Entre os dias 28 e 30 de Setembro, ocorreram às inscrições para as seis oficinas da 43ª edição do Festival Guarnicê, e cada uma possui um total de 20 vagas e carga horária de 30 horas. Para a realização das oficinas, foi firmada uma parceria tripla, envolvendo a Universidade Federal do Maranhão (UFMA), a Academia Internacional de Cinema (AIC) e o Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IEMA).


A pesquisadora e produtora cultural Marla Silveira, que faz parte do DAC (Departamento de Assuntos Cultural)/UFMA ocupa o cargo de coordenadora de conteúdos do festival e, em entrevista a nossa reportagem, comentou a parceria entre as instituições.
“Todos os anos, os organizadores do Festival Guarnicê de Cinema buscam parcerias com importantes instituições de ensino audiovisual por entender que esse setor no Maranhão precisa fazer esse intercâmbio. A parceria com a AIC já existe há um bom tempo, situação diferente da escola de cinema do estado, que estará no festival pela primeira vez”.


Este ano, o evento terá como novidade o fato de que estará presente uma proposta mais integrativa e colaborativa, já que as oficinas irão criar curtas-metragens de no máximo, 3 minutos, que serão exibidos às 9h30 da manhã do dia 21 de Outubro pelo canal do festival. Este ano também ocorrerá o sorteio de duas bolsas integrais para os cursos de roteiro e pitching audiovisual da AIC e oferta de 20% de desconto para os demais interessados que participarem do Guarnicê.
Porém, um dos aspectos que mais chamou atenção foi o fato das oficinas serem ministradas somente por profissionais do sexo feminino: Aurea Maranhão (oficina trabalho e criação do ator), Fabiana Quintana (som para cinema), Jô Sefarty (direção), Juliana Salazar (produção), Marilia Moraes (montagem) e Renata Mizrahi (roteiro).
“A idéia de chamar apenas mulheres para as oficinas surgiu devido às primeiras conversas entre a equipe do festival e o diretor pedagógico da AIC, Martin Eikmeier. Falávamos de como a mobilização das mulheres no audiovisual tem crescido nos últimos anos, sobretudo em debates sobre equidade de gênero no setor promovidos nos diferentes encontros e festivais”, comenta Marla Silveira.
De acordo com pesquisa realizada pela Ancine (Agência Nacional de Cinema), em 2016, 20% dos longas brasileiros lançados comercialmente foram dirigidos por mulheres e dois anos depois, em 2018, essa porcentagem subiu para 22%, o que significa que a cada dez produções, duas são lideradas por profissionais do sexo feminino, deixando claro que, apesar do aumento, a presença da mulher no cinema ainda é baixa.


Juliana Salazar, coordenadora geral de produção da AIC e responsável pela oficina de produção audiovisual, trabalha como produtora há 15 anos e já participou dos mais diferentes tipos de projetos, como por exemplo, reality shows, videoclipes, séries e documentários. Apesar dos números, ela conta que está otimista para o futuro.
“Ainda temos um longo processo pela frente, para finalmente ganharmos espaço e representatividade, tanto na frente quanto atrás das câmeras, mas tenho fé, acredito que o movimento é promissor e, apesar das mudanças estarem acontecendo devagar, vejo com otimismo tudo o que tem acontecido no setor audiovisual do nosso país”.
Renata Mizrahi, responsável pela oficina de roteiro, estudou em Cuba e na Oficina de autores da Globo, onde também chegou a trabalhar. Atualmente, concilia a responsabilidade de roteirizar para teatro, TV e cinema com o cargo de coordenadora do curso de formação de roteiro da AIC e deixa claro que vê com bons olhos a presença de um grupo de oficineiras 100% feminino.


