Temos, entre nosso acervo de causos e pabulagens, onde o Maranhão ostenta uma riqueza incomensurável, que Pelo santo, beija-se o altar! Em síntese, há indicação de diversas ocorrências do provérbio em apreço, o qual é interpretado como “estar disposto a fazer qualquer sacrifício por algo ou alguém de que ou de quem se gosta”.’ “Por causa do santo, beija-se o altar”! A comunidade são-luisense, principalmente, a que realiza a Cultura Popular Maranhense, foi agarrada de surpresa com a notícia veiculada nos principais meios de comunicação, em 13 de junho, dando conta de que uma praça iria ocupar o espaço do Parque do Folclore Humberto de Maracanã, no Bairro da Vila Palmeira. Não havia nenhuma dúvida! A manchete afirmava isso com todas as letras: “Governo assina Ordem de Serviço para construção da Praça da Família na Vila Palmeira. A nova praça será instalada na área do antigo Parque Folclórico da Vila Palmeira.”
Começou assim a tomar mais força o que seria inimaginável há uns tempos, nas linhas de quase todos os matutinos ludovicenses: “O vice-governador do Maranhão, Carlos Brandão, e o secretário de Estado das Cidades e Desenvolvimento Urbano (Secid), Márcio Jerry, assinaram, na tarde desta sexta-feira (11.6.), a Ordem de Serviço para o início da obra de construção da Praça da Família, no Bairro Vila Palmeira, em São Luís. A nova praça será instalada na área do antigo Parque Folclórico da Vila Palmeira com o objetivo de dar usabilidade ao espaço, promovendo convivência, atividades de esporte e lazer para toda população.”
Já com a faca e o queijo nas mãos, as autoridades governamentais massificaram a intenção do projeto da Praça da Família, visando a oferecer à comunidade um equipamento moderno, cujo modelo arquitetônico de áreas de lazer está presente em grandes cidades. Em vista disso, a estrutura terá capacidade para receber as famílias e oferecer espaço suficiente para a realização de grandes eventos esportivos e culturais. Funcionando à vista de todos, na Vila Palmeira, a obra irá contemplar a revitalização de toda a área.
A força do poder desmedido — Todos leram e ouviram que para o titular da Secid, Márcio Jerry, “A ação é importante, pois além de proporcionar um novo local de convívio social, incrementa as atividades comerciais na região. A Praça da Família é uma marca de sucesso do governo Flávio Dino. Hoje, onde temos Praça da Família, o povo está utilizando e preservando. Agrega à beleza do local, agrega à saúde das pessoas e cria novas possibilidades de geração de emprego e renda”.
Os folcloristas já tiveram mais fibra — Neste espaço de tempo, poucas foram as vozes que protestaram contra a medida, principalmente, nas redes sociais, sempre evidenciando quanto estão sem lideranças e união os mestres do folguedo junino, por exemplo, mesmo realizando momentos entre os mais relevantes da Cultura Maranhense, quanto os que aparecem nos cinco sotaques de Bumba-meu-boi, que, realmente, foram mais fortes e até criadores do Parque do Folclore da Vila Palmeira, bem antes de ser Humberto de Maracanã. Não havia indícios de que poderia haver uma contraordem para não ser sucesso a Praça da Família. Dentro da sentença de que pelo santo, beija-se o altar, rarearam os audaciosos que vão à luta pelos outros, no caso, entre nós, pelo nosso Bumba-boi, que ganhou o título de Patrimônio Cultural da Humanidade!
Faria melhor calado, no Parque do Folclore – Como no dito popular, quem tem sua boca diz o que quer, um, desavisado postou, no seu facebook, há pouco, , improcedências relativas à direção do Parque do Folclore da Vila Palmeira (Humberto de Maracanã), generalizando que ninguém teve competência para gerenciar a contento aquele bem público. Sem escutar a toada direito, mandou: “Sempre foi um espaço subutilizado, grande demais para ser mantido por empreendedores culturais, que não encararam o desafio de conquistá-lo e empreendê-lo. Faço votos que o poder público tenha sucesso e promova melhor a utilização daquele importante e grandioso espaço!”
Estava em Marte ou no mundo da Lua?! — O dito cujo pareceu estar muito longe daqui, quando brincantes e dirigentes de bumba-boi em comitiva solicitaram o espaço, em regime de comodato, em entendimento com o secretário de Planejamento do Governo Roseana Sarney, Jorge Murad, e criaram a Associação dos Bumba-Bois da Ilha (ABMI) e desenvolveram gestões que beneficiaram cordões de todos os sotaques, cada qual com aquisição de barraca para captar recursos em prol de enfrentar despesas para colocar o seu batalhão melhor preparado no São João.
Conferências, competência e honestidade! — Houve ciclos de palestras, com a participação de colégios do ensino público sobre a importância da Cultura Popular Maranhense, e encontros de amos de Boi para bem-sucedidos concursos de toadas, aprimorando as confraternizações dos grupos folclóricos. Os congressos ficaram sob a minha responsabilidade (representante do Boi da Madre de Deus), numa diretoria de peso e seriedade, com a presidência de Tony Duarte (radialista e jornalista, Boi de Matraca do Anil), vice-presidente, Carlos Alberto Barateiro da Costa -Coronel Bebeto (Boi da Maioba), Malvino Alencar (Boi de Maracanã), João Damázio Pinheiro-Garrafinha (Boi de Ribamar), em concentrações que contaram sempre com alteadas expressões de bois de orquestra, como Emília Nazar (Boi de São Simão) e Gorete Desterro (Boi de Perizes), de costa-de-mão (Sotaque de Cururupu), da Baixada (Zé Olhinho, amo do Boi de Santa Fé), e, de quando em vez, o legendário Leonardo (do Boi de Zabumba da Liberdade).
Os bois de matraca de Icatu — Abraçamos, inclusive, os brinquedos de matraca de Icatu: de Itatuaba, com representação de Zuca e de Zezinho Silva, e de Itapera, com representação do cantador Canário.
Dois anos que valeram por vinte! — No São João, sob a administração dos fazedores da Cultura Popular, em que tive a honrosa participação, por dois anos consecutivos, o Parque Folclórico da Vila Palmeira, com uma organização esmerada, foi um dos mais frequentados, no festejo junino, quando os próprios dirigentes da ABMI se encarregavam de receber as brincadeiras (de bumba-bois ou não), de modo que tão-somente a locução era de um profissional sem vínculo com os batalhões : o competente radialista Frank Matos, paraense e admirador, por excelência, das tradições maranhenses. Seria maria-vai-com-as-outras? – Em vista disso, o tal que falou o que não devia, teve a melhor resposta, nas redes sociais, recentemente: “A transformação do Parque do Folclore da Vila Palmeira (Humberto de Maracanã), em qualquer outra coisa, que não seja a celebração da Cultura, é como desfazer o caminho da identidade e esmaecer a força de um saber tradicional. É como desmontar a casa que, simbolicamente, abriga um bem cujo título é Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Ainda é tempo para perceber!”
(Fecho do assunto na próxima edição)



