A administração municipal de São Luís anterior deixou algo coerente com o slogan que alardeava, onde presente todo dia é uma série de equívocos em obras de última hora, como a da reforma da Praça João Evangelista, na Macaúba, em que na placa constou o nome do topônimo, não do reverenciado, que foi um moço operário da Fábrica de Tecelagem Santa Isabel (Fabril), assassinado na Greve de 1951. A propósito, em seu livro antológico Erasmo Dias e Noites (publicado pelo poeta Nauro Machado e sua esposa, a poetisa Arlete da Cruz Machado), o alteroso jornalista e escritor Erasmo Dias, num texto extraído do jornal vespertino O Combate, realça o homicídio do moço trabalhador supracitado, redigindo o desenlace de uma forma cinematográfica, lamentando a perda da vida de um conterrâneo, ceifada muito cedo pelo despreparo da polícia, a mando do caciquismo de Vitorino Freire. Não faltou ao relato do grandioso intelectual nativo (a meu ver, o maior prosador do Maranhão, mesmo com uma bibliografia não muito extensa) uma viagem de ida e volta pelas causas e consequências da dominação oligárquica do prócer do comando de Getúlio Vargas, eleito presidente da República, pelo voto direto, em 1951, parecendo com saudade de 1937 a 1945, como ditador,[7] durante o Estado-Novo, implantado após um golpe de Estado.


Autor de diversas memórias históricas, duas das quais foram premiadas pelo Concurso Artístico e Literário Cidade de São Luís: Do Sarneysmo ao Vitorinismo e Eleição de Chateaubriand no Maranhão, de suas numerosas pesquisas, o jornalista e historiador Benedito Buzar publicou A Greve de 51; os trinta e quatro dias que abalaram São Luís. São Luís: Editora Alcântara, 1983. Neste tratado, BB dá muita luz ao grave choque político e social.
A Balaiada de São Luís — Num artigo embasado no livro Conhecendo e Debatendo a História do Maranhão, do professor e petista de grandeza Joan Botelho, temos: “A Balaiada de São Luís, como ficou conhecida, A Greve de 1951, foi o mais formidável movimento urbano da História do Maranhão. Representou movimento popular amplo, radical e heterogêneo que mobilizou a massa urbana revoltada com as práticas fraudulentas e coronelescas de Victorino Freire, cujas consequências foram marcantes. Girou em torno do poder exercido por Victorino Freire que havia corrompido o processo eleitoral garantindo a vitória de seu candidato ao Governo do Estado, o industrial caxiense Eugênio Barros.


Os Soldados da Liberdade — A declaração do resultado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) acirrou os ânimos. A população de São Luís reagiu de forma incisiva à posse de Eugênio Barros. Com os Soldados da Liberdade, passeatas foram organizadas; piquetes e discursos inflamados foram feitos em praça pública; casas de juízes foram depredadas; e até mesmo o prédio do TRE foi queimado pelos rebeldes. Assim, o povo radicalizou suas ações, influenciado pelos líderes oposicionistas. A morte do candidato das Oposições Coligadas, Saturnino Belo, ampliou as refregas. Seu funeral ao Cemitério do Gavião foi acompanhado por aproximadamente 40 mil pessoas, o que equivalia a 33% da população da Capital.
Através da violência, as forças militares tentavam calar a multidão incontida. O conflito foi inevitável: Houve mortos e feridos em praça pública, demonstrando o despreparo policial e o desespero da oligarquia em abafar o movimento. Nem a vinda do Ministro Negrão de Lima e de tropas federais, a São Luís, arrefeceram o termómetro da intolerância.
A intervenção federal — Em meio à crise, o deputado estadual e industrial César Aboud, assumiu o cargo de governador até o julgamento do mérito pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Apesar da forte reação popular, foi confirmado e diplomado o candidato victorinista. Em consequência disso, houve uma ampla mobilização popular contra a posse de Eugênio Barros, o que possibilitou uma intervenção federal do Governo Vargas. A intervenção promoveu inclusive o controle militar da Capital, que foi ocupada por tropas do Ceará, Piauí, Pará e aviões da FAB, sob o comando geral do general Edgardino, comandante da 10ª Região Militar.
Foi como nasceu A Ilha Rebelde — A estratégia adotada pelas Oposições era o acirramento do conflito, com o apoio das camadas populares urbanas. A Greve de 1951 tinha a adesão de trabalhadores, estudantes, classe média, políticos e empresários, parte expressiva da população da Capital que votara no candidato oposicionista, e até das inquilinas da Zona do Baixo Meretrício (ZBM). Desse modo, enquanto as Oposições Coligadas obtiveram, em São Luís, 20 mil votos, couberam apenas 3 mil sufrágios a Eugênio Barros, candidato victorinista. Nesse contexto, o movimento alcançara grande repercussão nacional e internacional, transformando-se numa campanha de libertação contra o jugo victorinista: Era a Balaiada Urbana. São Luís passa, então, a ser considerada A Ilha Rebelde, dito que virou mito, bastante alardeado nas campanhas políticas da atualidade.
A morte de João Evangelista — Diz mais o artigo, seguindo o título de Joan Botelho: “O saldo mais triste da Greve de 1951 foi o assassinato, pelas forças militares, de vários jovens sonhadores, dentre eles: João Moreno, João Evangelista de Sousa e José de Ribamar Prado, este último de apenas 17 anos.”


Os vigilantes da memória de João Evangelista— Chefe de família, no começo dos anos de 1980, já jornalista profissional, morei na Rua João Ramalho (Apicum) e entrosado com antigos residentes de parte do Caminho da Boiada e Macaúba, e que jogaram comigo pelada de futebol, no Laranjal, hoje Parque do Bom Menino: Periquito, Walber (Gago), Zé Manuel (também meu contemporâneo do Liceu), Kleber, Corre Bico (açougueiro da Feira da Macaúba), Wilson Cambota, Ednaldo e Prado (Haroldo), que foi mais além na carreira, pois cresceu, profissionalmente, no Sampaio Corrêa e foi para o Paysandu (Belém-PA), onde a crônica esportiva marajoara o apelidou Patrão da Bola. Todos nós, em conversa no canto, sabíamos que eram ali a Rua e a Praça João Evangelista, na Macaúba. Infelizmente, nenhum de nós estava no gabinete do ex-prefeito, Edivaldo Holanda Júnior, para dizer que não recolocando o nome de João Evangelista na praça, agora, era matar a sua memória. “O que era para ele não errar, como na Praça João Evangelista, não da Macaúba, como nós ouvimos desde criancinhas, ele errou”!— disse um antigo servidor público municipal, residente na área, e que preferiu o anonimato! “Este rapaz nunca andou a pé por São Luís!”— concluiu.
Texto: Herbert de Jesus Santos