um caso de vida ou morte e não um simples
pretexto para malabarismos vazios ou teoremas
que digam respeito apenas a um modismo falho e
de autenticidade duvidosa.
Nauro Machado
Em 1935 partia do mundo físico o poeta português, Fernando Pessoa; Adolf Hitler cassava a cidadania dos escritores, Bertolt Brecht e Erika Mann; em São Luís, dentre tantos outros grandiosos fatos históricos, nascia Nauro Diniz Machado que se tornaria, a partir de 1958, com a publicação da sua primeira obra, Campo sem Base, uma das mais autênticas e vultosas vozes poéticas da literatura brasileira de todos os tempos.
Foi desafiador buscar uma epígrafe que se sintonizasse perfeitamente com o que pretendemos expor neste texto. Não teve jeito, valemo-nos da mesma que Assis Brasil usara em 1994 na antologia A Poesia Maranhense no Século XX, na qual também temos participação. A escolha traduz, com profundidade, o perfil do poeta em voga.
Ousadia e coragem não podem faltar para quem se arriscar a tecer comentários sobre um artista da palavra, celebrizado pelo conjunto da sua obra, notório entre os notórios, analisado e contemplado por exímios ensaístas, poetas, prosadores, jornalistas, filósofos, doutores e por outros olhares com sofisticadas lentes.
Mas, sempre há algo que não foi dito ou que se disse de forma diferente. Nauro Machado deixou-nos uma rosa que nunca será desbotada nem despetalada, pois o jardim da sua semeadura tem terra fértil, adubada com raros substratos da sintaxe e da semântica, em que o poeta abriu, pôs seletas sementes e fechou, com o vigor do seu estilo, covas de onde sempre germinarão mais e mais roseirais para posteridade e posteridades.
Para Ricardo Leão, poeta e ensaísta, em seu livro, Tradição e Ruptura: a lírica moderna de Nauro Machado, “a leitura da obra literária de Nauro Machado permite vários olhares. De um lado, a opção por uma poesia nuclearmente metafísica, o que o põe no encadeamento e emparelhamento com algumaS das melhores vozes da poesia universal”. Entre esses vários olhares apontados por Ricardo Leão, há que se registrar a militância do poeta, não apenas em prol da sua sofisticada produção, mas da sua preocupação com o que podem ou poderiam fazer acerca do exercitar poético, sempre combatendo o fútil, o fácil e o falso, em torno dessa arriscada missão, apresentando quantidade e qualidade elevadas.
Muitas vezes incompreendido e até mesmo menos lido do que deveria em sua própria terra. Porém, a admiração por sua coerente caminhada e pelo esmerado trabalho em prol da sua construção poética é unânime. Autor de mais de 40 livros, o poeta foi fiel à poesia, desde seu encontro com ela até seus últimos momentos existenciais. Seu fôlego longo formado por vasto conhecimento, inspiração e dor deu ao Maranhão um bardo universal, ensaísta consciente do seu fazer literário, conhecedor profundo das engrenagens que sustentam um bom texto literário, mantendo-se original e solitário para entoar seu austero canto.
Um canto profundo, nutrido por uma inquietude, uma insatisfação e um desejo constante de aperfeiçoá-lo. E sobre essa inquietação, o olhar de outro poeta que o conheceu de perto, Paulo Melo Sousa, em um dos seus artigos, intitulado Poesia em dose dupla”, publicado no Jornal O Imparcial em 30 de março de 1993, dá-nos pistas sobre os prismas em torno da produção e do existir naureanos:
“Há uma crise existencial permanente em Nauro, isso é claro e já detectado por outros observadores da sua obra. A sua poesia incorpora essa crise e a potencializa, através da palavra. T.S. Eliot e Erza Pound defendiam a ideia de que a crítica deve se debruçar essencialmente sobre o poema, e que o poeta, enquanto homem, precisa ser esquecido nessa análise. Mas, é evidente que as exceções existem, até para consolidar tal hipótese.”
De há muito, atraído por essa mesma vertente, defendida por Paulo Melo Sousa, desde vastas discussões no período dos cursos de graduação e pós-graduação em Letras, valendo-nos da Estética da Recepção e da Literatura Comparada, temos lido e relido inúmeros artigos, textos diversos que evidenciam os (des)limites desse monumental artista da palavra que tal qual Sousândrade, quanto mais tempo passa, mais necessário se torna ler sua obra. E por isso, estamos começando, a partir desse ponto, a desengavetar nossos pareceres acerca desse revolucionador do soneto, construtor do verso brunido, ”terrorista do belo”, “sincero fingidor”, rei dos decassílabos heroicos, atravessador do Ródono, “poeta do ser e da linguagem”… Em outros momentos, debruçar-nos-emos diante de alguns dos seus preciosos feitos.
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César William é poeta, professor e pesquisador, membro fundador da Associação Maranhense de Escritores Independentes – Amei; da Academia de Letras de Paço do Lumiar -ALPL, cujo patrono é o poeta Nauro Machado; sócio correspondente da Academia Icatuense de Letras – Ailca; membro da União Brasileira de Escritores – Ube e pertence ao grupo Os Integrantes da Noite – uma sociedade virtual de escritores em que se difunde, discute e se analisa arte, sobretudo a literatura maranhense.
parabéns para todos vcs
Obrigado
Parabéns pelo texto cronista a respeito de um dos maiores poetas brasileiros. O Sr. Nauro Machado, conhecir em 1976, tenho parte da sua obra e fui em lançamentos de alguns dos seus livros.
Um marco na história literária maranhense