De 23 de junho a julho adentro (no próximo ano, por causa da persistência do surto pandêmico do Novocoronavírus ainda), a ordem de São João, na crença dos brincantes de bumba-bois mais fascinados, será para cumprirem suas promessas e incendiar o Maranhão de euforia. Como saudava o boieiro Leonardo (do Boi de zabumba da Liberdade), “É tempo de se ganhar mais irmãos”! – em alusão à chegada de figurantes para vadiarem na Capital. Será aberta de novo a temporada de brilho e beleza do maior folguedo do Estado: o bumba-meu-boi, em sua dimensão de magia e pujança; em cinco sotaques, a eletricidade do tambor-de-crioula e do cacuriá, quadrilhas, dança do coco, forró, e shows de artistas nativos. Com centenas de distrações (em dezenas de feitios), o Estado ostenta mais diversidade e beleza juninas, no País, pena que este não sabe, pois carecemos de publicidade nacional mais forte, em que perdemos, no grito da TV Globo, a primazia para Campina Grande (PB), só com forró e quadrilhas organizadas.


Com o batismo dos bois (de matraca, zabumba, da Baixada, orquestra e costa-de-mão), os mais tradicionais na noite da véspera de São João, a festança começa nas ruas enfeitadas de bandeirolas e balões multicoloridos, nos arraiais de barracas, comidas e bebidas típicas e nos terreiros que fizeram chamada para as atrações darem o ar da sua graça. É alegria para todos os lados! No amanhecer de São Pedro (29.6.), os bumba vão pagar promessa no largo da capela do santo, na Madre de Deus, onde milhares de fiéis aguardam a procissão terrestre e a marítima do Padroeiro dos Pescadores. No raiar do outro dia (30), abençoados por São Marçal, os bois de matraca percorrem a histórica Av. João Pessoa (que desavisados, sem chamamento à razão, a não ser do Sotaque da Ilha, nossa coluna no JP Turismo/Jornal Pequeno, rebatizaram de São Marçal), no João Paulo, soterrando uma parte interessante da História do Brasil (ou seja, o homicídio do político João Pessoa, ex-governador da Paraíba e que passou a nomear a capital do Estado. No dia 26 de julho de 1930, ele foi assassinado por João Dantas, na Confeitaria Glória, no Recife (PE), segundo estudiosos, por questões de ordem pessoal e políticas. Sua morte foi o estopim para um movimento armado, no País, que mudou a estrutura política nacional, como Revolução de 30, contra a posse do presidente eleito, que terminou com a deposição, em 24 de outubro de 1930, do presidente Washington Luís e a subida ao poder de Getúlio Vargas. Terminava assim a República Velha e começava a chamada Era Vargas. Sem ouvirem a Toada da História, mataram, novamente, João Pessoa, no João Paulo. São Marçal já estava um fato consumado e firme na memória, não necessitava de dar nome à avenida, e, sim, aos bois.)


Dão um boi para entrar na briga, e uma manada, para não sair, “emendando as noites”, somente vencidos pelo sono e cansaço. Já no primeiro domingo de julho, os batalhões da Maioba, Pindoba, Maracanã, Iguaíba, Sítio do Apicum, da Matinha, etc., têm encontro marcado em São José do Ribamar (distante 36 km de São Luís), acordando os locais com saraivada de percussões e toadas, na Av. Gonçalves Dias (Rua Grande), quando, presentemente, o Boi do Outeiro (Ribamar de Matraca) abraça a todos. Depois, quanto representantes de todos os outros sotaques, morrem, num domingo, com três dias de festa dançante e “comedoria”, em seus “viveiros”, entre os fins de julho a setembro.
Adeus, moreninha, até para o ano! — A toada de despedida dos bumba-bois dá o tom de que a festança do brinquedo valente, também considerado Bonito de se ver, voltará no ano vindouro. Como essa de um boi de zabumba, uma das mais belas, que gravei, quando criança, no largo da capela de São Pedro, no amanhecer de 29 de junho, na Madre de Deus: “Adeus, moreninha, eu vou me embora/, saudade eu vou te deixar!/Sei que fostes culpada do nosso amor se acabar!/Tem consciência, tem consciência,/que para o ano virei te buscar!”
Texto: Herbert de Jesus Santos