Um homem de fibra, como na faixa da entrada do Cemitério do Gavião, no seu sepultamento, na tardezinha de 5.3.1996, e que não voltava atrás à palavra dada, fazendo questão de honra ao mérito, senso de justiça, opção pelos mais pobres, humildes, indefesos e perseguidos, amor sem limites à sua terra-berço, o Maranhão, nortearam a conduta do jornalista José Ribamar Bogéa, imperecível, quando o Jornal Pequeno, fundado por ele, está completando 70 anos de com combate em prol da população maranhense. Seu editorial do segundo ano de atividade (29.5.1952) retratou bem o que seria o JP todo tempo: “Festeja o Jornal Pequeno, na data de hoje, a passagem do seu segundo aniversário de existência. Apesar de todas as campanhas e do ódio daqueles que têm medo da verdade, o órgão do povo marcha, impavidamente, sempre pugnando pelo bem-estar coletivo. Dois anos de titânicas lutas! Dois anos de sacrifícios, na defesa dos humildes. Por várias vezes, os prepotentes já tentaram amordaçar este porta-voz das massas proletárias. Contudo, a Justiça Divina tem-nos ajudado a vencer todos os obstáculos e prosseguir nesta jornada, cujo principal objetivo é evitar o assalto aos cofres públicos e respeito ao nosso povo. Em dois anos de existência, o Jornal Pequeno prestou inúmeros benefícios aos maranhenses, não realizando melhor trabalho, devido à incompreensão de certos mandões do poder que se deixaram levar pelas paixões dos seus subalternos, desprezando uma colaboração que apenas benefícios traria á sua administração. Nossa primeira e grande campanha, sem dúvida alguma, foi a referente à melhoria de salário dos empregados da Capatazia. Depois, graças à boa vontade desse maranhense denodado que se chama Eduardo Viana Pereira, vários pedidos nossos de água e luz para bairros operários foram atendidos. Conseguimos ainda com ele, passes de bonde para os jornalistas, beneficiando todas as classes, além de extensão do horário do último bonde do João Paulo e de São Pantaleão. Enumerar aqui, as iniciativas vitoriosas de apenas dois anos de luta, seria desnecessário, pois o público, dando preferência a este órgão, conhece muito bem o que tem sido nosso trabalho. Resta-nos, portanto, agradecer aos prezados leitores essa prova de apreço que tem-nos dado, com a promessa de que, na defesa dos seus interesses, não recuaremos um passo, custe o que custar, haja o que houver!”


A estatura do jornalista e cidadão José Ribamar Bogéa começou a ser dimensionada, quando tinha oito anos de casa, numa atrito com o proprietário do jornal O Globo, Pires de Sabóia, furioso por que que Bogéa, repórter esportivo, entrou de sola (termo que gostava de dizer) em seu texto contra um juiz cearense acusado de haver garfado o Moto Club de São Luís em favor do Fluminense carioca, após o time maranhense estar vencendo bem no jogo. Pires de Sabóia censurou, sustou a matéria e disse com azedume: “Quando você tiver jornal, poderá escrever como entender, por enquanto, não”! Não conhecia a argamassa de que o seu interlocutor fora feito e cutucou a onça com vara curta Dias depois, não sem dificuldades, surgia, em 1947, o que seria o embrião do Jornal Pequeno: O Esporte, aos domingos, que passou a ser diário vespertino, em 11.4.1951, derrubando a banca de O Globo.
Sob o signo da Ilha Rebelde — Em pleno fenômeno da Ilha Rebelde


coerência, destemor, preferência ao Povo e amor desmedido ao Maranhão – Arquivo JP Turismo
(A Balaiada de São Luís, como ficou conhecida, a Greve de 1951, o mais formidável movimento urbano da História do Maranhão, contra as chamadas fraudes eleitorais da oligarquia do senador Vitorino Freire, para impor seu candidato ao Governo do Estado, o industrial caxiense Eugênio Barros), o Jornal Pequeno nasceu, sonho realizado pelo jornalista José Ribamar Bogéa, que se popularizaria como Zé Pequeno (das paródias musicais das décadas de 80 e 90), enquanto o matutino ganharia, mais do que fama, o respeito e o carinho do povo maranhense, como O Órgão das Multidões. A História dá como certo que àquela época, todos os matutinos, em São Luís, eram vinculados a partidos ou grupos políticos. Como honrosa exceção, o Jornal Pequeno começou a firmar-se, seguindo a concepção de independência do seu fundador, significando muitas lutas para manter-se em pé e seguir em frente com o idealismo de bem-informar, em defesa das causas populares.


