A nossa querida Cidade já está com um pé na casa dos 409 Anos, que celebrou na quarta-feira, 8 de setembro, com muitos problemas a serem superados e muita história para contar, como a epopeia que foi a sua Fundação, em 1612, com o nome de São Luís, em homenagem ao Rei de França, Luís IX, o Rei Santo, e em honra de Luís XIII, o Rei-Menino. Sua criação, como França Equinocial, começou com Daniel de La Touche, sob o título de Senhor de La Ravardière, um experiente Lugar-tenente General da Marinha Francesa do século XVII. Nobre, de religião protestante, liderou a expedição francesa que, em 1612, deu início às pretensões de colonização no Norte do Brasil.
Aconteceu que La Ravardière, na corte, no Palácio do Louvre, em Paris, com a regente Maria de Médici, angariou os precisos fundos com o almirante François de Razilly, Senhor Almers (líder católico), e, em companhia deste, partiu de Cancale, em março de 1612, com uma caravela e duas naus: “Saint-Anne”, “Régente” e “Charlote”, tripuladas por 500 homens, entre eles frades capuchinhos, viajando por cinco meses completos, enfrentando os dissabores do mar.
Estudiosos asseguram que a expedição chegou em setembro do mesmo ano, avistando um ponto elevado na Ilha Grande (Upaon-Açu), domínio dos Tupinambás chefiados por Japi-Açu, que participaram de uma missa, em 8 de setembro, oficializando o nascimento de São Luís. Patrimônio Cultural da Humanidade — Em 409 anos de vida, São Luís ostenta a fama de eleita pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), como Patrimônio Cultural da Humanidade, em sessão solene no dia 4.12.1997, em Nápoles (Itália). Possui, entre suas principais atrações, um Centro Histórico formado por aproximadamente 3.500 edificações de grande valor arquitetônico composto por ruas e calçadas de pedras, fachadas azulejadas e casarões ainda com características coloniais. Exibe títulos gloriosos para o seu centenário bumba-boi, consagrado como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, em reunião realizada em Bogotá, na Colômbia, em 11.12.2019. A celebração foi reconhecida por unanimidade, e com louvor, pelo Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda da Unesco. Já o tambor de crioula alcançou a marca de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro, em 2007, pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), com que, desde então, o 18 de junho se tornou Dia Nacional e é marcado por festas em diversas cidades do Estado.
Muitos impasses para pulsos fortes — Com muitos problemas para superar, alguns do século 19, como a necessidade de uma eficiente e abrangente rede de esgoto, e, mais recentemente, sistema de transporte caótico, com ônibus superlotados, quando não sucateados, barracas caindo aos pedaços, sujas e enferrujadas, na adjacência do Liceu e do extinto Maristas, Mercado do Peixe, no Portinho, precisando de mais atenção dos órgãos municipais, com relação à limpeza, pois urubus estão dando voos rasantes, fazendo festa ali, e tomando conta do pedaço, diuturnamente. Nada como um dia atrás do outro, respeitosos e honestos cidadãos ludovicenses: Sempre teremos eleição para prefeito e vereadores, e aí será a hora de darmos o troco, votando em quem pode melhor nos representar, na Câmara, e administrar, no Palácio de la Ravardière. Hoje, estramos apostando todas as nossa fichas na gestão do prefeito Eduardo Braide, esperando que cada dia seja melhor do que o outro!
Turismo e Literatura: Quando todo mundo sai ganhando — As nossas melhores opções sempre são os pretendentes à vereança e um gestor sintonizados com os anseios populares, que apreciem o nosso carnaval, o nosso São João (tem diversidade para ser o maior e melhor do Mundo, bumba-bois com cinco sotaques, e ganhar, na mídia, o de Campina Grande, na Paraíba, só com quadrilhas e forró), e valorizar a nossa Literatura, as nossas praias (com sua indispensável balneabilidade), o nosso Turismo (a indústria sem chaminé, com tudo para ser muito mais rendoso, aqui), com o nosso Centro Histórico melhor preservado.
As obras de reforma do Palácio das Lágrimas, na Rua São João, após mais de cinco anos paradas, deveriam ser retomadas em janeiro de 2020. Começaram em julho de 2014 e sua conclusão estava prevista para fevereiro de 2015. O prédio é de propriedade da UFMA, tombado pelo Iphan, e já abrigou a Faculdade de Farmácia e de Odontologia daquela instituição. O impasse continua.
