Pelo Batalhão do Boi, d´Os Fuzileiros e TQ, Anjo da Guarda e Madre de Deus sentem perda de Sabujá, ou José Santos, “Aos de boa vontade!”


Com motoqueiros, na frente do cortejo fúnebre, que contou também com uma carreata de automóveis, vindos do Anjo da Guarda, buzinando, ao ingressarem na Madre de Deus, até na frente do Cemitério do Gavião, quando a batucada do Coco Pirinã tomou conta do campo santo, assim começou o emocionante sepultamento do folclorista José Santos (Sabujá), às 16 h de sábado passado, aos 84 anos incompletos, com o repórter calculando que não seria qualquer político maranhense benquisto com mais assistência, se não houvesse a restrição imposta pelo novo coronavírus. Sabujá foi vítima de câncer de próstata, na tarde de sexta-feira, num hospital de São Luís, quando sofreu falência múltipla dos órgãos, e teve seu corpo velado na sede do Coco Pirinã, na Rua Costa Rica, 18, no Anjo da Guarda. Seu féretro foi acompanhado ao túmulo por familiares, parentes, como Mestre Elói da bateria da Turma do Quinto, e amigos de longas datas, dentre os quais, no Boi da Madre de Deus, os cantadores Mané Onça (Manoel Leôncio) e Sabiá (Jouberth Queiroz); e, mais novos, o compositor, produtor cultural e percussionista Gersinho Silva; Bosco (pescador e presidente do Bloco Ritmistas da Madre Deus); Severiano Barata (Cama de Burro, aposentado dos Correios); Jorge Coutinho, professor e presidente do Bloco Cobras nas Estrelas, da Rua 4, que homenageou Sabujá com seu samba-tema e desfile na Passarela do Samba, no carnaval de 2018; Ademilson (Bigu) Pereira, cacique da tribo Kaypó do Goiabal; o professor, poliglota e guia de Turismo Simão Cireneu Ramos, vizinho de Sabujá, na Madre de Deus; e, dentre dezenas de conhecidos e vizinhos, no Anjo da Guarda, o músico Pedrada e Raimundinho Boteco.


Conceituado, dentre grupos e dirigentes do folguedo indígena, Sabujá, nascido na Madre de Deus, em 23.5.1937, cedo participou das atividades do Bloco Os Fuzileiros da Fuzarca e do secular batalhão de matraca do Boi da Madre de Deus. Transferido, no começo de 1970, para o Anjo da Guarda, com a construção da Barragem do Bacanga e o desaparecimento da Praia da Madre de Deus, ele liderou por 52 anos o grupo cultural Dança do Coco Pirinã, sendo 14 na Madre de Deus e 38 anos no bairro mais populoso da área Itaqui Bacanga. Ali, sustentou uma luta titânica para manter viva a tradição dessa dança peculiar das manifestações culturais do Maranhão, representada pelo homem do campo, em especial, as quebradeiras de coco.


Guarda pretoriano, em 1972, na Paixão de Cristo — Participativo, se era para o melhor do Anjo da Guarda, na primeira encenação, ali, da Paixão de Cristo (O Mártir do Calvário), baseado no original do autor português Eduardo Garrido, no Colégio Y Bacanga, na Rua Iraque, ele atuou de guarda pretoriano, consoante o Jesus da peça, o jornalista Douglas Cunha, que residia no bairro, então, em 1972. Ele contou que Sabujá desempenhou seu papel com desenvoltura, num elenco que tinha Lauro Guaianaz (guarda pretoriano), Agripino Guimarães (Judas), e direção de José Santana, morador da Rua 4, na Madre de Deus, e que fazia Caifás. “No Boi da Madre de Deus, no Fuzileiros, Turma do Quinto, e no Coco Pirinã, ou ele já ícone da Cultura Popular, sempre mantivemos uma relação de amizade respeitosa!”— assinalou Douglas Cunha, para acentuar que dali o Grupo Grita faria o alicerce da Via-Sacra.
Pai do soldado romano, em 1981, no começo da Via-Sacra!” — Já jornalista profissional, em 1981, e desde aí fazendo divulgação do evento de livre-arbítrio, e lutando, quando foi ameaçada de não acontecer, pela politicagem gangrenosa, conto desde a Via-Sacra inicial do Grita (Grupo Independente de Teatro Amador): Onde era uma palhoça, Gigi Moreira, Cláudio Silva, Zezé Lisboa, entre outros iluminados, erigiram o Teatro Itapicuraíba, na Av. Dinamarca, e alçaram o maior espetáculo a céu aberto do Estado, na Semana Santa; acompanhei o primogênito de Sabujá (Pedro Batista Ferreira Santos, o Pedro Cego), representando um soldado romano, sem traquejo, que fez o Cristo, o radialista Ribamar Furtado (Areu), ser substituído pelo polivalente Gigi Moreira, na Sexta-Feira Santa. Nada a ver com as doses de Jurubeba Indiana, que patrocinei na quitanda do Seu João Gabriel, para os atores de primeira viagem emocionarem a plateia. Estou com a Via-Sacra assim da poeira ao palco!


