A empresária Adriana Guerra é MEI está investindo em um novo produto: Kit Bolinho personalizado, em que ela envia a decoração completa para o cliente, aliada a uma consultoria remota
A real dimensão da pandemia do Coronavírus na economia brasileira, ainda está longe de ser avaliada. Mas os donos de pequenos negócios ligados ao mercado de eventos, mesmo com a situação geral preocupante, têm encontrado saídas inovadoras para se manter em atividade, evitando dispensar colaboradores.
É o caso de Adriana Guerra, criadora da “Meninas da Tetto”, empreendimento especializado em decoração de festas. Para driblar a situação complicada do mercado, um dos que mais sofre com a crise, Adriana bolou uma solução inovadora – o Kit Bolinho, uma combinação de festa pocket (pequena), personalizada para atender ao gosto do cliente e assegurar uma comemoração em casa.
“Quando tudo isso começou, imaginei que o meu cliente estaria em casa, em isolamento, mas ainda assim, com o desejo de comemorar e de celebrar. Então criei essa solução, onde mando a decoração completa, aliada a uma consultoria remota, explicando como montar, como organizar a decoração, como posicionar todos os itens, algo que tem funcionado bem. Essa solução tem me permitido manter a empresa e gerar negócios para os nossos fornecedores de doces, balões, personalizados, tudo isso com a máxima segurança”, explica ela.
Como muitos no segmento, Adriana, que é MEI, também teve que trabalhar com o remanejamento de eventos como medida para evitar o cancelamento, sempre negociando com fornecedores. “Em princípio, tivemos pedidos de remanejamento dos eventos para o segundo semestre e agora, mais recentemente, os clientes estão optando por adiar para o ano que vem”, comenta a empresária.
Ela relata que, para manter a estrutura em funcionamento, fez algumas adaptações em casa, para onde remanejou parte do material de trabalho. Em casa, ela está trabalhando para manter o negócio em funcionamento. “ Esse esforço e os novos produtos (o kit bolinho) tem sido o suficiente para pagar meus custos fixos e não precisar despedir minha funcionária. Tenho tirado o necessário para o meu pró-labore e posso dizer que financeiramente valeu muito a pena investir nessa solução”, ressalta.
“Trata-se de uma cadeia que envolve grande número de negócios e fornecedores, a maioria micro e pequenas empresas e MEI’s. Para que se tenha uma ideia, cada evento, em média, mobiliza de 10 a 15 fornecedores diretos, além dos indiretos, incluindo serviços como iluminação, sonorização, confecção de doces e salgados, serviços de montagem e desmontagem, cerimonial, música, decoradores, aluguel de mobiliário e peças de decoração, fabricantes de lembranças e brinde, serviços gráficos, de filmagem e fotos, lojas de tecido e armarinhos, papelarias, dentre outros. O Sebrae tem buscado apoiar o setor com orientações e soluções de crédito e na parte técnica para ajudar neste momento e também estimulando o empreendedor a pensar em como retomar os negócios”, opina o diretor Técnico do Sebrae no Maranhão, Mauro Borralho.
Com os negócios em baixa, investir na gestão também tem ajudado
Dados de pesquisa realizada no período de 14 e 22 de abril pelo Sebrae, em conjunto com a Associação Brasileira de Empresas de Eventos (Abeoc) e a União Brasileira dos Promotores de Feiras (Ubrafe), revelam que a pandemia impactou 98% das empresas do setor, como decorrência das medidas de isolamento social.
A maior parte das empresas teve que reorganizar a gestão para dar conta do desafio, apostando em uma empresa mais enxuta neste momento.
Há sete anos no mercado, a empresária Kamila Paixão, do Villa Reale Buffet, conta que iniciou as medidas de controle utilizando banco de horas dos colaboradores, em março. Em abril, deu férias para quem tinha direito e, agora em maio, estuda algumas dispensas na equipe, que inclui cerca de 80 pessoas entre colaboradores diretos e terceirizados.
“Estamos estudando como fazer essas dispensas, aguardando as perspectiva de retomada, em um cenário que neste momento estamos avaliando cada passo. Alguns eventos foram remanejados para o segundo semestre, agosto, setembro. O mercado está sendo afetado, mas é o momento em que precisamos nos manter de pé e pensar em como retomar quando possível. A crise afeta a cadeia de fornecedores que vivem desse mercado. Sem os eventos maiores, a solução é reinventar o negócio, criar formas de mantê-lo vivo”, explica a empresária.
