Quando Fernando Braga foi candidato, pela primeira vez, à Academia Maranhense de Letras (AML), ele era só poeta, com um livro, tinha 25 anos, e recebeu uma recomendação considerável, em 1968, em artigo de jornal(Fernando Braga e o Silêncio Branco), do mestre Fernando Viana, pai do romancista Waldemiro Viana, a quem sucederia, se não falecesse a 11 de março último, vitorioso em sua segunda candidatura, e já também ensaísta e crítico literário, e com obras de São Luís a Portugal. Na vez inicial, para a sucessão do desembargador, professor, jornalista, poeta e historiador Henrique Costa Fernandes, na Cadeira n.º 10, em 10.5.1969, perdeu para Jomar Moraes, ensaísta, e que seria um intelectual fulgurante (com diversas premiações e o nosso maior editor, na consolidação dos ases e insuflação aos novos talentos). Fernando Braga ganhou o beneplácito de Erasmo Dias (escritor genial e jornalista demolidor e imbatível, no legendário jornal O Combate, nos anos 50) e Jomar Moraes o de Benedito Buzar, que, no Jornal do Dia, era J. Amparo, que assinava a Coluna Roda Viva, aquele ex-sargento da PM, o que eu soube da sua voz, num serão, na Revisão Literária do Sioge(Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado): “Na primeira vez que vi o prédio da AML, disse comigo que um dia iria pertencer ao seu quadro”! Fez muito mais do que pensou, ali, numa devoção sacerdotal, inserida sua presidência de 22 anos, e tanto que empatou a ascensão ao seu convívio de quem não lhe fosse alinhado.


Voltando ao fio da meada, deu-se que FB, inscrito para concorrer àquela vaga no sodalício (a da segunda vez), pediu para eu dar uma força, pela minha coluna Sotaque da Ilha (do JP Turismo, semanário do Jornal Pequeno), e sondar a possibilidade dos seus votos junto aos acadêmicos, depois de avisar ao navegante aqui: “Betinho, a Cadeira que disputo é a de Waldemiro Viana; a de Cabral Marques está sendo disputada pelo ministro do STJ, Reynaldo da Fonseca, e Rossini Corrêa a de Sálvio Dino. Reforça esses pontos! Um grande abraço, FB.”


Havia conferido os ganhos e as perdas da AML, desde que vibramos nos Apicuns, em 1972, com o ingresso de Erasmo Dias (para mim, o nosso maior prosador) ali, e mais com a minha chegada à Revisão Literária do Sioge, ou seja, ao Serviço Público Estadual, em 10.12.1975, na direção de Jomar Moraes, quando a Literatura Maranhense não sofreu solução de continuidade nas benditas ovações da intelectualidade brasileira. Daí por que, fã dela, apressei-me na louvação às candidaturas de Fernando Braga e Rossini Corrêa, e nessa elevação de cimeiros, porque muito a engrandeceriam, a nomes que nem os de Salgado Maranhão (poeta caxiense com incandescência, igualmente, em nível de Brasil) e Alberico Carneiro, poeta e prosador, com uma portentosa bagagem de serviços prestados à Educação e à Cultura do nosso Estado. A AML teve ocupantes de cadeiras do mesmo tope, pois sem os altos e baixos, comumente, dos últimos tempos. Os cintilantes que não foram dela (AML)! — A agremiação não podia mais dar-se ao desfrute de não abraçar os mais requisitados. Dormiu no ponto, e não se engrandeceu mais com Oswaldino Marques, Fernando Moreira, Bandeira Tribuzi, Nauro Machado, Ferreira Gullar (foi da Academia Brasileira de Letras), J.M. Cunha Santos, Jorge Nascimento, etc


O périplo vocacional de Fernando Braga — Sua vocação literária lapidar estreou com Silêncio Branco, aos 23 anos, em 30.12.1967, com noite de autógrafos na AML, e, já em 2020, com um acervo no cimo da Literatura Brasileira. Emplacou títulos que se ombreiam aos cancioneiros de José Chagas (Os Canhões do Silêncio), Nauro Machado (com diversas antologias a São Luís), Bandeira Tribuzi (Romanceiro da Cidade de São Luís), Nascimento Morais Filho (Clamor da Hora Presente), Carlos Cunha (Cancioneiro do Menino Grande), Lago Burnett (A Última Canção da Ilha)… Do seu exílio, permaneceu fazendo e acontecendo em honra das tradições literárias maranhenses.


Bibliografia de São Luís a Portugal — Onde as montanhas ficam em trabalho de parto, mas delas não nascerá um ridículo rato, por não haver comparação a Horácio, com “Até o Bom Homero cochila”: Fernando Braga (dos Santos) nasceu em São Luís(MA), em 29. 5.1944. Formado pela Faculdade de Direito do Distrito Federal(DF), com pós-graduação em Ciência Política na Universidade de Brasília (UnB), e estágio em Direito Penal Comparado pela Universidade de Paris-Sorbonne. Com publicações de críticas literárias e ensaios, em grande escala, deu a lume em poesia: Silêncio Branco, 1967; Chegança, 1970; Ofício do Medo, 1977; Planaltitude, 1978; O Exílio do Viandante, 1982; Campo Memória, 1990; O Sétimo Dia, 1997; Poemas do Tempo Comum (Prêmio Gonçalves Dias, São Luís, 2009); O Puro Longe (Caldas Novas, GO, 2012), traduzido para o espanhol, e que seria lançado em Montevidéu; e Magma (Goiânia, 2014, lançado em Aveiro, Portugal); em prosa: Elmano, o Injustiçado Cantor de Inês (ensaio sobre o poeta Bocage), 2014. Livros inéditos: Travessia (Memórias de um Aprendiz de Poeta e Outras Mentiras), Conversas Vadias (antologia de textos em prosa em que inseriu O Sobrado do Velho Maia), A Cor do Verbo (antologia poética). Seu pai, José Ernani, era português e livreiro da Livraria Moderna, em São Luís.


