É fato que o tempo é o senhor da razão. Implacavelmente a tudo revela e confere sentido. Se ele é um recurso que abraça os acontecimentos para que tudo aconteça no momento certo, é também testemunha implacável dos erros e acertos que cometemos no espaço temporal de nossa existência. Nele, oficialmente ou não, tudo fica registrado. Fatos como a descoberta da agricultura, a revolução industrial, a revolução francesa e a descoberta do Brasil, somente aconteceram no momento certo, com as condições objetivas de prontidão e a vontade de alguns ou de muitos.
Quando olhamos para o retrovisor do tempo, começamos a perceber que ele não nos pede licença para que as coisas aconteçam, sejamos nós os construtores ou não. É ele que nos ensina a esperar quando ainda não é hora e nos força a agir quando o tempo é propício. Cabe somente a nós a decisão do que, e do quando sonhar, planejar e fazer. No mesmíssimo espelho, nos alegramos ou não, com nossos sonhos que se tornaram feitos ou nossas ações que edificaram sentimentos e bem querência.
Neste mesmo tempo, sou forçado a lembrar da parábola da semeadura e, ao fazê-lo, registro o que estamos colhendo com a experiência construída há vinte e quatro anos, conhecida com o nome de ENSAIOS ITINERANTES, que hoje vemos, alcançou uma relevância que sequer supúnhamos teria o condão desta proeza. A felicidade nos invade quando percebemos que grande parte dos bumbás fizeram opção por este formato e organizam as próprias itinerâncias. Este fazer traz para o movimento junino o envolvimento cada vez maior das comunidades e funciona como o grande aquecimento para os festejos que desejamos como MAIOR DO MUNDO.
Foi caminhando que fizemos o caminho. No início, timidamente organizamos um só dia de festa, que logo passou a dois, até chegar ao mensário atual. De nossas incertezas construímos a ousadia. De nossa fraqueza fizemos a força que arregimentou parceiros e construiu cumplicidade. Tijolo por tijolo, momento a momento, fomos edificando o que hoje é motivo de satisfação. De uma coisa não abrimos e nem abriremos mão, da certeza de que jamais chegaríamos aonde chegamos sozinho. Todos, por menor que tenha sido o contributo, se fizeram imprescindíveis, pois ajudaram a edificar o que hoje e razão de júbilo e alegria.
Quando penso o tempo percorrido começo a pensar o que levou tantos a acreditarem neste projeto: foi por acaso sua viabilidade ou o amor destas pelo novilho? Foi o carinho de tantos que aceitaram oferecer parte do seu tempo e de sua juventude a esta ideia? Foi o respeito de pais e mães que passam noites seguindo seus filhos na boiada? Foi a fé nos santos de devoção ou o amor aos festejos? Se não foi isto ou parte deste sentimento, como se explica a entrega e devoção de gente que por mais de um quarto de século faz com que este enredo continue existindo?
Refletindo, me assenhoro de minha razão pura e me interrogo, o que é o Pirilampo? Para espantar a presunção, começo respondendo que não sou eu o Pirilampo. Penso que o Pirilampo também não é uma pessoa ou um grupo definido. Começo a entender que o Pirilampo é o que está nos jornais. O que encanta na televisão. O que você carrega no coração. O que o povo aprendeu a admirar e querer bem, o que você, anônimo ou não, ajudou a construir no imaginário popular. Se isto não for o Pirilampo, me explique então o zelo, admiração e paixão, por nossas festas juninas e pelo novilho de luz…
O tempo é eterno e tem o poder de eternizar os sentidos e sentimentos. Esta mágica, precisa, entretanto, do sentir e do fazer de cada um de nós. Por ser assim, que venha a nova itinerância e que esteja ela vestida com a oração de resistir e possua o dom de enfeitiçar nossos corações, posto que: “AMOR DE BUMBA BOI É FEITO PRA NUNCA ACABAR”!!
Renato Dionísio – Historiador, Poeta, Compositor e Produtor Cultural