Caiu no senso comum que “Não se deve contar com a minoria silenciosa, pois o silêncio é algo frágil. Um ruído alto… E está tudo acabado. O barulho é relativo ao silêncio que o precede: Quanto mais absoluta a quietude, mais devastadoras as palmas”. A assertiva não procede para os atores envolvidos no cenário do Abrigo do Largo da Igreja do Carmo, cuja grita pela sua manutenção e restauração atingiu a um abaixo-assinado, previsto para milhares de signatários, em prol do ponto memorável de São Luís. Por recomendação deste repórter, o primeiro a apor seu chamegão foi José Adauto Cavalcante, comerciante, desde 1954 no recinto, que, numa entrevista coletiva, disse o que seu peito estava sentindo: “Há muitos anos, sustento a minha família com a minha venda no Abrigo e espero, como os demais comerciantes, voltar muito em breve para o meu boxe, no Abrigo reformado no que mais necessita!”


Esse tipo de solicitação coletiva feita em um documento, no caso para pedir algo de interesse comum a uma autoridade, ou para manifestar apoio a alguém, decorre de que ficou mais enigmática a situação do Abrigo, agora todo revestido de tapume e caiado, já apelidado pelos ambulantes e taxistas ao redor de “elefante branco” e “arca de Noé!”. Os anseios dos proprietários dos boxes do local histórico, atualmente, trabalhando em condições precárias, procederam, e foram aliviados pelo engenheiro civil Érico Junqueira Ayres, que foi ao local dar seu parecer à Reportagem do JP Turismo: “As partes da estrutura foram descascadas, e colocaram suportes de proteção, e cercando com tapume de madeira, sinalizando que não efetuariam a demolição!”— avaliou Érico, que possui graduação em Engenharia Civil pela Uema (1973), mestrado e doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela USP-Universidade de São Paulo, professor da UFMA e da Uema, e tem experiência na área de Planejamento Urbano e Regional, atuando principalmente nos seguintes temas: urbanismo e urbanização. Presentes ao ato, o jornalista e escritor Herbert de Jesus Santos e o guia de Turismo, professor e poliglota Simão Cireneu Ramos observaram que reabriram o espaço para o trânsito e construíram uma rede de esgoto, na frente do Abrigo, confirmando a conservação. “Quem vai derrubar um monumento, não tomaria essas providências!” — analisou Herbert, ali. “Agora, parece que colocaram o abrigo numa urna funerária!” — lamentou Simão Cireneu, e desejando que a placa alusiva colocasse tudo em pratos limpos, a favor do Abrigo.
Competência exige a placa de obras — Atendendo a um pedido nosso, igualmente, o engenheiro agrônomo Durval Ribeiro Alves, na manhã de ontem, na frente do Adauto, ele que foi vice-presidente do órgão e conselheiro por muitos anos, dirimiu a dúvida de que toda obra precisa ostentar a Placa do CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) e do CAU (Conselho de Arquitetos e Urbanistas), com o devido responsável-técnico. “Com prazo de duração da execução e valor do serviço!” — completou, ao telefone, Érico Junqueira Ayres.
A coerência da Associação Comercial — Aliás, esta providência correta mexeu com o imaginário de vendedores de refeições, lanches, caldo de cana e o tradicional cafezinho, dos motoristas de táxis, ambulantes, relojoeiros, ourives, lojistas, transeuntes, jornalista calejados, todos fregueses do Abrigo, em atividade há 69 anos. Por que a placa necessária não foi afixada, então? Saiu, de conversas na área aludida, haver sido um descuido do Iphan ou da prefeitura, e que todos, povo e autoridades, deveriam verificar a solidez nos trabalhos de revitalização, como na Praça do Panteon e Rua Grande, já em alguns trechos com piso deformado e objetos de madeira esfarelando, respectivamente, na proximidade dos bronzes dos imortais e nos bancos. Disseram, entre ansiosos e otimistas: “Nos foi falado aqui que aqueles seriam da competência do engenheiro Henry Duailibe, e que a Associação Comercial do Maranhão recebeu que endossasse a extinção do Abrigo, e que o órgão secular não compactuou, argumentando que sua posição é de ajudar as práticas comerciais, mesmo as mais humildes e dignas, qual as do Abrigo do Largo da Igreja do Carmo!”
“Ali passaram Bandeira Tribuzi, Nascimento Morais Filho, Ribamar Bogéa!…” — Advogado, jornalista e radialista, Josemar Pinheiro cresceu vendo o Abrigo prestigiado por nomes alterosos do jornalismo e da literatura maranhense, dentre os do poeta Bandeira Tribuzi, fundador do jornal O Estado do Maranhão, Nascimento Morais Filho, poeta, professor e ecologista, com obras vertidas para várias línguas, José Ribamar Bogéa, o combativo fundador do Jornal Pequeno, Carlos Cunha, professor, jornalista e poeta admirado, Amaral Raposo, jornalista e mestre da língua portuguesa, Bernardo Almeida, com honra ao mérito na prosa e poesia, os enaltecidos poetas e prosadores Nauro Machado e José Chagas, e Erasmo Dias (para este repórter, redator imbatível, e, com mais títulos, seria o nosso maior prosador), etc. “A conservação do Abrigo, além de boa renda para os laboriosos comerciantes, significa manutenção da memória maranhense, na glorificação da nossa Cultura e Inteligência. Terra sem memória, não louva seu passado, arrisca seu presente e perderá o melhor futuro possível!”— Josemar Pinheiro lecionou.


