Sem poder dar o ar da sua graça, desde 2019, forçado pela pandemia da Covid-19, o Festival de Bumba-meu- Boi de Zabumba retorna, em sua 26.ª edição, e acontecerá onde tudo começou, em 1994: Na Av. Newton Belo, no Monte Castelo, na extensão do Viva Monte Castelo, ao lado do Comercial Zé Reis, passando na frente do Sindsep (Sindicato dos Servidores Públicos Federais no Estado do Maranhão), por trás da Igreja da Conceição, com início na boca da noite deste sábado e encerramento no amanhecer de domingo. De lambuja, as rapaziadas dos conjuntos, com os seus cabeceiras, se reunirão às 12 horas de 7 de agosto (domingo), quando vão encarar uma feijoada completa para ajudar na restauração das forças consumidas, em confraternização na sede do Boi do Mestre Basílio Durans (Liberdade 2), na Quadra 9, Conjunto Promorar, no Bairro da Liberdade.


Com a exorcização dos maus espíritos, que preferem dar tudo o que podem, em órgãos da cultura maranhense, para estrupícios alienígenas a beneficiar inciativas importantes de preservação das nossas mais caras tradições, o 26.º Festival de Bumba-meu-boi de Zabumba contará com uma extensa programação, sábado: Cacuirá Rabo de Saia Mirim (Liberdade), às 20 h, e Cacuriá Assacana (Liberdade), às 21h, e, a partir daí, as estrelas da noite: Boi Brilho de São João (Liberdade 2), do Mestre Basílio Durans; Boi de Carutapera (comandado por Carlinhos); Boi da Areinha ( por Cristina, filha do saudoso Constâncio); Boi do Bairro de Fátima (de Dona Zeca); Boi da Vila Ivar Saldanha (do saudoso Lauro, por Maria da Paz); Boi da Cidade de Central (por Paulo Ricardo); Boi Anjo do Meu Sonho (de Arcanjo, Anjo da Guarda); Boi Novo Capricho (de Marcírio, da Vila Embratel); Boi Capricho de Oliveira (São Francisco, por D. Hilda); Boi da Liberdade (liderado por Regina Avelar. filha do Mestre Leonardo, de saudosa memória); Boi Unidos Venceremos (por Antônio Fausto, do São Cristóvão); Boi da Fé em Deus (por Antônio Ribeiro); e Boi de Guimarães (por Basilinho Durans). O Boi de Mundiquinho (Anjo da Guarda), Boi da Vila Passos (do inesquecível Mestre Canuto Santos, dirigido por sua viúva, D. Elza); e o Boi de Romana não saíram neste ano, e voltarão no vindouro. Antes do começo da exibição dos mimosos, será homenageada, com troféu e certificado, Kátia Bogéa, ex-presidenta do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e graduada em História pela Universidade Federal do Maranhão/UFMA (1984) e especialista em Historiografia Brasileira.


Cuidado com o boi de zabumba — Escolado nessa matéria desde a infância, e há algum tempo percebendo brechas que se alastram num crescendo, nas fileiras da brincadeira, perguntei, ao telefone, para o calejado boieiro Basílio Durans, se havia mais grupos com o aumento do interesse dos mais jovens em fortalecer as guarnições, em louvação a São João, e sua resposta foi preocupante em demasia: Ficaram mais fracos ou reduzidos, em algumas partes! Não precisou falar que daí a sua idealização do Festival de Bois de Zabumba.
Zabumba e tambor-de-fogo em Guimarães — Consoante o poeta e pesquisador Américo Azevedo Neto, na sua obra Bumba-meu-boi no Maranhão, no mesmo ano do surgimento das matracas e caboclos reais, nos Bois da Ilha (1868), precisamente, no povoado Jacarequara, então pertencente a Guimarães, Gregório Malheiros substituiu por zabumbas e tambores-de-fogo os pandeiros idênticos aos dos bois de matraca. A seguir, Damásio (há, em Guimarães, uma localidade e um boi com esse nome), com os novos instrumentos, aprimorou o sotaque, criando, dessa forma, o grupo africano, com sua vestimenta cintilante, no futuro.
Matraca e caboclo-de-pena na Ilha: no jornal de 1868 – Com a proibição pela sociedade escravocrata, em 1861, os bois só retornaram no São João de 1868. Seu defensor, o jornalista João Domingos Pereira do Sacramento, em sua crônica no Semanário Maranhense, de 12.7.1868, assim recepcionou, em São Luís, a chegada da matraca e do caboclo-de-pena ou real, no Boi da Ilha caracterizando, assim, o grupo indígena: “Introduziram na folgança do Boi, no São João deste ano, repinicados de matraca, no lugar de palmas com as mãos, e uns gritos que arrepiaram minha carne, como nunca se viu antes nas figuras do bumba”! Ali mesmo, criticou autoridades repressoras e abraçou a novidade: “Antes tarde do que nunca! Melhor com essa zoada toda do que o Maranhão passar sem o bumba, como foi de 1861 a 1867!”
Hora de Guarnecer os bumba-bois de zabumba — Portanto, avisamos aos navegantes que a hora é de guarnecer ajudas ao Boi de Zabumba, para ter mais pujança, com a veracidade de que, em seu primórdio, todos os brinquedos possuíam o mesmo jeito, até que surgiram, simultaneamente, os de matraca, em São Luís, e os de zabumba, em Guimarães, após a repressão deles pela polícia escravista. Que os batalhões de zabumba jamais se deixem abater pelas adversidades!


26.ª Tomada de Monte Castelo: Alusivo a que o antigo Bairro Areal, em São Luís, foi rebatizado com o nome atual em comemoração à Tomada de Monte Castelo, em 21.2.1945. A Batalha de Monte Castelo foi travada perto do final da 2.ª Guerra Mundial, quando os heroicos pracinhas da Força Expedicionária Brasileira (FEB), após fracassadas tentativas das tropas aliadas, lideradas pelos EUA, no conflito, derrotaram as forças do exército alemão, que impediam o avanço dos inimigos, no Norte da Itália. Ficou para sempre: “O dia 21 de fevereiro de 1945 será lembrado como um dos mais gloriosos da história do Exército Brasileiro. Naquele dia, a conquista do Monte Castelo, na Cordilheira dos Apeninos italianos, constituiu admirável exemplo da bravura, abnegação e tenacidade do soldado brasileiro. Nesse local, os Pracinhas lutaram arduamente e venceram os adversários alemães, que estavam fortemente entrincheirados em uma situação dominante do terreno, de onde batiam com fogos precisos todas as vias de acesso que levavam à sua posição!”
Texto: Herbert de Jesus Santos