Como pesca de arrastão, sem escapar arraia-miúda, após alumiar as pendências, na queimação das pestanas, a sustentação em Meus Brilhantes no Tempo de Cada Um (São Luís em Verso, Prosa e Quatrocentona), um dos meus oito livros inéditos, de que a França fundou São Luís, e Portugal ficou a ver navios, e Atenas Brasileira foi honra ao mérito dum Grupo Maranhense, consoante seu maior estudioso, o paraense José Veríssimo. Permanece, na ressalva, contestação sobre uma façanha francesa, mas que se fragiliza pela própria substância de análise, passando a teima para o contrassenso.
Horácio, poeta lírico e satírico e filósofo romano, em Epístola aos Pisões, cunhou: “Às vezes, até o bom Homero cochila!” — uma das expressões latinas mais célebres, para traduzir que “A suma perfeição não existe (em poema)”, ou para justificar erros de quem é muito capaz, e, aí, parece-nos, com a insistência, puxando brasa para a sua sardinha. A par disso, não precisamos ser Horácio para alisar a mão em cocos nativos, que, sem a consistência ansiada da cátedra, abusaram de amuos, para que não houvesse o feito em nome de Luís XIII, o Rei-Menino, de França e Navarra, batismo da colônia em honra de Luís IX, o Rei-Santo, cumprida a ordem da regente-mãe Maria de Médici, lembrada, ali, pelo almirante François de Razilly, e São Luís (Saint-Louis) ficou.
Sandices e amuos — Para dar a proeza a Portugal, saíram aberrações de pôr pulga atrás das orelhas de Confúcio, e torrar a paciência de Jó, tais como: A ata do caso foi a da criação da França Equinocial, não de São Luís; La Ravardière não participara da missa, oficiada pelos capuchinhos, em 8.9.1612, por ser protestante; e haver se acovardado na Batalha de Guaxenduba aos lusos; e o topônimo gaulês permaneceu por veemência das elites (?) de então… (Os diminutos revisionistas não sacaram que estava em curso uma trégua sob o interesse das coroas de França e Espanha, com o casamento dos adolescentes Luís XIII e a infanta Ana d´Áustria, primogênita do poderoso rei católico Felipe III, quando Maria de Médici, também católica, emplacando ainda as núpcias da sua filha Isabel com o herdeiro Felipe IV, aplicou um xeque-mate nos desafetos religiosos; e vazou o barco da França Equinocial, em 1615, que nem Portugal, subordinado ao trono espanhol, pela União Ibérica (1580-1640), na Fundação de São Luís, saiu à francesa, ou seja, em silêncio; soube que Tupinambás estiveram no Palácio do Louvre, em Paris, em dezembro de 1612, e leu sobre o feito em História da Missão dos Padres Capuchinhos na Ilha do Maranhão e Terras Circunvizinhas, de 1614, do franciscano Claude d´Abbeville, etc.
Pérola de Lacroix — Os autores Vasco Mariz & Lucien Provençal, em La Ravardière e A França Equinocial, lecionaram que, “Poucos meses depois do regresso da expedição de Alexandre de Moura a Pernambuco, levantaram-se os indígenas, trucidando numerosos brancos nas redondezas de São Luís; e uniram-se as tribos para preparar um grande assalto à povoação, mas um deles denunciou o plano ao governador Jerônimo de Albuquerque, que instruiu seu filho Matias como agir, atacando em separado as diversas tribos, e, em fevereiro de 1617, já haviam derrotado os sublevados. A matança foi terrível e o padre Evreux teria ficado horrorizado com as notícias que lhe chegavam à França. Depois, as tribos afastaram-se cada vez mais de São Luís, embrenhando-se nas florestas”. Foram concisos contra (poucos) açodados colegas maranhenses, que preferem a epopeia portuguesa à francesa, talvez por que, no séc. 19, César Marques, em Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão, chamou o acontecimento de invasão, e a prof.ª Maria de Lourdes Lacroix, em A Fundação Francesa de São Luís e Seus Mitos, no séc. 20, acabou perguntando esta pérola: “Suas palhoças foram mais perenes que o casario dos lusos?”
Pouco estudados por nossos historiadores — Evidenciaram, sim, um dos marcos mais importantes da História do Brasil Colonial: “Curiosamente, os acontecimentos alusivos à França Equinocial têm sido pouco estudados por nossos historiadores. (…) Mais de 100 anos depois da descoberta do Brasil, nem Portugal nem os espanhóis, no tempo da União Ibérica, tinham conseguido desbravar o País ao norte do Ceará. Por um triz, a França Equinocial não teve êxito, e, pouco antes, La Ravardière já havia visitado a foz do Rio Amazonas, em busca de um local para instalar outro núcleo colonial. Pode o leitor imaginar o Brasil sem o Maranhão, Piauí, Pará e Amazonas? Faltou pouco!…”
As Leis Fundamentais do Maranhão: 409 anos — Acendendo fósforos no preto no branco do primórdio ludovicense, Mário Meirelles, em História do Maranhão, realçou a organização da expedição francesa, para oferecer ao fato os requisitos primaciais de uma cidade, como, em 1.º.11.1612, normas, à guisa de constituição, as primeiras nas Américas, e redigidas em São Luís, nas quais, definiu os seus deveres em face dos direitos dos indígenas, e vice-versa, isto é, As Leis Fundamentais do Maranhão. Ficou na cara que mercenários pernambucanos, como Jerônimo de Albuquerque, assimilaram bem a ferocidade dos portugueses em relação aos naturais que eram um estorvo para as suas pretensões colonizadoras. Felizes foram os que, ocorrendo no litoral, estiveram sob a proteção de corsários franceses, contrabandeando o pau-brasil e de quilha emproada para as Antilhas, na salvação da pele dos que, apropriadamente, chamavam os seus algozes lusitanos de “peró” (tubarão, o que ataca pelo mar), sendo assim esconjurados pelos Tupinambás de Upaon-Açu, que, botando suas barbas de molho, vendo as dos vizinhos arderem, embandeiraram-se para a missão de La Ravardière, com o cacique Japi-Açu, qual, antes, com Ibiapina, para as de Jacques Riffault e Charles des Vaux.
Atenas Brasileira, de José Veríssimo, sem papas na lingua — Aos que tentaram apequenar, por sua vez, o fenômeno intelectual, no Maranhão —aliás, os mesmos poucos francófobos, aqui—, José Veríssimo (Dias de Matos), na História da Literatura Brasileira, capítulo XI, Gonçalves Dias e o Grupo Maranhense —em que o Cantor de I-Juca-Pirama e Os Timbiras é “detentor de poderoso talento”—, dá o tom, fora do território bairrista, dos elogios aos exponenciais e parece jogar um balde de gelo no acesume dos que meteram a escravatura, para depreciar uma Atenas Brasileira, em São Luís, quanto invencionice, sem leitura abrangente, ou de má-fé: “Da poesia genuinamente brasileira não por exterioridade de inspiração, ou de forma, ou pela intenção de temas e motivos, mas pelo íntimo sentimento do nosso gênio com as suas idiossincrasias e peculiaridades, em nossa psique nacional, foi ele o nosso primeiro e jamais excedido poeta”.