Abrigo de 69 anos nos costados históricos — Metendo um PF na pessoa, no Adauto, achamos um dos primeiros frequentadores do Abrigo, André de Jesus Souza, com 82 anos de idade e 68 de freguesia, e que era sapateiro nas imediações e hoje reside no Vinhais. Recordando o Cine Rival e as Loja Rioanil e Linho Puro, no início da Rua Grande, ressaltou o boxe do Jorge, há 69 anos, continuado em sua atividade de lanchonete pelos descendentes, como Joerbert e Mariano. Com essa revelação, o Abrigo do Carmo não só assistiu à sangrenta Greve de 1951, contra a posse do industrial caxiense Eugênio Barros, com armação do senador pernambucano Vitorino Freire, que queria um governador seu no Palácio dos Leões, inaugurado no governo de Sebastião Archer (político e industrial codoense), igualmente, da trupe vitorinista, então, em 1948, surrado pelo demolidor Erasmo Dias, no fogoso vespertino O Combate, com o artigo virulento A Morte do Boi Marrequeiro do Situacionismo.
Comerciantes esperam a boa-nova do retorno — Aguardam voltar ao Abrigo, em breve, reencontrados, ontem, em seus trabalhos sob lonas, na vizinhança: José Adauto Cavalcante, Mariano Silva (filho do saudoso Jorge), Claudilene F. Sampaio (da garapeira), Maria Prudência, Nelissa Reis, e Maria dos Milagres Silva. Com a maior torcida de Fernando Costa, 76 anos, aposentado no serviço público estadual do Teatro Arthur Azevedo e federal numa cerveja tipo véu de noiva e fezinha no jogo-do-bicho.


Na defesa do Centro Histórico, uma plêiade por extensão — Por ser plêiade, em sua origem grega, reunião de sete pessoas ilustres, usamos a sua extensão para ases em suas habilidades e literatos famoso, os que compuseram o Comitê de Defesa do Centro Histórico de São Luís: João Pedro Borges (Sinhô), violonista renomado, internacionalmente, e diretor da Escola Municipal de Música, por um tempo, Wilson Martins (ator e contista), Érico Junqueira Ayres (engenheiro civil), Alberico Carneiro (poeta, prosador, e professor de Literatura), Herbert de Jesus Santos (jornalista, poeta, prosador, compositor e folclorista), Josemar Pinheiro (advogado, jornalistas e radialista), Lucas Baldez (romancista, novelista e contista), JM Cunha Santos (jornalista, poeta e prosador), Cesar Teixeira (jornalista, poeta e cantor), Sílvio Serra (artista plástico), Douglas Cunha (presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Luís), José Rocha (Gojoba), jornalista e radialista, Simão Cireneu Ramos (professor, guia de Turismo e poliglota), Wanda Cunha (poetisa),com a entidade aberta para mais conterrâneos interessados pela manutenção do nosso acervo arquitetônico.
Texto: Herbert de Jesus Santos