— Viu, não viu?! Não pode fazer de conta que não viu! — O ator e teatrólogo Tácito Borralho, do alto da sua consagrada, local e nacionalmente, carreira artística, atirou as expressões à queima-roupa, na noite de São Pedro, às 22 h, no Arraial da Cidade (Praça Maria Aragão), sobre o Boi de Nina Rodrigues, que estava a cara do refrão de Quem Te Viu, Quem Te Ver, um clássico de Chico Buarque: “Hoje o samba saiu procurando você/Quem te viu, quem te vê/Quem não a conhece não pode mais ver pra crer/Quem jamais a esquece não pode reconhecer!(…)” TB nascido no município de Primeira Cruz, berço também do Boi de Cabaceira, um dos cordões que mais capricham na autenticidade, logo sabia de cor e salteado o risco com que os bois amazônicos Garantido e Caprichoso já tinham contaminado o Boi de Morros, perdido na sua pretensiosa “paritinsnização”, já sabendo que eu não deixaria almoço para a janta, na visão e audição de um troço de fácil má digestão, com o Boi de orquestra de Nina Rodrigues completamente descaracterizado, e contabilizando perdas e danos à Cultura Popular do Maranhão. (Trataremos mais dele no fecho deste).


Sotaque de Orquestra ou de Rosário – Com o intuito deste repórter, em oferecer mais luzes aos pesquisadores e redatores verdes: Iniciou em 1.º de maio de 1955, em Rosário, com Barbosa, músico da Polícia Militar, criando assim o Boi de Barbosa. Porque na Região do Munim havia outros ases em instrumentos de corda e sopro incorporados à PM, não demoraram a surgir, com Francisco Naiva, em 1959, o Boi de Axixá (não foi promessa, só fortalecer a Cultura Popular); Boi de São Simão (Rosário), em 1959, sob o comando, hoje, da folclorista Emília Nazar; seguido do Boi de Peris de Baixo, criação do artesão de mão-cheia Manoel Tetéu; de Primeira Cruz, com Waldemar; Boi de Cabaceira (Humberto de Campos); Boi de Morros; Boi da Boa Hora e Boi de Presidente Juscelino (na cidade do mesmo nome); Boi União da Mocidade de Rosário, no início dos 1980, de uma promessa de D. Maria Salomão, por 11 anos, que o seu filho, Hamilton Misteira, e Luzian Silva Fontes teimaram em tonificar e continuar; Boi de Nina Rodrigues; Mocidade Axixaense; Boi de Santa Rita; e fora do circuito do Rio Una e Itapecuru, o Boi Meu Tamarineiro, em São José do Ribamar, desde que o legendário amo Biluzinho de Amor retornou à cidade-balneário, na Rua 17 de Novembro, em 1969, com o traslado do Boi de São João do Rosário; e Boi de Redenção (radicado na Capital, porém com cabeceiras rosarienses).


O primeiro, também, em Rosário Notícias — Obedecendo ao slogan “Com a Credibilidade que Você Merece!”, o Blog de Notícias de Rosário estampou em 1.º de maio de 2015 “Boi de Barbosa, o mais antigo boi de orquestra em funcionamento, completa 60 anos”. Continuou: “ Tem sede na Rua Estefânio Saldanha, em Rosário. Mantido pela família Barbosa e uma legião de amigos, entre profissionais e amantes da cultura, a Associação Folclórica Rosariense do Bumba-meu-boi de Barbosa, sem perder as referências da originalidade que tanto defende, tornou-se um orgulho dos rosarienses, tendo em vista a atual divisão do sotaque de orquestra em tradicional e o novo (universitário, como é chamado por alguns). (O boieiro Luzian Fontes, do Boi da Mocidade de Rosário, sem declinar o motivo, informou-me que o Boi de Barbosa não saiu neste ano de 2023!).
Boi de São Simão nasceu de uma promessa — Emília Nazar, dirigente da brincadeira, dá conta de que o Boi de São Simão surgiu de uma promessa a São João, pelo seu pai, José Nazar, no vilarejo Cachoeira dos Morros, em 1959. Anos depois, envolvendo mais brincantes, mudou de lugar e de nome, fixando sua sede no povoado São Simão, em Rosário (MA), e, em 1984, tornou-se associação folclórica.


Celebrando o auto do bumba-boi — Nesses 64 anos, com 10 discos de toadas lançados, o conjunto ostenta cerca de 120 brincantes, que celebram o auto do bumba-boi, dando vida, em toadas, ao Pai Francisco e Mãe Catirina, aolado de índias, vaqueiros e demais personagens que sempre compuseram a história mais conhecida da Cultura Popular Maranhense: A da origem do nosso bumba-boi.