Está abandonado e como é muito comum servindo de refúgio para moradores de rua e usuários de droga. Se o local estivesse restaurado, deveria abrigar a sede do Curso de Música da UFMA, consoante fonte da Superintendência de Infraestrutura (Sinfra-UFMA).
O Palácio das Lágrimas foi construído no início do século XIX e foi demolido no final do mesmo século, dando lugar a um prédio para abrigar um instituto de ensino superior, o que nunca aconteceu, porque o seu idealizador, Joaquim de Sousa Andrade (o poeta Sousândrade), morreu antes de ver o sonho realizado. Outra versão é a de que o prédio era para abrigar a Escola-Modelo Benedito Leite, que ali funcionou por algum tempo e depois foi para um prédio maior, na Praça de Santo Antônio, onde até hoje funciona. Ali passou a funcionar a Faculdade de Farmácia e Odontologia da UFMA.
Histórias trágicas — O senso comum é de que recebeu este nome graças a lendas e histórias que até hoje permeiam o imaginário popular. Mário Meireles, por exemplo, no seu livro São Luís-Cidade dos Azulejos, relata que a denominação Palácio das Lágrimas foi por que ali morava um homem de boas posses, e que mantinha no terceiro andar daquele prédio um harém formado por suas jovens escravas. Entre elas, uma sobressaía pela beleza escultural, por quem um escravo se apaixonara. Este não foi correspondido, e tramou um crime terrível, envenenando os dois filhos do senhor e escondendo o vidro com restos do veneno nos pertences da bela escrava, que assim foi acusada de homicídio e condenada à morte por enforcamento. Ao sair do prédio para ser levada à forca, montada na esquina da Rua da Paz, chorava copiosamente, e seu pranto molhou os degraus da escada do sobrado. Conta a lenda que, desde então, todas as manhãs, os degraus amanheciam molhados, e, no imaginário popular, eram as lágrimas da escrava injustiçada.
Inveja e vingança — Já o escritor Jomar Moraes, no seu livro Guia de São Luís do Maranhão, narra que a principal lenda fala de dois irmãos portugueses que resolveram “fazer a América”, e vieram ter ao Maranhão. Um deles, Jerônimo de Pádua, comerciante, enriqueceu bastante, enquanto o outro jamais conseguiu sair da pobreza. Cheio de inveja do rico, o irmão pobre concebeu o plano de assassiná-lo, com a finalidade de herdar-lhe a grande fortuna, pois o irmão rico não tinha herdeiros legítimos, vivendo amasiado com uma escrava, com quem teve vários filhos. Informado de quem fora o verdadeiro assassino do seu pai, um dos filhos, indignado, tomou o tio e, de uma das janelas, arremessou-o violentamente à rua, provocando-lhe a morte. Por ser escravo, foi condenado à morte na forca. Em direção ao seu destino, o condenado proferiu, como últimas palavras esta frase: “Palácio, que viste as lágrimas derramadas por minha mãe e meus irmãos, daqui por diante, serás conhecido como Palácio das Lágrimas!”
As obras de revitalização do antigo prédio do Sioge (Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado), na Rua Antônio Rayol, na adjacência do Mercado Central, foram paralisadas desde antes da pandemia do Novocoronavírus. Os trabalhos foram iniciados em 23 de março de 2017 e com previsão e conclusão em junho de 2018.
A obra de restauro é fruto de parceria entre a UFMA e o Iphan. O casarão foi cedido pelo governo estadual, pelo prazo de 20 anos.
O prédio custodiará os achados arqueológicos da área de implantação da Refinaria Premium, em Bacabeira, e também os artefatos que fazem parte do projeto acadêmico desenvolvido pelo Laboratório de Arqueologia da Universidade. O monumento histórico, após a conclusão da obra, abrigará o Curso de História e a Pós-Graduação em Arqueologia da UFMA. O espaço contará com salas, laboratórios, almoxarifado, auditório, biblioteca.
A reforma está orçada em R$ 8.743.061,22 e tinha previsão de 16 meses para conclusão.