Nos 50 Anos do Anjo da Guarda ou Estrangeiro — Não deixamos passar em branco, a celebração do Jubileu de Ouro do bairro que nós, seus criadores, apelidamos, carinhosamente, de Estrangeiro, por ter nomes de países de todos os continentes, como impôs o prefeito Epitácio Cafeteira contra flores do governador José Sarney, que vinham às turras desde o incêndio das palafitas do Goiabal, em 14.10.1968, com os afetados indo a toque de caixa para o bairro em formação, em 28 do mesmo mês. Estudante do Liceu, ativista do Clube de Jovens da Madre de Deus, acompanhei os primeiros remanejados de 14 famílias, primeiramente, ao Anjo das Guarda, ali, sem nenhuma estrutura (em barracos provisórios) até que houve a construção das de telha e tijolo: centenas de outros transferidos, em 1969/70, da Praia da Madre de Deus, Salina do Goiabal e Lira tiveram apenas barracos de palha.
Jubileu de Ouro, sem precisar dos 500 reais do deputado — 50 anos depois, na noite do dia de 28.10.2018, ajudei na comemoração simples do transcurso, mas significativa, no Recanto da Paixão, com a contribuição da agente cultural Layce Aguiar, que providenciou as placas comemorativas; do então vereador Cézar Bombeiro, que viabilizou os banheiros químicos; e som do comerciante e ex-jogador de futebol profissional Severo (Sessé), também removido para ali no começo de 1970. Não tivemos como fazer shows para mais assistentes, pois um deputado a quem recorremos, na Assembleia Legislativa, saiu com a maior cara dura de que só podia “ajeitar” 500 reais, o que não cogitamos ficar; e o jornalista e compositor Cesar Teixeira, sempre generoso com nossas solicitações em eventos desta natureza, no Anjo da Guarda e Madre de Deus, sem comunicação nossa, foi para o Recanto da Ressurreição. Reverenciamos vultos alterosos do bairro, através dos tempos: Clodoaldo Martins (Cambota), Valdenir Estêvão Castro, José Marinho Garcez (em memória, representado por sua filha, Flavita Garcez), Sabujá e Maria Garcez (pelo seu filho, Raimundinho Boteco), etc.


A árvore da continuação — Sabujá foi revendedor de pescado, que nem seu pai, o legendário Benedito Curubinha, massagista do Vitória do Mar Futebol Clube e um pé de valsa de primeira grandeza. Era casado com a matriarca Jacira Ferreira Santos, e tiveram 12 filhos: Pedro Batista Ferreira Santos (Pedro Cego), Maria Celeste Ferreira Santos Porto, Íris Maria Santos da Cruz, Carlos Magno Santos Vieira, Andiara Santos Nunes , Núbia Ferreira Santos Barbosa, Aurecelies Santos Soares, Ângela Batista Santos Macedo, Ednamar Ferreira Santos Vilas Boas, Jailson Ribamar Ferreira Santos, Márcio Jean Ferreira Santos e Leila Maria Ferreira dos Santos.
- Celeste e a Reza de Santa Bárbara — Em 1992, Sabujá pegou a Reza de Santa Bárbara para dar continuidade à promessa da sua mãe, D. Celeste, da qual muito participei, ainda universitário, da ladainha, dos pratos de comida de cocó e dos bailes de radiola, qual ela fazia na Madre de Deus, no cocuruto da ladeira da Rua São Pantaleão. Seus filhos deverão continuar o Coco Pirinã (Jean, entre eles); Pedro Cego, no bloco carnavalesco organizado Pau-Brasil; e todos na Reza de Santa Bárbara!


Aos homens de boa vontade! — Não guardava almoço para janta, e sempre tinha um argumento para não baixar a guarda, primeiro, numa boa discussão cultural. Sempre foi ao velório e sepultamento dos do seu vasto círculo de amizade, no Anjo da Guarda e Madre de Deus, onde nos encontramos pela última vez, na Plasfran, na Areinha, quando foi velado o corpo de Miguel (Arcângelo Santos) Barata, funcionário da Secretaria Estadual da Educação, de 66 anos, filho do inesquecível líder comunitário Dico Barata, falecido em acidente de carro, em Caxias, no dia 11.11.2020, e enterrado, às 9 h. do dia 12, no Cemitério do Gavião. Na homenagem que recebeu do Bloco Cobras nas Estrelas, na Passarela do Samba, no concurso de 2018, fui abraçá-lo, com a saudação “Saúde e Paz, Sabujá”! . Ouvi: “Aos homens de boa vontade, Betinho”! Era a corruptela do Cântico dos Anjos Glória a Deus, nas Alturas, e Paz, na Terra, aos Homens de Boa Vontade!
Descansa em Paz, José Santos Sabujá! “Paz na Terra é a Glória de Deus!” (Lucas 2:10-14).
Texto: Herbert de Jesus Santos
Edição: Gutemberg Bogéa