“Pra mim, tudo isso é algo muito positivo, é importante as mulheres estarem presentes em posições de liderança, que costumam frequentemente serem ocupadas por homens, e o fato de os organizadores terem tomado essa decisão contribui para que cada uma de nós se sinta representada. Espero que nós (as oficineiras) possamos servir de inspiração para outras mulheres que sonham em entrar pro mundo do cinema”.
As oficinas irão ocorrer de forma online, via plataformas da AIC e da Escola de Cinema do Maranhão, entre os dias 13 e 21 de Outubro, enquanto o festival irá ocorrer de 14 a 21 de Outubro, de forma hibrida, com solenidade de abertura e encerramento no formato drive – in na concha acústica da cidade universitária Dom Luis Delgado, no Bacanga, em São Luís.
Artista da terra marca presença dupla
A atriz e diretora Áurea Maranhão frequenta as atividades do principal evento do audiovisual maranhense há 20 anos, chegando a participar de oficinas nas edições anteriores. A artista dirigiu e estrelou o curta-metragem “Carnavalha”, que na edição do Guarnicê de 2017 venceu os prêmios de melhor atriz e melhor direção de arte na seção Concurso oficial de filmes maranhenses e recebeu o primeiro lugar na categoria de melhor filme maranhense da seção Troféu ABD (Associação Brasileira de Documentarista e Curta) – Maranhão.
Hoje, três anos depois, Áurea Maranhão não só irá ministrar uma das oficinas, como também é a protagonista de “Terminal Praia Grande”, um longa-metragem que está participando da mostra nacional competitiva do quarto festival mais antigo do país. Em entrevista a nossa reportagem, ela fala sobre a ideia de liderar as aulas de uma das oficinas e revela a visão que tem do evento.
“É uma grande alegria dar as aulas de uma das oficinas do Guarnicê, a idéia de participar do festival de uma forma que eu possa trocar experiências com outras pessoas me alegra muito, o festival contribui muito para os artistas e para a comunidade, uma vez que ele é um espaço de trocas e permite acesso com as pessoas que criam projetos e fico feliz de participar. A cadeia artística de São Luís está em desenvolvimento e essa é uma oportunidade de mostrar nossos artistas”.
Homenagem
Os organizadores Guarnicê não só escolheram realizar oficinas lideradas por mulheres, como também irão homenagear uma: está marcado para ocorrer uma homenagem para atriz, diretora e roteirista maranhense Cleonildes Beserra Magalhães, conhecida pelo nome artístico Dida Maranhão. No primeiro dia do evento, será exibido um vídeo com momentos marcantes da vida e carreira da artista natural de Bacabal.
Dida Maranhão começou a se interessar por arte ainda quando era criança, quando morava no interior e tinha o costume de, ao lado de suas amigas, montar pequenas peças e realizar apresentações para os seus vizinhos, mas só foi se aproximar mais das artes em 1994, ano em que deu início ao curso de história da UFMA e que começou a frequentar as salas dos cinemas da capital maranhense. Em 2007, a homenageada deu início à especialização de jornalismo cultural, que de acordo com ela, foi de suma importância.
“Foi aí que me encontrei com a prática da democracia e com a paciência dos professores, que por meio dos seus conhecimentos sociais e históricos, me ensinaram a ter postura ética e a me sentir segura nos palcos e nas gravações, se hoje sou uma atriz premiada e homenageada no meu estado, posso dizer que os professores dessa minha especialização contribuíram para que eu chegasse a esse nível na carreira”.
Dida Maranhão, que possui mais de 20 anos de careira, já participou de mais de dez produções cinematográficas como atriz e mais de dez também como diretora de arte, além de já ter roteirizado cinco curtas-metragens; enquanto suas atuações já lhe renderam três prêmios, seus trabalhos como diretora de arte já lhe deram seis premiações. Sua estreia como diretora foi no filme Amores de Dida, de 2008


A artista de Bacabal também já se envolveu em outros projetos, chegando a ter sido conselheira de cultura do Estado do Maranhão no segmento de audiovisual e, até hoje, realizar palestras em cineclubes, chegando a participar da fundação do cineclube SESC, além de em 2020, ter sido escolhida para formar o júri técnico oficial do Guarnicê pela primeira vez, após seis anos como jurada pela seção ABD-Maranhão, Associação da qual ainda faz parte. Em entrevista, Dida conta como se sente em relação à homenagem.
“Sinto-me alegre, feliz, eu chorei de felicidade, e fiquei muda quando eu soube que seria eu a atriz homenageada desse importante festival, mesmo na pandemia eu vou participar da solenidade da abertura do Festival, porque não é todo dia que a gente é homenageada em vida! Sinto-me importante, importante para mim mesma, me sinto crescendo, me sinto forte e realizada”.
A homenagem para Dida Maranhão está marcada para ocorrer às 19h do dia 14/10, na concha acústica da UFMA, no formato drive-in.
Texto: ÍtaloCavalcanti – Estagiário JP Turismo