A startup Dona Rita hoje está em operação desde janeiro de 2016. O empreendimento surgiu unindo a percepção de oportunidades no mercado para solucionar necessidades do consumidor doméstico e de empresas, aliando a perspectiva social junto com diferenciação e ineditismo.


A Dona Rita oferece profissionais para limpeza de residências e empresas, além de serviços de lavadeira e passadeiras, tudo através de assinatura mensal em seu próprio site (www.donaritaapp.com.br). O cliente contrata um dos pacotes prontos ou monta opções sob medida para suas necessidades, escolhe datas de pagamento mensal, tudo sem a obrigação de fidelidade.
Por trás do empreendimento, um conceito que se intensificou na pandemia: a oferta de produtos e serviços focados no bem-estar do cliente que teve que se recolher em casa em função do isolamento social. “Somos uma família que cuida do bem-estar de outras famílias e empresas e que ajuda mulheres e homens diaristas a aumentarem suas rendas, profissionalizando seus serviços. Esses são propósitos que seguimos para fazer de uma boa ideia, um negócio sustentável. Os clientes ficam na Dona Rita por se sentirem satisfeitos com os serviços que prestamos”, pontua Eduardo Araújo de Oliveira, gestor do negócio.
O nome Dona Rita surgiu em homenagem à mãe de Eduardo, que se chama Rita. Nos momentos de folga, ela fazia faxina para complementar a renda familiar. Tida como uma referência, Dona Rita tornou-se uma espécie de consultora, quando o assunto era indicar para amigos diaristas, babás, empregadas domésticas e cuidadores. Aquilo que era informal, virou um negócio, que se consolida a cada dia, conquistando mais espaço. Hoje, mãe (que é conselheira permanente da empresa) e filho se dividem na tarefa de fazer daquela boa ideia original, um negócio sustentável.
“Sobreviver no mercado não é fácil. É preciso foco e persistência. De 2016 para cá, acumulamos aprendizados sobre o mercado, clientes e suas necessidades e sobre a importância das parcerias. Hoje, somos um negócio social que tem o objetivo de dar lucro e já conquistamos a sustentabilidade, avançando agora para planejar o nosso crescimento”, reflete Eduardo Araújo de Oliveira.
Eduardo aponta, entre as dificuldades do dia a dia, a necessidade de “vender valor, ao invés de preço”. Esse tem sido o principal desafio desde o início da operação. “O cliente que busca preço, geralmente não fica conosco; já o cliente que enxerga valor naquilo que fazemos, que é proporcionar bem-estar, saúde ambiental e emocional através dos serviços de limpeza e outros serviços domésticos, esse sim permanece por muito tempo. Existem clientes que estão conosco há quatro anos e são disseminadores do nosso trabalho”, analisa o empreendedor.
Como a maioria dos negócios criativos do Nordeste, a Dona Rita tem encontrado no Sebrae suporte para o crescimento e para se fortalecer e ampliar a presença de mercado. Outro caminho são os editais para e chamadas públicas para captação de recursos, algo que, para Eduardo, precisa ser ampliado.
A Dona Rita foi contemplada em edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Maranhão (Fapema). “Participar desse edital foi um verdadeiro divisor de água na nossa trajetória. Isso nos deu lastro para transformar o que estava no campo das ideias, em algo palpável. Acredito que sem o apoio dessas iniciativas, e de instituições como o Sebrae, nosso começo teria sido muito mais difícil do que foi. Essas iniciativas precisam ser ampliadas, pois são um caminho para muitos empreendedores, que precisam de apoio para crescer”, reforça o empresário.
Força produtiva na economia nordestina


