Nem por obra e graça de garçons nem por pagamento de promessa, o Carnaval do Lava-Pratos de São José do Ribamar, que vai comemorar 78 anos neste domingo (18.2.2024), hoje, sem os blocos tradicionais, escolas de samba, e outras manifestações do folguedo, nasceu com a visita da Escola de Samba Turma do Quinto (Madre de Deus), Turma da Mangueira (João Paulo) e Águia do Samba (Anil) ao Batuqueiro Naval, na Cidade-Balneário, na tarde do primeiro domingo de quaresma, em retribuição à gentileza desta, na sede daquelas, na tarde da terça-feira gorda, no Carnaval da Vitória, em 1946, em alusão ao fim da 2.ª Guerra Mundial (1945). Aquelas tradições do nosso folguedo, que foram expurgadas para dar vez a bandas baianas de “axé music” e radiolas de reggae, na orla, voltaram em 2017, após muitas batidas deste repórter, aqui, e que teve o acolhimento na gestão do prefeito Luís Fernando, com seu slogan de Reconstrução e Desenvolvimento, encerrando-se o de 2018 com a Escola de Samba Acadêmicos do Tatuapé, bicampeã entre as agremiações paulistanas, com enredo que exaltava a encantaria maranhense e a procissão de São José do Ribamar. Depois, retornaram as bandas de axé baiano e outras atrações forasteiras em palco da orla, sem as nossas estrelas carnavalescas genuínas.


A nossa reportagem, em fevereiro de 2003, entrevistou Nicolau Sodré (carpinteiro naval aposentado, com 89 anos) e Zé Tavó (pescador, com 79), ambos criadores do Lava-Pratos e do Batuqueiro Naval, que revelaram tudo haver começado no Carnaval da Vitória, em 1946 (sabendo todos, quando os aliados venceram às forças do Eixo: Alemanha, Itália e Japão, na 2.ª Grande Guerra, finalizada em agosto de 1945), com a Turma da Mangueira, Turma do Quinto e Águia do Samba, pagando a visita da agremiação ribamarense, coincidentemente, na tarde do primeiro domingo da quaresma, na sua sede, na Rua Nova, e de lá, os quatro desfilaram na Rua Grande, iniciando a tradição.




O famoso pandeireiro da Turma do Quinto e dos Fuzileiros da Fuzarca, Antônio Moreira Félix (Bruxela), do alto dos seus 88 anos, recordando a amizade dele com Meu Pai (Felipão), desde o Cruzeiro do Samba e na Turma do Quinto (TQ), contou a este repórter que só não foi fundador do Lava-Pratos, pois, rapazola, no dia se achava em Rosário: “O teu primo mais velho, João Batista dos Santos, regulando a minha idade, foi e falou pra ti, pois saiu no jornal, o que se deu, muito antes dele ser um dos maiores presidentes do Quinto!” — enfatizou Bruxela, sem citar que o Meu Primo querido foi um dos maiores campeões, em tempo de crise, também, como da última vez (e espero que nunca mais) em que tentaram acabar com a legendária TQ, em 2000, e ele me chamou para auxiliá-lo, e superamos tudo, sagrando-se a Gloriosa Azul-e-Branco da Madre de Deus campeã (com a Favela), com o enredo O Descobrimento do Brasil São Outros 500.


Garçons não existiam na época — “Foi logo depois da Guerra!” — assinalou, ali, Nicolau Sodré, acrescentando: “Elas vieram, para a sede do Batuqueiro Naval, na Rua Nova, perto da Praia de Banho, saímos até em frente da igreja e desfilamos pela Rua Grande. Na época, eu também botava baile, tocava pandeiro em conjunto, e sei que não havia garçons”! “Sou ribamarense da gema, e posso dizer que o primeiro garçom aqui foi Severiano Cangatã, no Bar do Joca, no início da década de 1960!” — declarou o artista plástico Antônio Almeida (Mandrake, ali, com 58 anos, igualmente já de saudosa memória). “Sempre ouvi falar que as escolas daqui e de São Luís iniciaram o Lava-Pratos, como eu encontrei!”— concluiu. José Ribamar Dias (o popularizado Mijão, ali, em 2003,) disparou que o seu pai, Juçareira, transportava, em sua “jardineira”, as brincadeiras do Mercado Central, em São Luís, e que: “A televisão deveria entrevistar os verdadeiros criadores. O garçom Cassiano, que fala que foram eles, além de ser novo, nem é daqui de Ribamar”!”O contabilista e folclorista Zé Leite Caieira, já saudoso, Zé Reis e Josafá (sambistas locais e entusiastas dos extintos Pirata e Ideal do Samba) concordaram com a tese histórica.
O último guardião — Àquela vez em que entrevistei Zé Tavó, na Praça do Cemitério, ele gozava de muita saúde e eu comemorava minha consagração quanto compositor de samba-de-enredo, com De Sousândrade e Louco, Todos Nós Temos um Pouco, Mas Genial e Errante Só o Guesa (da sua obra poética monumental), título que dei à composição, em parceria, ganhadora do concurso da Favela do Samba, que foi campeã em 2003. (Na cidade, antes, lembravam logo de Origens e Lendas de São José de Ribamar, que compus para o Pirata do Samba, campeão do Grupo B, no concurso de congêneres em São Luís, em 1979, e que permaneceu no A até que seus fundadores resolveram por sua extinção, em 1987). Na tarde do domingo do Lava-Pratos de 2018, fui visitá-lo, sabendo que o Programa Daqui, da TV Mirante, no sábado, ignorando que ele, com célebres parceiros, começaram o Carnaval do Lava-Pratos de Ribamar, dava a paternidade para os garçons, trabalhadores valorosos, com todo nosso respeito, porém que, neste caso, não fizeram honra ao mérito.


Com centelhas de lembrança — Reencontrei-o com lampejos de memória, quando estimulado: toquei em praia, e ele em cima frisou que, pescador, conheceu muitas delas e chegou a viajar para Paramaribo (Guiana Holandesa); em Batuqueiro Naval, e ele, com um riso emotivo, lembrou, rapidamente, de Zé Maria Vadião, o compositor e cantor nativo que continua elogiado pelas gerações. Procurei não mais puxar pela recordação do velho sambista, despedi-me dele, emocionado, e me dirigir ao movimento de milhares de foliões, na Rua Grande: o que ele me dissera, há 15 anos, valia o escrito! Salvamos o Lava-Pratos autêntico! Turma de Mangueira, Turma do Quinto e Águia do Samba, pagando a visita da agremiação ribamarense, coincidentemente, na tarde do primeiro domingo da quaresma, na sua sede, na Rua Nova, e de lá, os quatro desfilaram na Rua Grande, iniciando a tradição.
Nota do Redator: Solicito a quem interessar-se pelo tema histórico que siga este texto, doravante, pois há metediços no assunto, sem lastro acadêmico, que exige conhecimentos por excelência e trabalhos de pesquisa com eficiência, com entrevista aos fundadores do Carnaval do Lava-Pratos, quanto eu fui exitoso, na Madre de Deus e em São José do Ribamar, junto aos próprio iniciadores.
Texto: Herbert de Jesus Santos