A verdade já existia antes da origem do universo. Povos primitivos foram os primeiros a vislumbrar os lampejos de sabedoria, filosofia e verdade científica. Mas foi somente com o geógrafo e historiador grego Heródoto que nasceu em Halicanarsso na Turquia (484 a 425 a.C.) que tudo começou, o filósofo ensinava que um jovem persa aprendia três coisas fundamentais: cavalgar, atirar com arco e falar a verdade. A filosofia persa estava profundamente interligada à ética e a mentira tinha como punição a morte.
O imperador Dario desmascarou um rei usurpador como mentiroso. Para o persa zoroastrista Asha é a palavra para verdade, que é o contrário de mentira e engano. Este sinônimo de verdade é um dos 74 nomes ou títulos com os quais o Deus criador é invocado. Asha é uma verdade tão concreta que existe como realidade material e que permeia toda a existência, é uma força cósmica verbal e moral.
Neste contexto você verá os deuses dos mitos gregos mentindo, mas isto é impensável no ensinamento persa. Estudiosos tem associado este conceito de verdade ao logos do filósofo grego Heráclito, que cresceu em Éfeso sobre o domínio persa. O engano e a mentira devem ser extintos, são indesejáveis e dispensáveis.
De acordo com os dicionários a verdade é a propriedade de estar em conformidade com os fatos ou com a realidade, com alguma coisa ou evento real. A verdade é também a conformidade do pensamento ou da sua expressão, com o objeto do pensamento. É a qualidade do que é real. Verdade é exatidão, rigor, precisão, afirmação, sinceridade, honestidade e testemunho. A verdade é o reflexo do pensamento divino, é o absolutismo dos seres com o absolutismo do pensamento. Estar com a verdade é estar em conformidade com a afirmação de um dado factual, é o acordo do pensamento consigo mesmo, é a ausência de contradição.
Abu Áli al-Hasan, al-Haytham ou a versão latina do seu nome Alhazén, nascido em 965 em Basra, Pérsia onde foi primeiro ministro. Estudou matemática, física, astronomia, geometria e ciências. Morou no Egito e trabalhou como engenheiro para o Califa Al-Hakim. Fundador da Universidade de al-Azhar esteve também na Síria e em Baghdad. De seus 92 trabalhos científicos apenas 55 sobreviveram, são na área de óptica, teoria da luz, teoria da visão e teoria dos números. Escreveu sete volumes sobre Óptica em 1021 afirmando que a luz é sempre a mesma independente da fonte, e explica a visão das cores por reflexão na superfície dos corpos iluminados. Trabalhou com espelhos esféricos e foi o inventor da câmara escura para projeção invertida, a câmara fotográfica.
Na metodologia científica criou o mecanismo de correção para diminuir os erros em nosso raciocínio, questionando e analisando criticamente e só aceitando argumentos e experiências válidas, estabelecendo as regras da ciência (Gorini, 2003).
A experiência é uma fonte de verdade e sua aprovação e afirmação é também experiência. O raciocínio verdadeiro é universalmente válido, o raciocínio falso é viciado pela subjetividade e não deve ser transmitido. As incertezas da ciência tão destacadas no âmbito das ciências humanas, já foram minimizadas nas ciências como física, matemática e na geologia, sendo estas incertezas já bastante controladas na astronomia (Lyotard, 1954).
Hoje em dia não acreditamos na existência da verdade, só ligamos para o que as pessoas escrevem ou falam independentemente dos fatos, isto é mentira ou engano. Há quem diga que ninguém é dono da verdade e que não existe verdade absoluta, ou pior ainda, algumas pessoas creem que uma mentira dita várias vezes se torna uma verdade, um absurdo. As verdades são sempre absolutas e nada tem haver com a relatividade de Einstein, pois não existem verdades relativas e sim verdades incompletas. Sobre um único fato ou realidade não podem existir verdades contraditórias e sim verdades complementares. A verdade nunca é inventada, se quisermos nos aproximar dela temos que nos aproximar dos fatos, da realidade.
Sérgio Brenha – Professor da UFMA
GORINI, R. Al-Haytham the man of experience. First steps in the science of vision. JISHIM, 2003, 2, p.53-55. LYOTARD, J. F. A fenomenologia. Lisboa. 1954. (p-12-19).
ALHAZEN. In: WIKIPÉDIA: a enciclopédia livre. Alhazen — “O primeiro cientista de verdade” W.ORG.
Disponível em: < https://www.jw.org › despertai-n6-dezembro-2017>. Acesso em 18 abr 2021.
Zoroastrismo, persas e judeus (2021) 1 vídeo 25:55 min. Publicado pelo canal Observatório7.Disponível em: <https://youtu.be/yGNP2Od_yA0>. Acesso em 18 abr 2021.