Até novembro passado, tinha-se que a Praça João Lisboa e o Largo do Carmo (considerados o Coração da Cidade) em nova configuração, com ampla reforma da Prefeitura de São Luís, na parceria do Iphan, seriam só maravilha. Quatro meses depois da inauguração, são pontas de ferros expostas, sinalização sem funcionamento, além de reclamações de taxistas, vendedores ambulantes, jornalistas, guia de Turismo, escritores, vendedor de água de coco, engraxate, e populares, que sempre se posicionaram contra a destruição do Abrigo do Largo do Carmo.


Inconformado com a triste realidade, na área, o popularizado taxista Zequinha (José de Ribamar Ribeiro), um dos mais antigos do posto, ouvido pela reportagem do JP Turismo (suplemento do Jornal Pequeno), desatou um rosário de reclamações, na manhã de ontem, como a caída da procura das corridas, com estacionamento dos seus carros mais embaixo, na Rua Afonso Pena, eles sem local nem para se abrigar do sol e da chuva, e urinar, e ficar aguardando usuários, que antes não demoravam. Ele argumentou, com sua sinceridade peculiar conhecida na praça, com 70 anos de idade, 40 dos quais, no posto: “Por essas e outras, sempre fomos contra a derrubada do Abrigo, e pela sua completa restauração. Pais de família, estamos passando por momentos de muita aflição, à espera de tempos muitos melhores do que o que nós estamos vivendo, a cada dia piorando mais!”


Dependendo de um conhecido: “A boca da espirradeira” — Ao lado de companheiros, quanto Vitório Pacheco (motorista de táxi, ali, desde 1993), também um dos mais vividos taxistas, ali, Carlos Alberto Aragão, o Carlos Irmão, foi categórico e emocionante: “Tem dia que fazemos uma corrida, quando alguém chega e prefere seguir ao seu destino com um seu conhecido, podendo ser eu ou outro colega, e antes nossos passageiros eram até mais os desconhecidos”. No batente, desde 1986, com o Posto de Táxis Ten.-Cel. Neon do lado do Abrigo, Carlos Irmão garantiu que nunca passaram por uma fase tão difícil, e indicou uma melhoria para eles que poderá ser abraçada pela autoridade competente da equipe do prefeito de São Luís, Eduardo Braide: “Caro Herbert, para começo, é só voltar o nosso estacionamento onde colocaram carros de particulares, antes de nos empurrarem na gestão anterior para a Rua Afonso Pena. É na boca da espirradeira, como lhe disse uma vez em outra sua matéria jornalística, lutando pelo nosso benefício, pois quem sai da Rua Grande, comprador ou não, observa logo nossos táxis, mas claro que tivemos dias muito melhores em nossa profissão com o Abrigo do Carmo em atividade!”


Confiança no prefeito — Competência para falar sobre as perdas e danos originados com a demolição do Abrigo do Carmo mais do que Francisco de Assis M. Ewerton já morreu, e ele com 30 anos de atividade, vendendo água de coco, no começo do Largo do Carmo (esquina do Beco da Pacotilha, ou Quebra-Bunda), não se deixou por menos: “Nesta parte da cidade, que era tão movimentada, decaiu a venda em muito e em tudo com a retirada do Abrigo, e aí nem os que vão assistir à missa, na Igreja do Carmo, demoram na área com medo de assalto, e sem banheiro público, nem para a pessoa verter água, prejudicando o nosso conceito para o visitante na Cidade Patrimônio Cultural da Humanidade. A solução é a reconstrução do Abrigo, e se o prefeito de São Luís, Eduardo Braide, nos voltar com este benefício pode se consagrar governador do Maranhão, como coloquei a subida dele numa folhinha lá em casa”! Natural de Anajatuba(MA), de onde chegou à Capital em 26.6.1980, para morar no Anjo da Guarda, com sua visão cotidiana, no trecho, Francisco de Assis apontou uma saída lucrativa para os que labutam no comércio, ele ali, na frente do prédio azulejado, que, no século 19, era Sobrado dos Belfort e em seguida do Barão de Coroatá, que o vendeu ao jornalista Vitor Lobato, quando sediou a Redação do temível jornal abolicionista Pacotilha: “Para facilitar o acesso às compras, na Rua Grande e vizinhança, os donos de loja pediriam da autoridade competente micro ônibus dos bairros distantes passando a linha por aqui, e todo mundo saía ganhando melhor”! Chamado pelo radialista Zé Santos, em seu programa dominical de manhã cedo, na Rádio Mirante, “Querido Chico do Coco”, o próprio não é de dar murro em ponta de faca, quando em seu plano os consumidores dos transportes coletivos desembarcariam defronte da alegria e fineza com que trata a todos.




