Há um bom tempo, venho de jornais falando sobre a fortuna que temos de haver em nosso São João a maior diversidade de brincadeiras, em que o bumba-boi com cinco sotaques é a estrela mais cintilante, faltando uma publicidade maciça, em nível nacional, quando do setor hoteleiro ao taxista ganhariam mais dinheiro com o Turismo, além da autoestima insuflada em alardear que ostentamos o maior São João do Brasil, não Campina Grande (PB), massificada na TV Globo, com quadrilha e forró. Numa entrevista à TV Mirante, na coluna Bastidores, comandada pelo jornalista Clóvis Cabalau, na manhã de 11 passado, o governador Carlos Brandão (PSB) falou sobre o maior São João do Brasil, que vai movimentar diversos setores da economia, embasado em que, além da festança cultural, o São João do Maranhão também é um projeto de geração de emprego e renda para as famílias maranhenses. No final, após discorrer sobre o momento político estadual, Carlos Brandão, com a autoridade de saber do que estava falando, por ser o principal idealizador desta empreitada, no tocante ao maior São João do Brasil, falou por todos nós desta luta: “Campina Grande que se segure”! Ora se eu vinha clamando no deserto, que nem São João evangelista disse para os fariseus que o queriam Jesus, para complicar sua vida, aquela voz mais alteada do Palácio dos Leões, exclusiva, em muitos anos, de um chefe do Executivo, soou qual a de Moisés, temente a Deus, conduzindo seu povo livre do cativeiro egípcio para a Terra Prometida de Canaã, pelo deserto, quando teve o maná caído do céu, para saciar a fome de todos, e, com seu cajado, a possibilidade da travessia do Mar Vermelho. Foi o que comparei, calejado no bom combate por essa parte da Cultura Popular Maranhense, quase sozinho, há um tempão, e folgando em dizer: Mais, Excelência! Se o maior São João do Brasil, é o maior do Mundo! E não só maior, também com mais variedades de cordões, e assim melhor, mais colorido e mais bonito, num imenso arraial em que São Luís se transforma, e até pra inglês ver, realmente, se quiser!


Só ouro nativo – A entrevista foi quase um repeteco da de quando Carlos Brandão conduziu coletiva, no Auditório do Palácio dos Leões, na terça-feira (10), sobre os preparativos para o São João do Maranhão. Será iniciado dia 27 vindouro e prosseguirá até 31 de julho, nos arraiais em São Luís e Interior. Serão mais de 500 atrações para cerca de 450 mil visitantes no período. Para que os grupos possam montar suas apresentações, o governo já antecipou 30% dos recursos
O secretário estadual da Cultura (Secma), Paulo Victor, evidenciou que o diferencial do festejo junino será a ativação da economia, e com a boa-nova de que não haverá contratação de artistas e atrações de fora, só com nomes e atrações da terra.
Turismo aquecido —– Para o festejo, o governo garantiu investimentos de R$ 25 milhões. O secretário de Estado do Turismo (Setur), Paulo Matos, alardeou a compensação: “Hotéis estão praticamente lotados, empresas de turismo com todos os pacotes vendidos e estamos cogitando fretar voos charters. Ou seja, estamos empreendendo todos os esforços para impulsionar a atividade turística em nosso Estado!”.
A ordem de São João — De 23 de junho a julho adentro, a ordem de São João é para os brincantes exibirem o Boi bonito de se ver e outras atrações do folguedo: O bumba-meu-boi, em sua dimensão de magia, a ginga sensual do cacuriá, a eletricidade do tambor-de-crioula, quadrilha, dança portuguesa e do coco, forró, e shows de artistas nativos. O Estado ostenta mais diversidade e grandeza juninas no País, e carecendo de publicidade nacional mais forte, pois estava perdendo, no grito da TV Globo, a primazia para Campina Grande (PB), só com forró e quadrilhas organizadas.


Os sotaques dando o ar da sua graça — Com o batismo dos bois (de matraca, zabumba, pandeirões, orquestra e costa-de-mão), na noite da véspera de São João, a festança começa nas ruas enfeitadas de bandeirolas e balões multicoloridos, nos arraiais de barracas, comidas e bebidas típicas, e nos terreiros que fizeram chamada para as atrações darem o ar da sua graça. É alegria para todos os lados! No amanhecer de São Pedro (29.6.), os bumba vão pagar promessa no largo da capela do santo, na Madre de Deus, onde milhares de fiéis aguardam a procissão terrestre e a marítima do Padroeiro dos Pescadores. No raiar do outro dia (30), abençoados por São Marçal, os bois de matraca percorrem a histórica Av. João Pessoa (que desavisados, sem chamamento à razão, a não ser do Sotaque da Ilha, nossa coluna no JP Turismo/Jornal Pequeno, rebatizaram de São Marçal), no João Paulo, soterrando uma parte importante da História do Brasil (ou seja, o homicídio do político João Pessoa, ex-governador da Paraíba e que passou a nomear a capital do Estado. Sem a ouvirem a Toada da História, mataram, novamente, João Pessoa, no João Paulo. São Marçal não necessitava de dar nome à avenida, e, sim, aos bois.)
O lava-bois em São José de Ribamar — Dão um boi para entrar na briga, e uma manada, para não sair, “emendando as noites”, somente vencidos pelo sono e cansaço. Já no primeiro domingo de julho, os batalhões de matraca da Maioba, Pindoba, Juçatuba, Maracanã, Iguaíba, Sítio do Apicum, da Matinha, etc., têm encontro marcado em São José do Ribamar (distante 36 km de São Luís), acordando os locais com saraivada de percussões e toadas, na Av. Gonçalves Dias (Rua Grande), quando o Boi do Outeiro (Ribamar de Matraca) abraça a todos. Quando fui seu presidente, levei todos os anos o centenário Boi da Madre de Deus!


