Recentemente o Maranhão passou a se encaixar na situação de estado com números em queda de contaminação do coronavirus, porém a pandemia ainda não chegou ao fim e há pessoas que ainda estão de quarentena, inclusive os artistas locais que ainda não possuem permissão para realizar apresentações de forma presencial devido ao risco de que ocorram aglomerações nos locais em que os shows e peças, por exemplo, iriam acontecer.
Pensando nisso, o SATED-MA (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Maranhão) vai executar o SATED na sala, que teve início ontem (13) e ocorrerá nas próximas três quintas-feiras, ou seja; nos dias, 20, 27 de agosto e 3 de setembro; sempre no horário das 20h e o público vai poder usar o Youtube e as redes sociais do sindicato para assistirem trabalhos de artistas que foram gravados dentro de suas casas ou locais de ensaio, assim como também poderá fazer depósito em qualquer valor para os artistas por meio de um chapéu virtual.
O presidente do SATED, Ivaldo Júnior, conta que o objetivo do evento não é só entreter o público e realizar oportunidades para quem vive de arte, mas também fazer as pessoas perceberem como acontece o processo de construção das idéias de um artista, assim como também conta suas expectativas para o evento. “A carreira artística vai muito além dos palcos, afinal é na sala de ensaio onde surgem as inspirações e onde tudo se constrói, pensamos nisso na hora de colocar em prática essa ação, que sirva de inspiração para que sejam criados novos caminhos para quem atua na área, assim como esperamos que os artistas confiem mais no nosso sindicato para continuar os ajudando a enfrentar obstáculos como os que estamos passando”, comentou Júnior.
Em conversa a nossa reportagem, o produtor e secretario Ítalo Atsoc falou sobre as dificuldades de se planejar acontecimentos artísticos durante a pandemia e comentou sobre a visão que a associação tem lhe dado com as dificuldades causadas pela Covid-19.
“Acredito que a maior dificuldade é a logística de como vai funcionar o evento, uma vez que os espetáculos exigem não só uma equipe, mas também locais e equipamentos adequados para que tudo saia como planejado. Com a pandemia, tivemos que aprender a pensar fora da caixa para encontrar formas de continuarmos nosso trabalho, afinal é possível continuar a produzir, experimentar e valorizar processos criativos.”
Foi preciso levar em conta três critérios para que fossem escolhidos os artistas que teriam a oportunidade de mostrar seus trabalhos no Sated na sala: possuir no mínimo 18 anos de idade, ser portador de DRT (nome popular dado ao registro profissional emitido pela Delegacia Regional do Trabalho e que comprova a capacidade profissional de quem trabalha no setor) e assinar termos de participação e direitos de imagem.
Quatro atrações de específicas áreas das artes cênicas foram escolhidas, após esse processo os artistas tinham que confirmar suas participações para receberem o regulamento e, logo em seguida, gravar e enviar vídeos para serem editados pela equipe do SATED, depois os artistas recebem uma certificação de parceiro das ações do Sindicato.
As atrações
Nesta quinta-feira (13), o evento deu seu pontapé inicial com a apresentação de dança contemporânea Mar adentro, da bailarina e coreógrafa Rebeca Carneiro, que consiste em uma proposta de autoconhecimento, onde a interprete usa os movimentos da dança para opinar e mostrar o processo de se conhecer. Em diálogo com a reportagem, ela explicou detalhes da sua iniciativa e como surgiu a inspiração.
“É uma performance muito crua e experimental e que surgiu devido ao fato de eu prestar atenção ao meu próprio corpo, algo que fiz muito durante toda a quarentena, e percebi o quanto a ansiedade estava cada vez mais presente na minha vida, mas minha paixão pela música me salvou, ela me deu uma oportunidade de poder organizar melhor minha respiração e meus pensamentos e acho muito precioso trazer essas reflexões.”
Rebeca Carneiro irá voltar as telas da internet no ultimo dia do evento, no data de 3 de Setembro, já que a dançarina também membro da Encanto Coletivo, uma companhia independente de teatro musical e que escolheu apresentar os principais repertórios que desenvolveu nesses últimos anos e que explica como esta fazendo para manter as atividades ativas durante o atual momento.
“Primeiro iremos iniciar com ‘Tempos de amor’, de um espetáculo que foi feito em 2017; depois será a vez de ‘Vida louca vida’, do musical Cazuza Exagerado, de 2018 e fechamos com ‘Reza’ e ‘Deitar e Rolar’, que são da peça que fizemos em 2019 chamada Cadê a herança, que são trabalhos que mostram nosso amadurecimento e para darmos continuidade a ele mesmo com a pandemia fizemos estudos e ensaios online, além de continuarmos nossa rotina de pesquisas”, afirmou Nestor Fonseca, diretor da companhia.
Bem antes, no dia 20, o público poderá acompanhar a leitura dramática do texto Tique-taque, de autoria da Jubileu trupe de teatro e que conta a historia da relação que se dá entre uma avó e uma neta que possuem diferentes temperamentos e visões de mundo mas que com o passar dos acontecimentos acabam se encontrando. O diretor e dramaturgo da Cia Leonardo Fernandes deixou sua opinião sobre a importância de fazer parte do evento.
“Estamos vendo essa iniciativa como uma forma de participar de uma programação em que podemos falar da nossa trajetória e mostrar um pouco do nosso trabalho que está em processo. Essa idéia da SATED é fundamental para a catalogação documental de quem faz teatro e para a criação de memória, que são detalhes muito importantes para conseguirmos entender o nosso próprio processo histórico”, lembrou Fernandes.
No dia 27, será a vez do dançarino e professor de dança Fernando Saraiva, que explicou como está fazendo para driblar a pandemia e que seu espetáculo, batizado de “Gaia”, foi inspirado nesse assunto.
“No inicio não conseguia pensar como eu poderia driblar essa delicada situação, que até hoje traz dificuldade, afinal muitas produções artísticas não voltaram, os editais que foram abertos são bem burocráticos, mas mesmo assim continuei procurando formas de não ficar quieto e postei alguns vídeos que eu fiz e ainda cheguei a receber ajuda voluntária de pessoas que valorizaram o que andei produzindo”, contou Fernando.
“Meu trabalho fala exatamente sobre esse momento de reclusão e de reflexão, onde nós chegamos não só temos algo a perder más também a ganhar, também uso minha performance para mostrar e opinar sobre aqueles que se sentiram livres nesse momento e o quanto agimos de forma egoísta em que achar que todos nós somos donos do mundo”, concluiu o professor.
Texto: Ítalo Cavalcanti – Estagiário do JP Turismo