Bom registrar que até a construção da estrada que liga o Maranhão a Parnaíba, no Piauí, todo fluxo de passageiros e cargas tinha como único escoadouro o velho rio, processo vivido, também, por tantas outras cidades Brasil afora; entretanto, sobretudo a parti de 1960, quando o governo, tocado por vários interesses, modifica o conceito de desenvolvimento e passa a priorizar o transporte rodoviário, decisão que fazia coro ao capital internacional que acabara de instalar entre nós suas plantas automotivas. Desequilibravam, assim, os mandatários, a favor das rodovias o desenvolvimento.
Confesso tudo singular, e a um só tempo diferente do já presenciado em outras plagas, não fosse o que me deixou boquiaberto e sobre o que passo a discorrer. Ao me dirigir à cidade velha em companhia de Sâmia Moreira, filha da cidade e candidata a prefeita nas eleições vindouras. Meu olhar é provocado por grandiosa construção, cerca de meio hectare, pintado em cores chamativas, tendo em seu frontispício um andaime indicando obras. Inquieto, como sou, perguntei: a quem pertence esta mansão? Odair que nos acompanhava respondeu: na volta encostamos e lhe mostro.
Ao voltarmos da beira do rio, os dois, cada um a seu tempo, passaram a contar que este casarão tinha pertencido a família Pedrosa, que por quase meio século dominou politicamente a região, somente a partir da morte do patriarca político a família se dispersou, tendo seus descendentes, negociado o imóvel com um filho da cidade, que hoje mora em nossa capital federal. Após a compra, mesmo não morando na cidade, demostra que não perdera o amor pela história e saga do povo Quiteriense, assim, estar as suas expensas, organizando uma espécie de museu da cidade. Resgatando fatos, feitos e imagens testemunhas deste tempo.
A propriedade, claro cheia de poeira, pela construção e pela falta de visitas, o que lhe daria funcionalidade, é composta de quatro módulos: sendo a casa principal de dois pavimentos e porão. Uma linda capela, com vistas para a entrada principal, que lamento, esqueci-me de perguntar, erigida em homenagem a qual divindade. Longo pavimento, com dois pisos, repletos de apartamentos para os hospedes. E finalmente casa de serviços e depósito. Os quatro módulos servem de cercadura para uma acolhedora praça de eventos repleta de flores e fruteiras, tendo um poço tipo cacimbão ao centro.
Mesmo não conhecendo, passei a ter imenso respeito e carinho pelo cidadão, Leonésio Garcia de Souza, que hoje residente em Brasília, tem a grandeza de edificar obra de tamanha importância e significação, algo que eu, viajante contumaz por todo maranhão não conheço, nem mesmo de ouvir dizer, a existência de maravilha de tamanho bom gosto e importância. Penso inclusive, não desejo ficar só, que devemos provocar o Governo do Estado, através da Secretaria de Estado da Cultura, claro, após ouvido o interesse do proprietário, a conhecer o projeto para um eventual convênio.
Existem, não falo do ponto de vista religioso, várias maneiras dos homens alcançarem a imortalidade: através de uma inteligência privilegiada. Por meio de suas obras, físicas ou próprias do intelecto. Por suas ações no desenrolar da história de determinada sociedade, entre outras. É fato que a imortalidade somente se manifesta através dos outros, a posteridade de todos é que tem o condão de imortalizar este ou aquele. A inequívoca demonstração de uma imortalidade e o culto permanente ou a lembrança constante destes fazeres e haveres. Sendo assim, esta obra tem, não titubeio, o poder de imortalizar seu criador.
Já me sinto de alguma forma, compensado pelo fato da candidata, pelo menos para mim, ter se mostrada sensível a minha tese, tendo inclusive, na oportunidade, sido aventado a possibilidade de um convênio com o instituidor desta maravilha, para que a municipalidade possa, através de um curador público, as expensas do erário municipal, transformar o local em ponto de visitação pública com grande vantagem para o turismo a história e a memória do povo local. Com certeza a santa, o povo e a história seriam os ganhadores.
Renato Dionísio – Poeta, Compositor e Produtor Cultural