Após um bom tempo, na queimação das pestanas, em elucidação até de termos em desuso, para melhor compreensão, como São Luís falava, no início dos 1940, nas classes mais humildes, encerrei Tudo a ver com o Peixe de São Pedro (A Festa do Pedro Santo, o Padroeiro dos Pescadores, no Bairro da Madre de Deus), em verso, prosa e mais emoção. Já aguarda sinal verde do prefeito Eduardo Braide, que, em 2018, na Capela de São Pedro, na véspera do dia maior do festejo, prometeu para mim a impressão da obra, e fui lembrá-lo, dia desses, em seu gabinete, quando fui gentilmente recepcionado pelas assessoras Mônica e Marilza, que encaminharam a reiteração do meu pleito àquele. Por antecipação, desabará a Torre de Babel surgida nos meios de comunicação em como e quando começou a tradição, pois chutavam com quase 50, mais de 100 anos, o tempo dado na telha do(a) entrevistado(a) à reportagem, etc. Não valeu desde o início do séc. 20, por sabermos que a comemoração era só com as embarcações velejando no Rio Bacanga, sem a capelinha e a imagem do santo.
Vizinho do Pedro Santo — Com o privilégio de ter a vizinhança do Pedro Santo apegado do meu berço, e Minha Avó paterna (Marcelina Cirila dos Santos, D. Marcela), sua zeladora, em pé, num banco da capela, com fácil visualização, eu bem pequeno, tinha o meu primeiro Natal, com os brinquedos de zabumba (de Medonho, Mizico e Lorentino), no raiar de 29 de junho, e que me deixavam, no largo, canutilhos e miçangas, guardados numa caixinha de papelão, até que manjei que não eram os brilhantes da minha imaginação; e, depois, os de matraca, e, hoje, todos os sotaques. Aviso, também, aos confrades verdes, que São Pedro não é o Padroeiro dos Bumba-bois, embora os cordões na louvação à sua data, noticiado errado, em alguns meios de comunicação. O patrono é São João do Carneirinho, ou São João Batista (festejado no dia do seu falecimento, a 24 de junho), que profetizou o Messias, batizado por ele no Rio Jordão, e na protagonização, na Judeia, do acerto de Isabel (sua mãe) e Maria (a de Jesus), primas, de quem desse à luz primeiro, no caso, Isabel, anunciaria com uma fogueira acesa, em seu terreiro, começando daí esse costume joanino. Fiquem à vontade onde Simão (Pedro), pescador, foi apóstolo de Cristo, primeiro papa (bispo de Roma), e condenado à morte por crucificação, na era em que o psicopata do Nero incendiou Roma, e culpou os desafetos cristãos (que professavam sua fé, escondidos em catacumbas), e suicidou-se, dedilhando uma lira, e se achando com “Que grande artista o Mundo está perdendo”! Escreveram que São Pedro, antes do desenlace, tratou de se mandar da Cidade Eterna, e, na saída, deu com Jesus, e desconversou: “Senhor, aonde vais”?! E o Nazareno: “Vou ser crucificado de novo”! Decifrando a insinuação, regressou, querendo que seu suplício fosse de cabeça para baixo, sem semelhança com o do Seu Mestre. É festejado, em 29 de junho, desde o quarto século, inserido na História Eclesiástica, II.
O que viram um dos fundadores do Festejo e descendentes deles — Para fugir do dito de “Em casa de ferreiro, o espeto é de pau”, em 2007, preocupei-me em fazer a concentração de parentes e amigos mais velhos, para uniformizarmos a origem da Festa de São Pedro, no bairro, pois a cada ano, por um lapso, saía uma versão diferente nos jornais. Na igrejinha, de feitio moderno, do Pedro Santo, conhecido assim entre nós, da gema, na tarde da antevéspera do seu dia, Francisca Batista Soares dos Santos (D. Chica, de 78 anos, então) revelou que se originou em 1940, com a devoção de pescadores, qual Filomeno dos Santos, com quem casou. O pescador aposentado José Raimundo Carvalho (o Zé de Zuleide, com 102 anos, ali) assinalou que, de 1940 a 1948, a capela era de taipa e palha, e a de alvenaria e telha, em 1949, ajudada pelo político e industrial Cesar Aboud, dono da Fábrica Santa Isabel (Fabril). Isabel dos Santos Rodrigues (Bela, ali, com 74 anos, filha do pescador Bazílio dos Santos Martins ), João Batista dos Santos (77), Gervásio Gomes dos Santos (74), meus primos mais velhos, também netos da primeira zeladora, reconheceram o benfeitor Cesar Aboud, deputado estadual, até por que na Fabril havia operário(a)s da Madre de Deus, como a Minha Mãe, Doralina de Jesus Santos (Dora).
A primeira capela de alvenaria, em 1949, n´O Imparcial — Rato de Biblioteca Pública Benedito Leite, pesquisei e publiquei logo no JP Turismo que, no jornal O Imparcial, de 28.6.1949, o presidente e o tesoureiro da Colônia dos Pescadores Z-1 Almirante Barroso, respectivamente, Severino Godofredo dos Santos e Gregório Tito de Sena, convidam povo e autoridades para a inauguração da Capela de São Pedro de tijolo, no dia 29, para prestigiarem a missa solene, a procissão marítima, indo em frente da Igreja dos Remédios até à Ponta d´Areia, regressando à Madre de Deus, e agradecem o apoio de César Aboud. Esta ganhou duas construções da Prefeitura de São Luís, em1973-1995, e a atual, no alto, do governo Roseana Sarney, em 1997.
Vovó Marcela com São Pedro— Em Tudo a ver com o Peixe de São Pedro, Vovó é insuperável, dizendo o que seu peito sentia para os meus padrinhos, Francisco Galvão dos Santos (Chiquito) e Aldenora (Dedé), para me criarem, na Rua do Apicum, pois, com Meu Pai, em alto-mar, e Mamãe, operária, na Fabril, ela não tinha mais força para me ver na escola e catecismo, e eu só no banho de maré e jogando bola, nas ruas. No poema Vovó Marcela com São Pedro, eu reconheço sua presença decisiva para eu ser vitorioso, através dos estudos, porquanto, analfabeta, pedia-me, menino, desasnado, para eu ler o jornal, ela, com a imagem do Padroeiro dos Pescadores, que nem todos os seus filhos. Quando eu deixei o Curso de Direito e fui aprovado em novo Vestibular (ao recentemente implantado Curso de Comunicação Social/Jornalismo) da UFMA, recordei que ela me pedira para eu ser como aquele que redigira a matéria de jornal que eu lia para ela. Raciocino que, como jornalista e escritor, eu ajudaria mais a Festa de São Pedro, criada por ela, do que como advogado, aliás, sempre com boas pelejas: Eu fiz escola por ela/e lia o jornal pra nós três; e sua chegada no céu: Chegou sem pedir licença,/não era a Irene do poeta Manuel Bandeira;/nem tratou vossa incelença,/ “meu branco” nem abriu porteira/.Era só pra varrer o céu,/e para cuidá-lo tão cedo:/ela, na Madre de Deus,/já era assim com São Pedro!

