

A exposição ‘Nordeste Expandido – estratégias de (re) existir’, em cartaz na Sala Portugal da Fundação da Memória Republicana (Convento das Mercês – Rua 28 de julho, Centro. São Luís – MA), extrapola os limites tradicionais das expressões plásticas nordestinas. Nela estão as diferenças evidentes entre os estados que compõem a região e se aprofunda nessa viagem.


De maneira não simplista mapeia a nova produção das artes plásticas dos artistas regionais, construindo um mosaico coletivo no qual a paisagem se manifesta sintética e multidimensional.
A exposição abarca produções de artistas de todos os nove estados do Nordeste, mais norte de Minas Gerais e Espírito Santo. Todos os nordestes existentes no Nordeste estão ali representados nas 215 obras dos 105 artistas dos 11 estados, nos três ambientes em que o espaço se compõe. O acervo faz parte do patrimônio do Banco do Nordeste.


O banco pensou em reunir os artistas da região a partir do seu acervo. Para compor o material da exposição houve interlocuções entre curadorias regionais. Dessa maneira foi possível destacar o que existe de proeminente em cada território do Nordeste. Toda a produção se interliga por eixos marcados pelo cancioneiro nordestino.
São Luís é a quarta capital do Nordeste a receber a exposição do extenso acervo. ‘Nordeste expandido’ iniciou a caminhada por Recife (PE), no final do ano passado; continuou a itinerância parando ainda em Fortaleza (CE) e Natal (RN). A iniciativa da instituição financeira, no caso o BNB, além de capturar toda a diversidade étnica, de raça e de gênero das artes regionais, foi compor um acervo que permitisse o reconhecimento das artes visuais como um importante segmento econômico.
Nordeste no mundo todo
A paisagem rústica, muitas vezes tosca da região, embora não seja predominante, está presente na exposição como referência estética, muito embora livre dos estereótipos. O passeio do olhar pelos trabalhos é um passo a passo de reconhecimento dos traços geográficos e humanos de cada lugar desse território.


Minas Gerais e do Espírito Santo – Foto: Divulgação
“Importante destacar que a arte contemporânea do Nordeste, de maneira muito abrangente, está expandida em todo mundo. Os artistas que estão aqui estão expondo no Nordeste do Brasil, na Europa, nos Estados Unidos, no mundo inteiro”, explica o curador Frederico Silva, professor do Departamento de Artes Visuais da UFMA, que dividiu o trabalho com Samantha Moreira e Jacqueline de Medeiros.
Muitos dos artistas com trabalhos selecionados têm reconhecimento mais fora da sua região natal que em seu lugar de origem. ‘Nordeste Expandido’ abandona a ideia alimentada de um Nordeste inventado, circunscrito à paisagem do árido e semiárido, de pobreza e escassez. “Na verdade, não existe uma falta. Existe uma abundância de talentos, de expressões, de variedades, de tudo”, sintetiza o curador Frederico Silva.
A intenção norteadora da curadoria foi reunir uma produção de artistas que retratassem a arte contemporânea do estado. Artistas que estão em atividade desde os anos 90 ou até mais tempo, mas com produção contemporânea.


Do Maranhão foram selecionadas obras de Cláudio Costa, Márcio Vasconcelos, Ton Bezerra, Gê Viana, Dinho Araújo, Genilson Guajajara, Silvana Mendes, Thiago Martins de Melo e Tieta Macau.
A gênesis dessa seleção remonta na exposição Preamar, realizada na Galeria Chão, no centro histórico de São Luís, realizada em 2022. Teve a participação de 18 artistas maranhenses e as obras foram dividas também com a Lima Galeria, no bairro do Calhau. Tal foi a reverberação do evento que garantiu a participação desta parcela no SP Arte Rotas Brasileiras no mesmo ano. Foram então identificados pelo Banco do Nordeste que buscou os promotores para fazer a curadoria da ‘Nordeste Expandido’.


“A produção de arte contemporânea do Nordeste olha para a natureza, olha para o lugar. Ela vem daí. Vem dessa imersão. O discurso do artista, seja na pintura, na fotografia, na colagem, só é possível pela imersão que permite a captação de elementos colocados na obra”, observa.
A obra de Dinho, por exemplo, por meio de uma máscara o artista performa a partir do estudo da história dos animais e das árvores, uma espécie de dicionário editado no século XVII. “Nessa obra ele faz uma pesquisa sobre o gato maracajá, quer dizer ele vai para a natureza. Isso não parece flagrante. Mas o observador e vai entendendo a obra”, diz.


A situação fronteiriça do Maranhão, meio norte, meio nordeste, com traços fortes da Amazônia, se projeta na elaboração das obras dos artistas locais. A exposição mostra a pujança da arte da região, sempre dinâmica e em momento algum estática.
No mês de outubro, o visitante e público em geral poderá participar das rodas de conversas temáticas que acontecem no Convento das Mercês, Além de permitir um passeio pela historiografia da arte brasileira, por toda a produção contemporânea da arte nordestina, a exposição vai contribuir para formação do público, principalmente estudantes e turistas.
Texto: Henrique Bóis,