Um dos maiores Cantores da Cidade — Campo Memória é um canto de amor a São Luís, de Fernando Braga, 88 páginas, composto e impresso pela Gráfica do Senado Federal, para as Edições Corrêa & Corrêa, Brasília, 1990. Neste trabalho, encontra-se um ensaio do escritor e professor Rossini Corrêa intitulado Em Sonho e em Pessoa: a Poética de Fernando Braga: “Esta imortal Ilha maior, Ilha Grande, como se dizia, há de viver enquanto for sua a poesia”. (Bandeira Tribuzi)
O mano de Fernando Braga na AML? — Fernando Braga morreu de Covid-19, em Brasília, onde seu corpo foi sepultado. Não seria uma proposta estapafúrdia, ou nonsense, Pedro Braga, seu irmão mais novo, devidamente eleito, assumir a cadeira n.º2 da Casa de Antonio Lobo, à qual aquele não consumou a posse. Igualmente, são-luisense, é detentor de um alteado currículo intelectual e literário, em consonância com o preconizado pelo Estatuto da AML. Enquanto uma pelada de futebol corria no campinho da Rua do Apicum, nas tardes de sábados e feriados, em que eu participava, amiúde, PB discutia política em nível mundial. Foi meu professor na Cadeira de Sociologia no Curso de Comunicação Social (Jornalismo) da UFMA, quando, aqui, candidatou-se à vereança de São Luís, e fui revisor e coeditor do seu livro Pequena História da Energia no Maranhão, no Sioge. Autor de várias obras, compreendendo romances, livros infantis e jurídicos, e ensaios, qual O Touro Encantado da Ilha dos Lençóis: o Sebastianismo no Maranhão.


Elogio do acadêmico Lino Moreira à eleição de FB — (Excerto) “O grande poeta Fernando Braga acaba de ser eleito à cadeira n.º 2 da Academia Maranhense de Letras, vaga com o falecimento de Waldemiro Viana, amigo próximo dele, meu amigo e de todos da Academia. Fernando Braga chega à Academia apadrinhado pelos seus inúmeros méritos de poeta reconhecidos pelos daqui de sua terra, São Luís, além de sê-lo por aqueles de Brasília, Goiás e Portugal, a terra do seu pai, onde lançou, em Aveiro, seu livro mais recente, Magma. O novo acadêmico não chega com o fim de tirar proveito do prestígio da Academia no meio cultural do Maranhão. Seu propósito é fazer acréscimos substanciais no âmbito de sua capacidade e de sua disposição para a lide cultural que não são poucas ao bom conceito da mais antiga entidade cultural do seu Estado!(…)” (Jornal O Estado do Maranhão, 4.8.2021). Mais claro, impossível!
Nota do Redator de Loas a Fernando Braga: Considerando que Fernando Braga, concorrendo com cinco candidatos, foi eleito em primeiro escrutínio, e teve três vezes mais votos que o segundo colocado, não tenho dúvida de que o antigo colunista J. Amparo, no Jornal do Dia, mais influente, há pouco, um nome respeitável nas páginas ainda do jornal O Estado do Maranhão e ex-presidente da AML, Benedito Buzar, assinou, igualmente, a votação de FB. Faria, se pudesse, agora, Jomar Moraes, pelo que disse quando, num sábado, na indústria editorial do Sioge, em 1977, editamos Ofício do Medo, de Fernando Braga, já uma vida no exílio: “Vai ser um poeta maior!” Longe Noturno –– Meus olhos emigraram para São Luís/minha cidade pavorosamente triste,/onde um meio de céu esconde o rosto/de Deus das vidraças da planície./Vim aqui tornar-me em arbusto/onde sou o argonauta deste verde./Morto pão esquecido sobre a mesa/foi minha ceia incrivelmente tarda./Noturno vinho em resto abandonado/ferve-me o corpo hipertencialmente/reto, nesta noite sem data dalguma/safra onde me disponho não mais sentir-me ( Poema de Ofício do Medo/1977). “Não há como ler Fernando sem penetrar na beleza do conteúdo dos seus versos. Eles são plenos de sentimentos profundos que levam a navegar até o infinito.” (Anely Guimarães Kalil, em 16.8.2021, ludovicense da gema, flagrada, no “face”, pelo pau-d´arco que há na Praça João Lisboa).
(*) Do livro inédito As Vozes do Sobrado Maia (Por Dentro dos Apicuns do Ás Nego Lápis ao Genial Jornalista e Escritor Erasmo Dias)
Texto: Herbert de Jesus Santos