, em 1926, sendo hoje a Igreja Paróquia Nossa Senhora da Achiropita, padroeira do histórico bairro.


Um bairro no qual logo se percebe o forte apelo italiano, pelas inúmeras cantinas existentes no local, e que se tornou atrativo turístico e lugar de boêmia, haja vista as peculiaridades dos seus ainda resistentes casarios seculares, que são descaracterizados, como em todos os lugares, com as distorções arquitetônicas provocadas pelas construções verticais dos imensos arranha-céus nas principais capitais, sem a preocupação com a história dos patrimônios existentes no país.


Um local que ainda mantém um comércio bem característico de décadas passadas, com residências intactas, mantidas ainda das suas construções originais. Um bairro berço da cultura do samba e de uma das mais tradicionais agremiações carnavalescas de São Paulo, a Escola de Samba Vai-Vai, que ainda mantém suas tradições, como até hoje os seus ensaios nas ruas do bairro. Quem vive o mundo do samba, principalmente na boêmia paulistana conhece bem a história do bairro do Bixiga e a trajetória musical do lugar. Entre lembranças, está uma pérola dessa musicalidade brasileira escrita por Geraldo Filme, paulista de São João da Boa Vista/SP: “Quem nunca viu o samba amanhecer / Vai no Bexiga pra ver / Vai no Bexiga pra ver / O samba não levanta mais poeira / Asfalto hoje cobriu o nosso chão / Lembrança eu tenho da Saracura / Saudade tenho do nosso cordão”, na voz da inesquecível Beth Carvalho.




Assim é esse tradicional berço da boêmio, um pedaço de chão que flui energias positivas, com uma aura de passado memorável, onde tudo parece colaborar para a positividade. E com todo esse astral, o festejo de Nossa Senhora da Achiropita une o profano ao religioso, ganhando as ruas do Bixiga, onde milhares de pessoas percorrem seus espaços montados tipicamente para a padroeira do bairro, que durante um mês ganha os holofotes da mídia e a simpatia daqueles que visitam São Paulo na época.


Barracas com as mais diversas comidas típicas italianas são um convite a fugir da dieta sem receio, rodeado de típicos brinquedos (pula-pula, tiro ao alvo, roletas, chute a gol, pesca peixe, trutas, maçãs, uvas caramelizadas) que salientam a criançada. O aroma das massas: pizzas, fogazzas, polentas, macarronadas nos mais diferentes molhos se espalham pelo ar, o caminhar de pessoas nas ruas que circundam a igreja em meio as novenas, missas, bênçãos, coroação e procissão de Nossa Senhora (acontecida, no último domingo, 21/08), caracterizam a festa, transformando um ambiente em uma grande quermesse.


Doces típicos, sucos de uva, morango e o famoso vinho quente (para espantar o frio), também despertam o paladar dos que visitam a festa. A união da comunidade é perceptível em um só objetivo, o de homenagear a padroeira do Bixiga e manter entre todos o crescimento espiritual, dignificando fiéis através das obras de caridades e sociais.
Obras sociais


São 415 crianças carentes acolhidas, no Centro Educacional Dom Orione; um Espaço Social promovendo a assistência a 170 homens e mulheres em situação de rua; uma Creche como a Mãe Achiropita atendendo 200 crianças de 0 a 4 anos em tempo integral; casas como a Rainha da Paz que acolhe dependentes químicos; além de núcleos para idosos, alfabetização de adultos, dentre outros programas sociais.
Tradição e história
A musicalidade italiana ecoa por todos os lados, enquanto turistas e visitantes passeiam com familiares e amigos nas Ruas Dr. Luís Barreto, São Vicente e 13 de Maio. As belas canções tocadas nos serviços de som espalhados por entre as 30 barracas de vendas dos mais diversos produtos nos remetem aos mais diversos talentos da música italiana desde as décadas de 70, 80 e 90, como: Eros Ramazzotti, Peppino Di Capri, Pino Donaggio, Laura Pausini, Jovanotti, Luciano Pavarotti, Mina Mazzini, Andrea Bocelli, aos novos nomes também como: Luciano Ligabue, Cesare Cremonini,Trio II Volo, Nina Zilli, Annalisa, a banda Modà, Tiziano Ferro, dentre outros.


“A música que se escuta nesse ambiente, nos transporta para um outro momento da vida, são canções que marcaram época e que permanecem vivas na memória mesmo atravessando os tempos, ressaltou Diego Vitório, acreano, Técnico em Enfermagem, de passagem pela capital São Paulo.
Uma festa digna de uma cultura única, de um país europeu que mantém viva suas tradições e origens, em toda sua autenticidade, onde os números de participantes, atrações e de benefícios sociais serão certamente os maiores dos últimos anos, engradecendo ainda mais os porões do tempo como referência de tradições seculares que precisam serem mantidas para a posteridade.


Um bairro de meados do século XIX, espaço de aquilombamento, onde escravos fugindo dos açoites, criaram os primeiros Quilombos de São Paulo. Um Bixiga que permanece em sua maior parte da população habitado por negros e nordestinos, berço da liberdade, com casas de pensões criadas pelos imigrantes italianos. Uma caminhada pelas ruas é o bastante para se perceber a sua diversidade e multiplicidade cultural. Um Bixiga onde quem mora, segue com ele em si, onde quer que vá. E isso é possível se perceber em um simples contato com os moradores, seja na rua, seja na igreja ou seja no bar!
Serviço:
6ª Festa da Achiropita
Data: de 6 de agosto a 4 de setembro de 2022.
Horário: sábados, das 18h às 24h; domingos, das 17h30 às 22h30.
Local: Rua Dr. Luís Barreto, Rua São Vicente e Rua 13 de Maio – Bixiga
http://www.achiropita.org.br
Texto: Gutemberg Bogéa