A escritora, poeta e contista Lenita Estrela de Sá, que há muito se dedicando também à narrativa infantil, estreia desta vez no romance com o seu “Os anéis de Maria”.


Lenita tem todo um percurso no cenário cultural e literário, já publicou livros de contos, literatura infantil, teatro e poesia, além de participar de diversas antologias e revistas literárias e estabelecer diálogo com nomes da prosa literária, tais como o romancista Josué Montello.
Conforme a autora, a elaboração do livro durou três anos, entre pesquisas e redação do texto, sendo esse o seu décimo quinto livro.
Em “Os anéis de Maria”, a narrativa se passa na São Luís dos anos 40, quando tem início a caminhada de um casal pobre, empenhado em conciliar estudos como única via de ascensão social, trabalho exaustivo e ambições artísticas.
A partir da saga de suor, sangue e fábrica, acompanhamos o cotidiano árduo de Maria e Inácio, em um Brasil explorador, com restrições às mulheres, aos pobres e a todo aquele que, de alguma forma, não nasceu em berço estrelado – e precisa, portanto, subir a montanha na marra para capturar estrelas.
O livro tem a apresentação da orelha assinada por Maria Valéria Rezende e o prefácio por Daniel Zanella. Seu lançamento acontecerá em live com o escritor Cefas Carvalho, dia 04 de abril, às 18h, no canal da Editora Penalux, no Youube.
O livro pode ser adquirido no site da editora e, em São Luís, nas livrarias AMEI e Vozes.
[Trecho do Romance]
Capitulo 13


14 Mortos no Pavoroso Incêndio! Era a manchete estampada em um terço da primeira página do Jornal Pequeno, sobre as violentas explosões de tonéis de combustível nos porões do cargueiro Maria Celeste, às nove horas e trinta minutos daquela terça-feira de março. De olhos crescidos, Inácio lia com voracidade as notícias estarrecedoras da edição de número 1109.
O incêndio começou no porão do navio, chegado na véspera ao porto de São Luís com três mil e quinhentos tambores de inflamáveis e pouco mais de quinhentos volumes de carga geral, destinada a diversas casas comerciais da cidade. Na Beira-mar, grande multidão se acotovelou para ver o navio envolto em labaredas, espantando-se a cada explosão ouvida. O espetáculo era verdadeiramente sinistro: pessoas em chama no convés, outras sufocadas pela fumaça, outras gritando em desespero para serem salvas. As chamas se elevavam a uma altura superior ao cume da catedral metropolitana, centenas de tonéis de inflamáveis voavam pelos ares, envoltos em chamas, espalhando-se pela baía. Felizmente a maré na vazante e os tonéis tomaram o rumo da boca da barra. Como narrava o jornal, não ficara em casa uma viva alma, deslocando-se o povo todo para a rampa Campos Melo, lotando de curiosos a longa avenida, chocados com as cenas de desespero, os protestos dos mais afoitos, a ausência de ambulâncias para socorrer os feridos, não tendo aparecido um médico sequer para atender os acidentados, não se via uma ambulância para acolher os feridos, muito menos enfermeiros que prestassem aos náufragos os primeiros socorros, abandonando assim o poder público os feridos aos cuidados da caridade das pessoas, os infelizes colhidos pela desgraça em frente aos jardins do palácio do governo – pelo menos era o que comentavam quantos assistiam à cena dantesca do fogaréu devorando a embarcação em pleno mar, com o risco de vida de todos os tripulantes e estivadores empregados na descarga do vapor.”
Texto: Antônio Aírton