Kamila Paixão conta que, como trabalha com eventos grandes (casamentos, festas de 15 anos e similares), ainda não teve um volume grande de cancelamento. E que agora pretende focar na identificação de novas soluções e nichos para atender novos clientes. “A tendência”, segundo ela, “para as empresas que trabalham com eventos menores, é de uma queda acentuada”. “Alguns clientes, neste caso, estão pedindo reembolso de alguns investimentos já feitos. E isso exige do empresário a capacidade de negociar para evitar que o prejuízo seja maior. Exige também criatividade e ousadia para identificar oportunidades onde todos vem dificuldades”, ressalta a empresária.
Adequação do modelo de negócio
Dados de pesquisa realizada no período de 14 e 22 de abril pelo Sebrae, em conjunto com a Associação Brasileira de Empresas de Eventos (Abeoc) e a União Brasileira dos Promotores de Feiras (Ubrafe), revelam que a pandemia impactou 98% das empresas do setor, como decorrência das medidas de isolamento social.
O levantamento mostra, por outro lado, os esforços de superação. Pela amostragem, para 79%, dos empreendimentos consultados, a maior preocupação atualmente, é manter e adequar o modelo de negócio para continuar funcionando (48%), além de manter seus cliente atuais (43%).
“Criar alternativas para remodelagem dos negócios e adequação à nova realidade tem sido um dos caminhos da orientação que o Sebrae vem prestando às empresas. Temos estimulado, através dos serviços que prestamos via canais de Atendimento e consultorias on line, a que as empresas comecem a pensar em como devem se posicionar no mercado após a crise, em como remodelar seus negócios oferecendo novos serviços e produtos em sintonia com a realidade de uma economia em retração, mas ainda assim, um ambiente de oportunidades”, frisa o diretor Técnico do Sebrae.
Ainda segundo a pesquisa, 34% dos ouvidos acham que levará de sete meses a um ano para retomada do patamar antes da crise, isso após a suspensão do isolamento. Outras 33% acreditam que levará menos de seis meses, sendo que 24% esperam retomar as atividades em patamares anteriores de imediato. O dado conclusivo, para mais 80% dos entrevistados é que, a retomada passará por uma completa transformação no modelo do negócio incluindo alternativas digitais, customização de produtos, foco em nichos específicos, tudo isso somado para proporcionar ao cliente experiências e memórias.
Mercado de eventos em números
Representa 4,32% do PIB.
Responde por 7,5 milhões de empregos diretos, indiretos e terceirizados na economia nacional.
Contribui com R$ 48,69 bilhões de impostos.
Tem participação marcante dos pequenos negócios, que representam 95,4% do total de empresas do setor.
Em números absolutos, mobilizando 297.565 empresas, entre microempreendedores individuais, microempresas e empresas de pequeno porte.
(Dados do II Dimensionamento Econômico da Indústria de Eventos no Brasil, realizado pelo Sebrae em 2013).
Fique atento
Segundo a pesquisa, saiba como o mercado está pensando no futuro do negócio?
30,1% vai focar no Aprimoramento da Gestão
25,2% vai apostar no fortalecimento do relacionamento com o mercado –
17.2% pretende investir na qualificação da equipe para esse novo momento
15,5% vai adotar novas tecnologias
E 12% vai criar alternativas de preparação da empresa para adoção de ações sustentáveis, para não serem pegas em situação de baixa em eventuais crises.
Confira dicas do Sebrae que podem ajudar o setor de eventos neste momento
- Negocie com os clientes para remarcarem o evento em lugar de cancelar. Essa medida evita que a empresa tenha de devolver dinheiro, o que nesse momento pode provocar desequilíbrio no caixa.
- Negocie com os espaços de eventos os valores pagos pela locação em forma de créditos;
- Negocie com patrocinadores pela manutenção dos aportes financeiros e outras modalidades de parcerias já firmadas;
- Estude as alternativas possíveis para manter a equipe. A crise não vai durar para sempre e você vai precisar de pessoal qualificado para retomar as atividades quando tudo passar;
- Negocie a extensão de prazos e redução de juros junto às instituições credoras.