O Abrigo do Carmo era para permanecer — Ficou batido que a reforma da Praça João Lisboa, Largo do Carmo e entorno contemplaria um novo projeto paisagístico e mobiliário urbano, com bancos, lixeiras e abrigos, além de nova iluminação, que permitiria que os locais pudessem ser frequentados pela população também no período noturno, pois teriam total segurança. O taxista Zequinha rebateu essa possibilidade: “Assaltantes, em moto, levaram o celular de uma senhora cedo da tarde, anteontem, com a população frequentando aqui de noite era festa para eles”! Atentem para esta afirmação preciosa do ex-presidente do Instituto Municipal da Paisagem Urbana (Impur), Fábio Henrique Carvalho: “O Abrigo do Largo do Carmo será mantido e restaurado para preservar as características arquitetônicas art dèco da marquise do prédio”. Pela releitura do que o Impur considerava relevante, a preservação do ponto memorável era prioridade, até que seus inimigos gratuitos convenceram o Palácio de La Ravardière a compactuar com a sanha iconoclasta, e armaram um circo de um mês sobre o Abrigo condenado a que populares apelidaram de “Elefante Branco” ou “Arca de Noé.”


Palavra dos jornalistas vizinhos do Abrigo do Largo do Carmo — Atual presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Luís, Douglas Cunha era editor de Polícia de O Imparcial, na Rua Afonso Pena, no auge do Abrigo, servindo, já de manhã cedo, lanche, cafezinho, garapa, refeição, para camelôs, gráficos, radialistas, jornalistas, escritores, lojistas, boêmios, onde não faltavam aquela cerveja gelada e uma generosa dose de cachaça. Douglas relembrou: “Tinha muita história para contar, palco de um bom papo dentre nossos jornalistas, radialistas, poetas e prosadores, e havendo movimento forte para a volta do Abrigo do Carmo, já podem contar comigo”! José Rocha Gomes (Gojoba), um dos editores de O Imparcial e do radio-jornalismo da Difusora, na Camboa do Mato, na mesma época, recordou: “Sem faltar a fezinha no jogo do bicho, o que faz parte da nossa Cultura, e era um poderoso ambiente de informação política e literária, da mesma grandeza do Senadinho da Praça João Lisboa. Ponto de memória relevante da Cidade, há muitas décadas, que merece todo nosso apoio se houver uma bandeira para que ele ressurja!”


Competência do guia de Turismo e poliglota — Consoante o professor, guia de Turismo e poliglota Simão Cirineu Ramos, o atentado cultural que teve êxito com o Abrigo do Largo do Carmo, em São Luís, tentaram por diversas vezes contra o Bar do Parque, em Belém (PA), sem que os paraenses permitissem o sucesso dos vândalos, pelo seu valor histórico e memorial. Considerou do alto dos seus conhecimentos: “Se acontecer essa boa-nova da prefeitura agora reconstruir o Abrigo do Largo do Carmo, deverá seguir todas as suas características originais. A propósito, na pressa, que é inimiga da perfeição, a gestão anterior deixou escancarado o espaço onde restauraram a fonte ou pia da frente da Igreja do Carmo, um convite para a sua destruição ou uso indevido por pessoas ruins!”


funciona – Foto: Gutemberg Bogéa
Parecer do engenheiro-civil em prol da reconstrução do Abrigo do Carmo — Se depender do espaço para o Abrigo do Largo do Carmo voltar a dar o ar da sua graça, não haverá problema nenhum, de acordo com o engenheiro-civil Heliomar Scriviner Furtado, com uma experiência de mais de 40 anos no exercício da profissão. Conhecedor da estrutura do ponto histórico e memorial, desde criança, ele afiançou que, com um relatório fotográfico, não haverá nenhuma dificuldade para o Abrigo ser reconstruído. Trata-se de material contendo todas as informações necessárias para realizar o empreendimento a contento. “Quando essa sua matéria de jornal, meu caro Herbert de Jesus Santos, colega e amigo desde o Liceu Maranhense, sair na Internet, vão aparecer muitas informações do relatório fotográfico tratado!” — concluiu Heliomar Scrivinner Furtado.
Em tempo: Há só uma cadeira de engraxate naquele espaço todo, quase sem nenhum freguês; nenhuma banca de jornal e revista; e o Largo do Carmo e a Praça João Lisboa, aos sábados, domingos e feriados, tornaram-se os logradouros mais tristes e vazios da Cidade Patrimônio Cultural da Humanidade!
Texto: Herbert de Jesus Santos