A Dona Rita é cliente do Sebrae, atendida por meio do Projeto de Economia Criativa, participante das ações do Sebrae Lab voltadas à inovação, dentre os negócios de capital intelectual. O empreendimento e Eduardo representam bem o perfil dos negócios criativos da região Nordeste, mapeados entre agosto e outubro últimos, por meio do Mapeamento Sebrae de Economia Criativa do Nordeste. O mapeamento recebeu 548 inscrições e identificou 515 negócios baseados no capital intelectual e cultural e na criatividade que geram valor econômico na região.
Realizado em parceria com o Impacta Nordeste e a Pipe.Social, o mapeamento trouxe dados que permitem compreender melhor o ecossistema de economia criativa regional e identificar desafios e oportunidades para fomentar esse segmento. Negócios como a Dona Rita, concorreram a capacitações do Sebrae e prêmios em dinheiro e hoje participam de uma ampla rede colaborativa formada por criativos da região, criada pelo Sebrae.
Nesta etapa, o mapeamento mostra dados gerais da região. Mas, o Sebrae no Maranhão planeja, a partir dos questionários captados, compilar os dados específicos do estado para disponibilizar em seus canais de comunicação no princípio de 2021.
Para Danielle Abreu, analista do Sebrae (MA), gestora do projeto Cadeia de Valor da Economia Criativa Nordeste, a atividade é um importante condutor do desenvolvimento econômico da região com imenso potencial de geração de renda e emprego. Segundo ela, conhecer esses dados é fundamental para desenvolver novas iniciativas que fomentem o setor.
“Conhecer a realidade e necessidades dos empreendedores criativos é importante para que possamos direcionar os esforços e elaborar estratégias de atuação focando demandas reprimidas para fortalecer o ecossistema da economia criativa do Nordeste”, afirmou a analista.
Criativos em Números
Pelo mapeamento, foram identificados negócios de diversos segmentos, divididos em quatro categorias: consumo (design, arquitetura, moda e publicidade); mídias (editorial e audiovisual); cultura (patrimônio e artes, música, artes cênicas e expressões culturais) e tecnologia (P&D – pesquisa e desenvolvimento, biotecnologia e TIC – tecnologia da informação e comunicação).
Um total de 63% dos pesquisados responderam atuar na cadeia da cultura; 47% em consumo; 25% em mídias e 8% em tecnologia. De acordo com o mapeamento, 62% das empresas possui um modelo de comercialização B2C, ou seja, venda direta para o consumidor; 61% das empresas faturam até 100 mil reais e 16% afirmam já serem sustentáveis financeiramente.
O mapeamento avaliou ainda a fase de desenvolvimento dos negócios criativos do Nordeste. Entre estes, 39% está na fase de organização do negócio; 11%, na formulação de protótipos e 20% em fase de identificação do MVP (consolidação do Produto Mínimo Viável). Apenas 4% dos mapeados se encontra em fase de pré escala ou validação, antes a operação propriamente dita. A idade dos negócios é equilibrada: 33% possui mais de 5 anos, 32% até 2 anos e 28% de 2 a 5 anos.
Perfil
Já o perfil do empreendedor criativo do Nordeste mostrou-se bem diversificado. Com relação à raça, 38% se declarou pardo, 37% branco, 20% negro e 1% indígena. As mulheres representam 55%, homens 43%, 1% se declararam transgênero e 1% optou por não responder. A média de idade da maioria dos fundadores é de 30 a 39 de idade (32%).
Entre os negócios pesquisados, 48% declararam ter atingido a maturidade financeira e 25% revelaram não terem atingindo o ponto de equilíbrio ou não saber quando isso acontecerá.
No que se refere aos modelos de negócios praticados, 62% optam pelo B2C (negócios focados no consumidor final); 25%, no B2B (negócios entre empresas); 23%, no modelo C2C (comércio eletrônico) e 16%, no formato B2G (negócios com o setor público).
Quanto às formas de apoio, 66% tem no Sebrae o grande suporte e a expectativa deles é que o apoio venha na forma de orientação para remodelar os negócios, transformação digital, orientação para acesso ao crédito e para captação de recursos via editais, acesso a redes de relacionamento e a conteúdos da economia criativa, além de orientações sobre políticas públicas para o setor.
Com relação às leis de incentivo, 60% não conhecem e nunca utilizaram; 9% tentaram uma vez e não foram bem sucedidos; 11% tentaram mais de uma vez e também não tiveram sucesso, enquanto 18% dos consultados declararam terem tido acesso aos benefícios previstos nesses instrumentos.
No quesito faturamento, 61% dos mapeados faturam até R$ 100 mil; 31% declaram não ter faturamento; 4% faturam entre R$ 100 mil e R$ 500 mil e apenas 1% tem faturamento superior a R$ 500 mil reais, em um mercado que gerou R$ 155,6 bilhões para a economia brasileira em 2015, segundo “Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil” publicado pela Firjan em dezembro de 2016.


O gerente da Unidade Regional do Sebrae em São Luís, economista Mauro Formiga, reforça a importância desses dados como subsídio para ações do Sebrae. “Ao colher dados sobre o perfil das empresas e dos empreendedores da economia criativa, o Sebrae ganha condições para planejar estratégias para esse segmento. O Nordeste e o Maranhão tem expressiva vocação criativa e esse é um caminho com amplo potencial para alavancar o crescimento econômico e social da região e do estado”, avaliou.
Texto: Samme Ribeiro