A família Marques Bogéa — Casou-se com Hilda Marques Bogéa, a 10.7.1956, e teve seis filhos: Lourival, Josilda, José Ribamar (Filho), Luís Antônio, Luís Eduardo e Gutemberg. Marcou o dia a dia ludovicense com suas criações hilárias: O Língua de Trapo, Espírito de Porco, 1.º de Abril, Zé Birita, A Lista dos Chatos, O Foguete dos reprovados nas eleições, e tantas outras sessões que fizeram do Jornal Pequeno, um grande jornal.
Amarílis Cardoso Santos e O Caso do Jornal Pequeno! — Amarílis Cardoso Santos, minha primogênita, tinha apenas um ano de idade, quando ocorreram, nas ruas centrais de São Luís, as escaramuças da chamada Greve da Meia-Passagem, de 14 a 22 de setembro de 1979, com auge nos dias 17.18, 19 e 20, e eu fazia estágio curricular do Curso de Comunicação Social (Jornalismo) da UFMA, em O Imparcial. Ali, milhares de estudantes universitários (UFMA e UEMA) e do ensino médio diante da forte repressão policial: persistiram até assegurar o direito de pagar a metade do preço da passagem de ônibus que usufruímos até hoje. Este fenômeno social, registrado no Jornal Pequeno, com ampla Reportagem do jornalista Jersan Araújo, valeu a monografia de graduação de Amarílis na Faculdade de Comunicação Social da UFMA (em Relações-Públicas), em 2002, sob oTítulo: A Formação da Opinião Pública Durante a Greve Estudantil de 1979, no Maranhão: O Caso do Jornal Pequeno.
Orientadora: Profa. Esp. Adeilce Gomes de Azevedo. No ano de 2003, Amarílis garantiu o primeiro lugar, no concurso em nível nacional,.com entrega da premiação no dia 12.11.2003, no Encontro de Relações Públicas da Eca/SP – Escola de Comunicação e Arte da Universidade de São Paulo(USP). Desde 2006, atua como professora universitária na área de Comunicação, com experiência em particular na UFMA e de graduação e pós-graduação na Estácio. Em 1997, quando passou no Vestibular, o padrinho dela, poeta e cronista José Chagas, presenteou-a com obras recomendadas para concurso e vaticinou: “Essa garota vai longe!” Aliás, não contaram para a comissão julgadora do Concurso Cidade de São Luís da prefeitura que, em 2004, na categoria erudição, não aprovou o texto ao qual a USP deu o primeiro lugar, em certame nacional, assim como, na última gestão municipal, não publicou meu livro de crônicas A Ilha em Estado Interessante, e para eu não ganhar de novo, não teve mais dúvida: Rasgou a lei que regia o Cidade de São Luís, em 2015.
Colegas jornalistas de diversas gerações não deixaram por menos a grandeza de Ribamar Bogéa e da sua criação setentã


José Ribamar Bogéa foi consagrado por sua integridade por colegas de profissão, da altura de Salvador José de Lima, que publicou: “A história do jornalismo maranhense tem em José Ribamar Bogéa, as suas expressões mais elevadas. Ele tinha em comum o respeito aos princípios da honorabilidade, não confundia seus deveres de jornalista com subserviência aos interesses dos poderosos. Sabia valorizar com alto espírito de honestidade o seu verdadeiro papel de profissional da informação em seu relacionamento com as autoridades. Em seus trabalhos, escrevia a notícia, a reportagem e o artigo baseados em fatos, independentemente de interesses pessoais. Por outro lado, não era simplesmente agressor gratuito ou por interesses contrariados. Para ele, o que importava, acima de tudo, era verdade, como lema fundamental da sua profissão! Sem sombra de dúvida, o JP, unha e carne com seu fundador, evidenciava as falhas dos gestores públicos, já muito à vista da decepção do anseio popular, que não era beneficiado com as políticas públicas, como dizia o poeta e jornalista Carlos Cunha, em termos civilizados, sem, cair na espiral da vulgaridade. As acusações sempre a serviço de carrear melhores condições para a população mais pobre, essencialmente. Afinal de contas, encarnava, com todas as letras, a bandeira hasteada de Mantido pelo Povo do Maranhão!”


Pela Liberdade e pela informação responsável— O Jornal Pequeno e Ribamar Bogéa são trincheiras de resistência no cenário social, político, cultural e econômico da região metropolitana da Capital maranhense, que se reflete em todo o Estado do Maranhão. Atravessou diversos embates e sempre se manteve na linha de conduta de defesa dos menos favorecidos, oprimidos e socialmente, daqueles considerados invisíveis na nossa sociedade. Por tudo isso e pela defesa da liberdade de expressão responsável e pela defesa do estado de direito que apregoa a nossa Constituição de País, o nosso eterno reconhecimento ao Jornal Pequeno e à família Bogéa, que sempre soube manter viva esta expressão de combate no campo das comunicações de nossa terra. Viva a liberdade!”, Euclides Moreira Neto – Professor Mestre e investigador Cultural do Curso de Comunicação Social da UFMA).


70 anos de lutas e conquistas — “Creio que nenhum veículo de comunicação chega aos 70 anos como líder absoluto de mercado sem história de lutas e conquistas. O Jornal Pequeno, que teve a criação do brilhante e saudoso jornalista José Ribamar Bogéa, hoje se mantém com solidez, independência editorial e determinação, graças à família liderada pela senhora Hilda Bogéa, em manter o jornal cumprindo o seu papel de órgão informativo compromissado com o seu público e com a sociedade em geral. Hoje, aos 70 anos, o JP vence novos desafios, com profundas mudanças socioeconômicas, e políticas, mas fiel ao seu público, sempre prestigiando a Cultura Maranhense, quanto foi através do Suplemento Cultural e Artístico Guesa Errante, dirigido pela saudosa Josilda Bogéa Anchieta, e editado pelo escritor Alberico Carneiro, e o JP Turismo, dirigido por Gutemberg Bogéa!” (Wilson Martins, jornalista e escritor).
Texto: Herbert de Jesus Santos
Parabéns à família Bogea, um marco extraordinário no jornalismo brasileiro. Nós negócios em geral , poucas empresas chegam aos 70 anos, sofrem todo tipo de pressão e acabam fechando. No jornalismo essas pressões são maiores, porque tem forte conteúdo político. Não se curvar ante o poder e, pois, um forte traço do caráter, da capacidade de combate para vencer às adversidades. Vocês são credores da admiração e do respeito da nação.
Meu eterno reconhecimento ao Jornal Pequeno e à família Bogéa pelo brilhante e autêntico trabalho na comunicação maranhense. Parabéns!