*Alderico José Santos Almeida
Uma das maiores alegrias e honrarias que recebi na minha vida foi quando a Câmara Municipal de São Luís me concedeu o Título de Cidadão de São Luís em maio de 2012.
Tal honraria reflete o meu amor por esta cidade e legitima o meu estado de pertencimento, com efeitos retroativos a partir de meu primeiro ano de vida.
Tudo começou quando o meu pai, Raimundo Viana de Almeida, então servidor da Rede Ferroviária Federal, lotado no município de Rosário, cidade onde nasci, veio transferido para São Luís, quando eu tinha apenas um ano de idade.
Comecei a me envolver com a vida desta cidade logo que meus pais se instalaram em uma casa no bairro então denominado de “Baixinha”. Esse local ficava entre os bairros da Camboa e Liberdade, na via férrea que cortava toda a cidade.
Porém, as fases da minha infância, adolescência e parte da adulta, ocorreram no Monte Castelo, cujo bairro é a referência de tudo que represento hoje, através da educação que os meus pais me deram.
Ali estabeleci as minhas relações sociais, as quais, muitas, perduram até hoje. E olhe, já se passaram mais de seis décadas.
Lembro-me dos dias que brincava com os colegas da rua e, às vezes, perdíamos a noção de distância e íamos parar na praça Deodoro.
Nas tardes de domingo tínhamos como opção passear na praça Gonçalves Dias ou na avenida Beira-Mar. Que maravilha era a contemplação daquela vista, nunca vista alhures.
Já adolescente, os passeios agora eram outros, sempre no encantador e envolvente Centro Histórico. O local de visitação concentrava-se nos famosos e atraentes cabarés da rua 28 de julho e adjacências. Nesse espaço urbano, havia uma convivência harmoniosa entre o profano e o sagrado. Tão significativa que eram tantas as igrejas ali instaladas: São José do Desterro, São Pedro, São João, Nossa Senhora de Santana, São Pantaleão, Nossa Senhora do Carmo, Santo Antônio, Nossa Senhora dos Remédios, Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e a Catedral da Sé, onde encontra-se a padroeira da cidade de São Luís, Nossa Senhora da Vitória, o que aumentava o leque de possibilidades para, nas manhãs de domingo, pedir perdão aos santos pelos pecados cometidos.
A outra opção era ir aos cines Roxy, Eden ou mesmo o do Monte Castelo, o qual promovia muitos eventos culturais e artísticos devido às suas instalações arquitetônicas.
Por essa época, a área urbana da cidade terminava no bairro do Anil. De tal sorte, os hoje denominados bairros do Vinhais, Turu e Araçagy, e os seus entornos, eram locais para excursão, pic-nic e retiros, onde se explorava, além das belezas naturais dos rios e praias, a vegetação constituída, entre outras, de mangueiras, buritizeiros, jussareiras, cajueiros, goiabeiras, pitombeiras, ateiras e sapotizeiras, cujos frutos seriam comercializados na feira da Praia Grande.
Apaixonado pelo clima de sedução que São Luís transpira e contagia, aqui cresci, estudei, casei e tive seis filhos. Enfim, construí a minha vida alicerçada nos valores morais e intelectual que ela irradia e proporciona. Nada me faltou. Vivo feliz por ter abraçado as oportunidades que me foram dadas e de ter feito as melhores escolhas. Gratidão por tudo isso.
Ah, São Luís, não me fazes chorar com essas lembranças. Até porque não sou saudosista. Mas, a magia e o charme desta cidade, por mais sofisticada e moderna que possa ousar ser, é quase impossível fazer a separação entre o presente e o passado, pois a cada passo que se dá, ele nos conduz sempre ao mesmo cenário de beleza indescritível e, ao mesmo tempo, procura esconder seus encantos e mistérios.
Veja o exemplo atual do Espigão da Ponta D’areia. Este lugar, hoje um dos principais pontos turísticos da capital, atrai pessoas sob o pretexto de apreciarem o por do sol e a beleza do mar, visto no seu horizonte, seu encontro romântico com o céu, o que leva cada qual a uma viagem de sonhos, imaginações e desejos.
A contemplação mudou de lugar, mas o cenário e o mistério permanecem os mesmos. Não importa o nome que é dado a esses locais, tampouco se esta Ilha sofisticou-se. Nenhuma diferença faz para mim tais denominações ou mudanças, assim como para todos aqueles que vivem de forma intensa o dinamismo e a verve cultural que esta cidade produz.
No ano em que São Luís fez 400 anos de sua fundação, tive o privilégio de ganhar o maior presente na vida ao ser adotado formalmente por ela. E hoje, passados nove anos desse evento, o mínimo que posso retribuir por tudo que me proporcionou, é continuar a dar a esta cidade o que tanto precisa: amor e zelo, além realizar gestos concretos visando a difusão de sua história, de defender seu meio ambiente e, sobretudo, respeitar seu patrimônio cultural.
É justamente esse compromisso que se deve ter com esta cidade, pois, desse modo, seus espaços públicos ganharão vida e se tornarão mais humanizados e mais fraternos, contribuindo, assim, para a melhoria da qualidade de vida de todas e todos.
Salve São Luís pelos 409 anos de sua fundação.
*Professor, Sociólogo e Cientista Político
E-mail: soderico@hotmail.com