Talvez se diga que eu não consegui absorver os efeitos do progresso, da mudança de crenças, usos e costumes. É bem possível que eu continue sendo – e cada vez mais – uma pessoa conservadora, fruto da formação no seio de uma família católica, de ter estudado em colégios tradicionais e com professores disciplinadores, de ter sido soldado-infante, no Tiro de Guerra 194, e aprendido o respeito à hierarquia e aos valores da Pátria.
A verdade é que não gosto mais de futebol e de cinema, esporte e diversão sempre presentes nos meus tempos de juventude. Em 1983, foi a última vez em que assisti a uma partida, no Estádio Castelão, em São Luís e, em 2003, em que fui ao cinema do recém shopping inaugurado, também em São Luís: foi quando a seleção brasileira jogou, aqui, e uma das salas esse exibiu aquele filme do Mel Gibson, “Paixão de Cristo”.
Aqui, em São Luís – e desde a década de 40, em Caxias, no Rex e no Pax -, ia ao cinema pelo menos três vezes por semana no tempo em que, aqui, havia o Roxy, Éden e o Teatro Artur Azevedo, convertido em cinema; no Rio, um pouco menos, entre 1955 a 1960, porém um assíduo frequentador. Quanto ao futebol, sou do tempo da ‘barreira’ do saudoso estádio Santa Isabel e dos fanáticos torcedores do Sampaio de então; no Rio, torcedor do Fluminense, desde 1946, quando sagrou-se supercampeão carioca daquele ano, não perdia jogos do clube, nas Laranjeiras, no Maracanã e em qualquer campinho, que conheci quase todos, de São Cristóvão, Madureira, Bonsucesso e Olaria. Em 1947, o Fluminense jogou em São Luís, no Estádio Santa Isabel, e ganhou do Moto por 2 x 0, ainda com Castilho, Orlando, Simões e Rodrigues.
Da época em que o Teatro Artur Azevedo funcionou como cinema, muitos filmes mexicanos e franceses; o cinema de arte, no Éden (no Carnaval, tinha uma matiné festiva) e as vesperais, no Roxy, deixaram muitas lembranças e saudades.
O Sampaio, quando foi campeão, em 1953, acho que ainda tinha Henrique Santos, Mozart Tavares, Sancho e Merci, grandes craques. No Rio, o Fluminense foi campeão de 1959 (só perdi o jogo com o Canto do Rio, em Niterói, porque estava com ‘catapora’). Tinha um time muito bom com Castilho, Cacá e Pinheiro, Edmilson, Clovis e Altair, Maurinho, Paulino, Valdo, Telê e Escurinho; em 1960, e eu estava lá, no Maracanã, jogando pelo empate, perdeu a final para o América, e o bicampeonato. Em 1963, presenciei um Fla x Flu com o segundo maior público então presente no Maracanã, mais de 163 mil pagantes, pois público maior somente na final da Copa do Mundo de 1950; o Flamengo jogou pelo empate (foi 0 x 0) e sagrou-se o campeão carioca daquele ano. Em 1957, a caminho do Maracanã na companhia de duas primas, para ver a final do Fluminense com o Botafogo (perdemos de 6 x 2), não conseguimos chegar: nosso lotação chocou-se com a traseira de outro e as meninas ficaram feridas, e acabamos no Hospital Souza Aguiar.
Quando tudo começou a mudar, com os cinemas tradicionais fechando suas portas a dando lugar a pequenos espaços de projeção, iniciei minha debandada do ‘escurinho’ mágico; atualmente, não conseguiria conviver com o ‘piquenique’ dos refrigerantes e das pipocas. Quanto ao futebol, com regras importadas da Inglaterra e que, no Brasil, prosperou, não suportei o declínio de toda uma estrutura formal em nome da implantação desse esporte no mundo todo, quantidade em detrimento da qualidade, negócios em detrimento do espetáculo.
Hoje, no futebol, em momentos especiais somente pela televisão, e cinema, só os ‘enlatados’, sem preferência por títulos e atores.
Antônio Augusto Ribeiro Brandão – Economista. Membro Honorário da ACL e da ALL, Membro Efetivo-Fundador da AMCJSP. Filiado ao IWA e ao Movimento ELOS Literários