A pegada da orquestra original na ABMI — No festejo junino de 2023, o Boi de São Simão prosseguiu a tradição de manter o sotaque de orquestra da Região do Munim, com elementos essenciais na encenação do folguedo e até em detalhes da indumentária, acessórios conhecidos do repórter, quando Emília Nazar já comandava o batalhão, e eu, representando o Boi da Madre de Deus, era um dos diretores da ABMI (Associação dos Bois Maranhenses na Ilha), em 1997, sediada no Parque do Folclore da Vila Palmeira, que os boieiros receberam do Governo do Estado para gerenciar em regime de comodato. Ali, cada cordão, de todos os sotaques (matraca, zabumba, costa-de-mão, Baixada e orquestra) tiveram uma barraca para movimentar a fim de angariar dinheiro para ajudar na “mantença” (no dicionário do bumba maranhense, qualquer despesa que o boi precisa fazer).


O Nina perdeu O Caminho da Boiada — Lemos num release, aqui “ipsis litteris”: “O Bumba Meu-Boi de Nina Rodrigues, vem desde 1990 desenvolvendo junto ao povo maranhense, o resgate cultural através da música, poesia e da arte, na perspectiva de não deixar morrer a nossa história e a nossa cultura. Desde então, o Boi de Nina Rodrigues, com 33 anos de existência, gravou cinco vinis e 22 CDs, mantendo-se como “Modelo” para os demais grupos culturais em suas coreografias harmônicas e ritmadas, sendo pioneiros na introdução de novos instrumentos não utilizados até então em Bumba Boi de Orquestra, sem perder, no entanto, suas raízes preservando suas características regionais”. Não foi isso que Tácito Borralho e eu observamos estarrecidos, pois uma “mistureba “ suicida (apregoada qual se fosse o suprassumo do Folclore Maranhense) de frevo, forró, baião, de reggae, matraca, zabumba, e capoeira. Não aturei mais, pois a porta-voz do conjunto alertava: “Nina é Nina e sempre será”! E era tudo uma “fake news”, notícia falsa, ou delírio patogênico! Saí do espaço com o desafio de Tácito Borralho nas ouças, e uma valsa no bumba-boi.
“Será melhor parar”! — Emília Nazar (na noite de 30 de junho, antes do fecho de ouro que o Boi de São Simão deu no último dia do Arraial da Cidade, aonde eu voltei com o propósito de assistir ao Lelê de São Simão e ao seu Boi de orquestra) falou que “Será melhor parar” a mudar o ritmo original do seu bumba-boi! Na minha opinião, de quem não costuma jogar confete em carnaval errado, em anos a fio, auxiliando a Cultura Popular do Maranhão, quem necessita parar, quando menos nos chamados grupos alternativos (Boi Barrica, Boi Pirilampo, etc.), são os bois que, agressivamente, perderam o ritmo e a direção do Sotaque de Orquestra, como o Boi de Morros (introduziu até música de quadrilha) e de Nina Rodrigues, que, para não perder para Morros, neste ano, lascou uma valsa.


Hora de Guarnecer da cultura oficial — São João está vendo, contudo, bem que os órgãos oficiais da Cultura poderiam chamar para uma mesa-redonda esses que estão fazendo mais feio o Boi, que só era impossível fazer um bonito de se ver mais bonito! Se me chamarem, estarei lá! Estou falando dos secretários da Cultura estadual e municipal, respectivamente, Yuri Arruda e Marquinho Duailibe. Precisam ouvir o dramaturgo e diretor de teatro Tácito Borralho, e Joãozinho Ribeiro, cantor, compositor e ex-secretário estadual e municipal da Cultura, e o ex-titular da Secult, diretor da Rádio Universidade, jornalista e professor da UFMA Euclides Moreira. Necessitamos correr para salvar o mais belo possível no Sotaque de Rosário! Vou querer saber que diabo é isso de Sotaque de Orquestra com o tradicional e o universitário (para mim, até então, essa coisa era só na bagunça decadente na música sertaneja!).
O Boi de Nina Rodrigues na veia de Chico Buarque — “(…) O meu samba se marcava na cadência dos seus passos/O meu sono se embalava no carinho dos seus braços/Hoje de teimoso eu passo bem em frente ao seu portão/Pra lembrar que sobra espaço no barraco e no cordão/Todo ano eu lhe fazia uma cabrocha de alta classe/De dourado eu lhe vestia pra que o povo admirasse/Eu não sei bem com certeza/porque foi que um belo dia/Quem brincava de princesa acostumou na fantasia/Hoje eu vou sambar na pista, você vai de galeria/Quero que você assista na mais fina companhia/Se você sentir saudade, por favor não dê na vista/Bate palmas com vontade, faz de conta que é turista/Hoje o samba saiu procurando você/Quem te viu, quem te vê/Quem não a conhece não pode mais ver pra crer/Quem jamais a esquece não pode reconhecer!”
Texto: Herbert de Jesus Santos
Quando ontem no arraial no IPEM, pôde se perceber a diferença de atenção entre o boi de Morros, “boi de boutique”, como diria Celso Borges, e o boi de Santa Luzia, tivemos a mais uma prova desse crime que repetimos a todas as noites.