Onde era uma editora respeitada no Brasil — O prédio, onde funcionou a extinta Fábrica Progresso, foi construído no final do século XIX. Posteriormente, foi a sede do Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado (SIOGE), durante muitos anos, responsável pela editoração do Diário Oficial do Estado, o jornal literário Vagalume, campeão nacional diversas vezes entre seus congêneres, e uma fábrica de livros, em apoio aos escritores consagrados e aos novos talentos nativos, considerado o espaço como o ponto de mais Cultura e Inteligência do Maranhão, pela intelectualidade nacional, baseada na Academia Brasileira de Letras e União Brasileira de Escritores, até que foi extinto pelo governo, com poucas vozes protestando contra o contrassenso, numa Terra de Poetas e Prosadores em potencial.
Sentida canção dos 409 anos de vida
(Para os que não amam São Luís só da boca pra fora)
Herbert de Jesus Santos
Por ti, São Luís, faço, agora, minha a tua voz e de todos aqueles iletrados, que não podem dizer de peito aberto, deveras, e dos que morrem de medo de César e dos potentados, que mais dão ao Povo pão e circo e vice-versa, que nem fizeram aos cristãos, na arena, às feras! Por isso, justiça, aqui, é uma infeliCidade, onde aquela possui mais culpa no cartório e é só conversa pra bumba-boi dormir a seriedade, em que o vil metal desonra o falatório (pois que tudo é panelinha de corrupta e corruptora grei dos donos do tempo, da hora e dos arrotos, poluem e quebram até aos raios decentes e em brotos), onde mais o Sol não nasce para todos e menos somos todos iguais perante a lei!
Muitos aí flertam, sem máscaras, que a amam, vemos, porém, mais só conversa fora da bacia. São poucos os que, sinceramente, te devotam: os que ficam a ver navios e no deserto clamam! Por isso, também, a barra está mais pesada que os sinos da Igreja da Sé, do Carmo e do Desterro, onde já nascem Jesus Cristo antes da hora, para carregar o pesado símbolo do madeiro, com a Missa do Galo alertando mais cedo o risco de vida que é a meia-noite lá fora, e na maior parte do tempo carregamos a Cruz, que, igualmente, é tua, São Luís, embora, em viagem, nós que nascemos mais à imagem, e, marchando, a um de fundo, à semelhança de Jesus! Tua culpa é não poder falar o que mais deve, qual de ti cobrou Raimundo Lopes, um dos teus grandes filhos, mestre e poeta: “Amamos-te, a amargura, embora, à flor dos lábios, Atenas, que votaste à cicuta teus sábios, Jerusalém, que apedrejas os teus profetas!”— como envenenaram de morte Sócrates, na Grécia Antiga, e caem de pedras de uma alienígena e, aqui, inútil cantiga, dando o ar de mediocridade e de lorotas, com sinal de que pode ser urubu na carniça, que tocará melhor se o Boi cultural bater as botas!
Não mereces ser e estar assim, Minha Cidade, mais vestida de andrajos e de fezes as tuas praias, sempre em benefício mais dos ratos de cartola, que posam, mais na mídia, de frajola, que não precisam estar fuçando no real monturo, por ser lixo moral todo o seu luxo, e deveriam estar puxando uma masmorra e uma bola confinados, como sua má lição, atrás do muro!
Fotovista do meu aeroplano, São Luís parece ser o seu maior poeta, e sabe ser grande na certa, só não precisa mais pegar cano! A Cidade padece em linha reta, quanto o poeta que mais sofre de verdade, porque é ferida mais e maior, que não fica mais só na saudade, como é a forte dor do seu profeta. Quando depende do meu tempo e espaço, esta Cidade não se cala do que se cala o poeta mais calado, quando quer ser premiado submisso e nos faz sentidos ouvidos de mercador. Não se rende, nunca, jamais, e do que é o seu poeta mais rendido, e que só se rebela, quando muito, ofendido, achando-se a rainha da Inglaterra.
Se esta Cidade fosse só minha, ninguém teria a autoridade de esfarela nem o mau agouro de uma reles asinha, para olhá-la, petulante, já nela, e humor saliente de erva daninha, para chutá-la, sem um zagueiro contra, cá canela; nem só pensaria em indigesta cozinha, para só forrar a pança e socá-la pá nela, e nenhuma ordinária bonitinha —mais pirata, menos donzela— a atrairia, com uma fitinha, para a mais sutil esparrela; e neutralizaria os aventureiros e bostinhas que o seu mais rico espírito cancela!
Texto: Herbert de Jesus Santos
Do livro inédito Brilhantes no Tempo de Cada Um (São Luís em Verso, Prosa e Quatrocentona)