Com o tema José Chagas: uma Vida Voltada Para a Poesia, o professor de Literatura e escritor José Neres proferirá palestra, no auditório da Academia Maranhense de Letras (AML), às 19 h de terça-feira. José Neres (José Ribamar Neres Costa, nascido São José do Ribamar, em 17 de fevereiro de 1970) é membro da AML, onde, desde 2014, ocupa a cadeira n.º 36, sucedendo ao jornalista, cronista e contista Ubiratan Teixeira.


Porque seria normal, José Neres, dada até a rigorosidade do horário, preferiu mais o tempo do literato de mão-cheia a passagens, sem dúvida, inolvidáveis de José Chagas, a uma plateia repleta de membros do sodalício, jornalistas e escritores, alunos do Centro de Ensino Jackson Lago, da rede estadual, admiradores e a sobrinha do reverenciado, Deusana Chagas. Paraibano de nascimento, mas maranhense de alma e coração, José Chagas (José Francisco das Chagas) soube como poucos cantar as belezas e as mazelas de São Luís em verso e prosa. Nascido no Sítio Aroeiras, município de Piancó (atual Santana dos Garrotes), na Paraíba, a 29 de outubro de 1924, o poeta, se vivo, celebraria 100 anos em 2024, o que a Casa de Antônio Lobo, consoante seu presidente, Lourival Serejo, já está se preparando para comemorar á altura .Por ocasião do recebimento do Título de Cidadão Maranhense, oficializado no dia 27 de outubro de 2004 pela Assembleia Legislativa, como parte das comemorações pela passagem dos seus 80 anos, José Chagas disse “Vejo este momento de forma emocionante, um presente dos mais inesquecíveis. Este título vem complementar o envolvimento que já tenho com a cidade, desde o início, pois fui integrado por São Luís e São Luís integrada por mim”.
O Palavrador e O Caso da Ponte de São Francisco — Mestre do trocadilho, ficou O Palavrador, lembrando que fora, na adolescência, agricultor em sua terra natal. Publicou esta pérola em O Caso da Ponte do São Francisco sobre denúncias de verbas federais, que vinham para a construção da obra, e ela só nunca saía do papel: “Com pincel comprido ou curto, /pinte-a seja como for:/se a ponte é feita de furto,/pinte a ponte furta-cor!”
Puxando a cachorrinha da Poesia —- Radicado no Maranhão desde 1948, onde fez toda a sua vida literária, José Chagas foi funcionário da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Vereador da Câmara Municipal de São Luís por um mandato, onde também serviu como diretor da Secretaria-Geral. Jornalista profissional, exerceu as funções de técnico em Comunicação Social na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) até aposentar-se. Foi cronista no jornal O Estado do Maranhão, no qual mantinha coluna semanal. Apaixonado por São Luís, o poeta é autor de dezenas de títulos, com a maioria deles dedicados à cidade que o abraçou desde sua chegada, retirante que fora do sertão paraibano, que nem ele disse em sua posse, na Casa de Antônio Lobo, que considerou “palácio para um indigente”: puxando a cachorrinha da poesia!
Uma vida toda vigiando São Luís — José Chagas estreou, literariamente, em 1955, com Canção da Expectativa. Assumiu a Cadeira nº 28 da AML no dia 3 de abril de 1975. Ele foi Patrono da 5ª edição da Feira do Livro de São Luís (FeliS), promovida em 2011 pela Prefeitura. Falecido em 13 de maio de 2014, deixou uma enorme contribuição à Cultura do Maranhão por meio de obras, além da da sua estreia, como Os Canhões do Silêncio, O Discurso da Ponte, Os Telhados, Azulejos do Tempo, Apanhados do Chão, Colégio do Vento, De Lavra e de Palavra ou Campoemas e Maré/Memória. Ficou famoso, igualmente, quanto O Cronista da Cidade. Assim também ele imprimiu uma vigilância ao acervo de São Luís, intelectual e arquitetônico.


Os Canhões do Silêncio no carnaval — Facultada a palavra por José Neres, ao final da sua sintética e alteada conferência, bastante aplaudida, solicitei a palavra. Lembrei que o monumental Os Canhões do Silêncio de José Chagas foi tema de samba-enredo da Escola Favela do Samba, do Bairro do Sacavém, no carnaval de 1995, comemorando ainda os 70 anos dele, em 1994. Sem ser campeã, foi pivô de uma revolta, que resultou em poema meu, com o compositor Escrete (da irascível raça dos poetas, no dizer de Cícero/Marco Túlio) liderando uma revolta, nas ruas centrais de São Luís, só faltando desafiar as forças armadas com Os Canhões do Silêncio de José Chagas. Assinalei que fui trabalhar na Revisão Literária do Sioge, quando ele pediu o cargo, na autarquia industrial do Estado, ao seu confrade da AML, editor e ensaísta Jomar Moraes, de onde, com melhor condição financeira, evasor do Curso de Direito, voltei à UFMA, aprovado em novo vestibular, para Comunicação Social (Jornalismo), e me entusiasmei à carreira de escritor. Encerrei: “Foi o meu primeiro compadre de alma, padrinho de batismo da minha primogênita, Amarílis! Foi e é um dos maiores poetas lidos e queridos por mim!”.
Texto: Herbert de Jesus Santos