Requento o texto com já tive a chance de dizer aqui que, na assistência à missa vespertina do penúltimo domingo de julho, na Igreja de São Pantaleão, chamou-me a atenção uma cerimônia litúrgica bem entusiasmada, com belos e novos cânticos. Adicionei a boa-nova na conta do pároco, orador eficiente e um discurso clarividente, que era a batuta do coral às auxiliares da coleta das ofertas. No meu raciocínio, até quando ele resolveu que precisamos acrescentar reunidas após reunidos, no fecho do seu razoável sermão, assim, cabulosamente: “Vocês, reunidos e reunidas, aqui, todos são dizimistas”?! Antes, houvera um festival de Todos e todas, inserido no contexto da sua predicação, no ato litúrgico, enfim, com excesso de léxico, onde pegaria bem a escassez exata!
No outro domingo, tivemos a honra de receber o próprio arcebispo de São Luís, Dom Gilberto Pastana, quase no auge do festejo, que, não vindo só para a visitação, oficiou a celebração da eucaristia em honra do santo Padroeiro dos Médicos e das Parteiras, e, para minha surpresa, não decepção, Sua Excelência Reverendíssima não pregou em nenhuma instância Reunidos e Reunidas, tampouco Todos e Todas; só irmãos e irmãs, sem muita insistência. Ele foi assim, igualmente, na do fecho do de São Francisco, o Pobrezinho de Assis, na noitinha de 4 de outubro, na bela igreja do Bairro São Francisco. Fiquei cismando sobre que, em toda a extensão continental deste País, só na Terra de Gonçalves Dias, Nascimento Morais Filho, Nauro Machado, José Chagas, Bernardo Almeida, Bandeira Tribuzi, Josué Montello, Fernando Moreira, Dagmar Desterro, Erasmo Dias, Luís Augusto Cassas, JM Cunha Santos, Alberico Carneiro, Fernando Braga, Rossini Corrêa, Antônio Martins de Araújo, e outros gigantes da Inteligência Brasileira, rebaixava-se o vernáculo, num exagero avassalador.
Meus mestres de Português no Liceu e UFMA — Professores da elevação de Alexandre Botão e Zé Luís, no Científico do Liceu, nem sequer pestanejavam para a aplicação de que em todos está englobado todas, sem necessidade de tocarmos em sua existência. A grandiosa Lourdes Barroqueiro, na Faculdade de Comunicação Social (Jornalismo) da UFMA, não deixava a lição venturosa de todos por menos. Lecionavam, “ipsis verbis”: “É claro que engloba! Trata-se de um princípio gramatical do português, que não herdou do latim o gênero neutro; cabe ao masculino evidenciar-se nesse papel, abarcando também o feminino!”
Trata-se de inclusão diuturna — Já está na ponta da língua e céu da boca da mocidade internauta mais atenciosa: “Todos um termo globalizante, inclusivo. Quando se diz “bom-dia a todos”, a audiência feminina já está incluída. Portanto, se dissermos “bom-dia, a todos e todas”, isso equivale a dizer “bom-dia a todos e todas e a todas”, pois, no pronome indefinido “todos”, a audiência feminina já está incluída. Ao contrário, “todas” é um pronome indefinido excludente, isto é, que suprime a audiência masculina. Se eu digo “bom-dia a todas”, a audiência masculina não está incluída.”
Pelo santo, beija-se o altar! — Matando a cobra e mostrando o pau, nunca blasfemando aos pés da Santa Cruz, sem enxugar gelo e puxar saco dos guabirus e ratazanas, mesmo palacianos, sugerimos que os sacerdotes maranhenses sejam a camaradagem verbal em pessoa e levem em consideração os apontamentos deste ser fã da Língua Portuguesa e da Literatura Maranhense! Tão-somente todos já resolve a parada da linguagem coloquial! Reunidos e reunidas é exagero de termo supérfluo, neste caso específico, na Gramática Normativa e em seus quejandos! Certo, meus eclesiásticos preferidos?!
Como Sarney massificou a todos e a todas! — Essa sequela gramatical prosperaria com o PT (Partido dos Trabalhadores) dando as cartas na mesa de jogo republicano, no governo Lula (correspondendo ao período que se iniciou em 1º de janeiro de 2003, quando assumiu a Presidência do Brasil, e encerrou-se no dia 1º de janeiro de 2011, quando a presidência foi transmitida para Dilma Rousseff). José Sarney apreciava abrir seus discursos com “todos e todas” – ou “brasileiros e brasileiras”, quando presidente da República (assumiu o governo, interinamente, após a internação de Tancredo Neves, e, definitivamente, em 21 de abril de 1985—indo a 1990— , após mais de vinte anos de ditadura militar no Brasil).
Chamam de “bobagem populista” — Os estudiosos do assunto, a um de fundo, alardeiam que, basicamente, trata-se de uma bobagem populista — daí seu sucesso com os políticos manjados, cultores à exaustão disso. Valem-se até do onisciente, os especialistas, quanto os três mosqueteiros contra a trama do maquiavélico Cardeal de Richelieu, que foi primeiro-ministro de Luís XIII (o Rei-Menino de França, na Fundação de São Luís, em 8.9.1612), de 1628 a 1642, e arquiteto do Absolutismo na França e da liderança francesa na Europa: “O sexo masculino de Deus é mais um sintoma, e nem por isso tem prosperado a tese de Sua bissexualidade. Será que vale a pena encher nossa língua de cacos, redundâncias e pedidos de perdão, como se fôssemos todos(as) advogados(as) gagos(as)?”
A culpa foi da assessoria do Dr. Sarney — José Sarney, sem nenhuma dúvida, absorveu bem esta e outras aulas no Liceu, principalmente, se com o legendário mestre Amaral Raposo, que foi um jornalista que exigia rigor às normas gramaticais da Língua Portuguesa. Em seus textos, a maioria de cunho satírico e crítico, a norma culta prevalecia. Era assim, por Sebastião Jorge, jornalista e escritor, da Academia Maranhense de Letras: “Amaral Raposo não tolerava escorregões, nem pequenos deslizes por parte daqueles que se aventuravam em fazer acrobacias na superfície imaculada de uma página de jornal ou de um livro.’”