A resistência dos bois de zabumba — Para manter sua tradição mais pujante, no meado do mês de julho, há o Festival de Grupos de Boi de Zabumba, na Av. Newton Belo, no Monte Castelo, já com mais de vinte edições. A iniciativa foi do Mestre Basílio Durans, zabumbeiro de quatro costados, em 1994.
O boi primordial ou Pai da Manada, até 1860 — Quem beber na fonte dos jornais do séc. 19, na Biblioteca Pública Benedito Leite, verificará que, até 1860, não existia boi de matraca nem de zabumba, ou outro estilo que conhecemos. Era o boi primordial, o Pai da Manada. Eram semelhantes em todas as regiões. Seria impossível mesmo que o Boi nascesse, entre nós, de uma vez, com: Matraca, ou Sotaque da Ilha (fixados em São Luís, depois em Icatu, Paço do Lumiar, Ribamar, etc.), zabumba, ou de Guimarães, costa-de-mão, ou de Cururupu, e da Baixada (Pindaré, Viana, Penalva, São João Batista, etc.). Os brinquedos de orquestra só nos meados do séc.20: Os de Rosário, Axixá, Morros, Primeira Cruz, Humberto de Campos, Presidente Juscelino, Ribamar (Meu Tamarineiro), Santa Rita, etc.
Matraca e caboclo-de-pena na Ilha, no jornal de 1868 – Com a proibição pela sociedade escravocrata, em 1861, os bois só retornaram no São João de 1868. Seu defensor, o jornalista João Domingos Pereira do Sacramento, em sua crônica no Semanário Maranhense, de 12.7.1868, assim abraçou, em São Luís, a chegada da matraca e do caboclo-de-pena ou real, no Boi, caracterizando, assim, o grupo indígena: “Introduziram na folgança do Boi, no São João deste ano, repinicados de matraca, no lugar de palmas com as mãos, e uns gritos que arrepiaram minha carne, como nunca se viu antes nas figuras do bumba”! Ali mesmo, criticou autoridades repressoras e abraçou a novidade: “Antes tarde do que nunca! Melhor com essa zoada toda do que o Maranhão passar sem o bumba, como foi de 1861 a 1867!”
Zabumba e tambor-de-fogo em Guimarães — Consoante o poeta e cronista Américo Azevedo Neto, na sua obra Bumba-meu-boi no Maranhão, no mesmo ano do surgimento das matracas e caboclos reais, nos Bois da Ilha (1868), precisamente, no povoado Jacarequara, então pertencente a Guimarães, Gregório Malheiros substituiu por zabumbas e tambores-de-fogo os pandeiros idênticos aos dos bois de matraca. A seguir, Damásio (há, em Guimarães, uma localidade e um boi com esse nome), com os novos instrumentos, aprimorou o sotaque, criando, dessa forma, o grupo africano.


Mãe Catirina e Pai Francisco bicentenários – Suas personagens centrais nasceram com a diversão: O “miolo” (quem dança sob a armação do boi), cantador, doutor, Pai Francisco e Mãe Catarina, que o povo popularizou Catirina, aliás, básicos no auto da matança, representada pela toada Urrou. Eternizaram-se no Semanário Maranhense, de 12.7.1868, no texto do entusiasta Sacramento: “Não encontrei na folgança deste ano de 1868 a graça da antiga tagarelice desconchavada do doutor Pisa-Macio, do aparvalhado ridículo Pai Francisco, nem nos requebros da Mãe Catarina”. Considerou que os caricatos tiveram seu retraimento ocasionado pelos sete anos em que o Boi ficou proibido: “Podemos justificar isso, na falta do uso de brincar. Se a memória não falha ao cronista, na última vez que o Boi brincou foi na chefatura policial do Dr. Manuel Faria, e voltou, agora, em 1868, na do Dr. Morato.


(Notas do Redator: Foi por causa da Guerra do Paraguai, de 1864 a 1870, que o Boi foi proibido no São João, pois os negros participariam no conflito, no exército brasileiro. O Largo de São Pedro, na Madre de Deus, tem tudo para começar na data dos outros arraiais, não só 28 e 29 de junho, aquecendo mais o Turismo. A procissão marítima do Pedro Santo, com coordenação forte, será uma das maiores do Brasil, com a Baía de São Marcos maior que a de Guajará, em Belém(PA), que realiza o cortejo fluvial do Círio de Nazaré com centenas de embarcações. A Secma e a Setur podem, se desejarem, usar trechos do texto para folder e outras publicidades do Maior São João do Brasil).
Texto: Herbert de Jesus Santos