“Das lentas ladeiras que sobem angústias, sonhos do futuro, glórias do passado”. Os versos do poeta Bandeira Tribuzi revelam magias do chão ludovicense, seu passado de glórias e busca insistentes de uma hora que hoje chega, quando a cidade comemora mais uma data de fundação em busca do progresso, descobrindo nos caminhos do passado o futuro que precisa construir.
A São Luís, a amável São Luís menina-moça, é a mesma cidade secular, adolescente Patrimônio Histórico da Humanidade, por onde cavalgaram os cavalos de Ana Jansen, onde transcorreram as batalhas, entre portugueses, holandeses e se quis a França Equinocial.
De 1612 para cá são séculos de história que reúnem um acervo arquitetônico colonial de rara beleza, embora que muitas vezes dilapidado pelo tempo e pela desatenção dos homens. Terra de poetas e de homens cultos que cultivou sonhos indigenistas de Gonçalves Dias, terra que também combateu à escravidão com a alma inconformada de seus heróis, a Ilha Rebelde reuniu, durante muito tempo os maiores beletristas do país.
Mas aqui, em meio a esses casarões inexpugnáveis, que se junta uma outra história, esta no século XXI. Hoje as crianças saltam nos pára-brisas do presente, causando as almas de nossos antepassados, repatriados daqui para algum lugar perto de Deus.
Da água da chuva que ainda escorre nos beirais, das fontes de água natural, do ribeirão suado, às vezes despencam sonhos como lágrimas de escravos do passado e homens livres do presente. São Luís não é mais a mesma, está cercada de espigões que escondem o mar e desfazem suas praias aos nossos olhos, é um misto de metrópole eletrônica e calor colonial.
Sobram seus poetas e escritores, caçadores de memórias a invadir galerias misteriosas e querer matar as serpentes que circundam a beleza desse universo Upaon-Açu.
São os olhos d´águas cravados nas pedras, elevando preces a Iemanjá e um povo que joga cabelos, seios e esperanças no mar de Nossa Senhora. “Amo-te, mulher de barro” disse uma vez o poeta limpando da estátua de João Lisboa o pó dos séculos que vivemos entre certezas e incertezas históricas que ainda estamos por difundir e conquistar.
É o desenho dos nossos corações na província submersa pelo sal do tempo, nessa terra em que não existiam pontes nem becos sem saída antes que o parodoxo da pós-modernidade rompesse sua virgindade de criança cultural.
É o desenho imaculado nos azulejos geométricos que guardam um turbilhão de sentimentos nativistas, desde quando escapavam às gargantas dos pregoeiros, antes da cidade ser invadida pelo êxodo rural e se ouvisse o rumor de uma luta que em todos os cantos eterniza a liberdade.
Ouçamos, porém, as sonoras cantadas, a boêmia que sobrevive, o arrastar de sandálias dos meninos mal calçados, o grito de violões que não se rendem à parafernália eletrônica que ensurdece o caminho.
Lembremos, sim, a pele vermelha dos tupinambás, a tinta histórica nos palácios luxuosos para que cada topada nas pedras de cantaria represente a lembrança de que esta é uma ilha que de tanto tempo veio para ser a ilha do amor.
‘No lombo do meu boi, tem um céu todo estrelado, ferro em brasa não encosta, meu boi é mimoso, meu boi é mimado”.
Deem passagem a todos os ritmos afro-brasileiros, a todas as cantigas de roda, aos quilombos que sobreviveram ao tempo e que se entenda São Luís como um pedaço ferido de cada um de nós. Que o amor de hoje não será o mesmo de amanhã se não separarmos em nossas preces uma oração longa e sozinha, uma agonia lenta e particular pela felicidade eterna da Ilha Rebelde, deste sinônimo de amor e dor chamado São Luís.
Texto: JM Cunha Santos
Nossa que maravilha de imagens dessa cidade histórica do nosso Brasil. Parabéns aos profissionais de imagens. Em especial a Joan dos Santos.