Como se a radio-emissora da Camboa do Mato, no auge da audiência, fazendo jus ao seu slogan “O fato aconteceu é notícia na Difusora”, o JP Turismo, em cima da bucha, haja vista a revitalização desencadeada no espaço, publicou nossa Reportagem com a importância da preservação do Abrigo do Largo da Igreja do Carmo, e, na fumaça da pólvora, logo se formou no Facebook (uma mídia social e rede social virtual) uma discussão que seria proveitosa se não houvesse de um lado o tino da destruição no contrassenso. Na sintonização do quiproquó, o jornalista e radialista José Rocha (Gojoba) intitulou na Internet um consistente Inimigos do Bem, e o advogado, jornalista, e radialista Josemar Pinheiro soergueu a bandeira dos que raciocinam o bem que faz para a história a integridade de um memorial.


Gregos e troianos, menos os iconoclastas (vândalos, que destroem imagens religiosas, símbolos, monumentos artísticos, etc.) sempre consideraram o Abrigo uma relíquia cultural da Cidade, inaugurado no governo Eugênio Barros, em 1952, como revelou André de Jesus Souza, de 82 anos de idade, para a nossa Reportagem, ele, sapateiro aposentado, com oficina na imediação, hoje, residente no Vinhais, e sabedor de que o boxe do Jorge (continuado por seus filhos) emplacou já 68 de atividade, seguido em longevidade por Adauto, firme no batente, desde 1954, onde o entrevistado metia uma boia (PF de frango assado) do elogiado restaurante na pessoa.
Todos os comerciantes, mais novos, inclusive, trazem na ponta da língua que o Abrigo ostenta, desde sua inauguração, com um pé na casa das sete décadas, 10 boxes, funcionando a todo vapor, com sua diversificada oferta, dentre as de lanchonete, comida feita na hora, bares, garapeira (com seu caldo de cana tradicional), e com a comodidade de ter unha-e-carne táxis, sempre de prontidão, para conduzir a freguesia conhecida para outros pontos ou de volta para casa. Padecendo com a ação do tempo, aconteceu a deterioração e o ponto memorável se viu, literalmente, em palpos de aranha. Aguardam voltar ao Abrigo, em breve, encontrados ontem com seus trabalhos sob lonas, na vizinhança: José Adauto Cavalcante, Mariano Silva (filho do saudoso Jorge), Claudilene F. Sampaio (da garapeira), Maria Prudência, Nelissa Reis, e Maria dos Milagres Silva.
Da Sapataria Silma ao mecenas da Cultura Maranhense — Ouvido pela reportagem, o administrador de empresa Expedito Moraes, ao telefone, colocou a necessidade de permanência do Abrigo em sua trajetória de oferecer os pedidos de uma clientela que labuta em seu redor, quanto comerciários, ourives, relojoeiros, ambulantes, gráficos, jornalistas, taxistas, escritores, etc. Ele foi um comerciário (trabalhava na Sapataria Silma, na Av. Magalhães de Almeida), e, sabedor onde o calo mais aperta, postou-se ao lado dos trabalhadores, e transformou-se num genuíno mecenas, em prol da Cultura Maranhense, na ascensão a um cargo de proa no Sioge, com publicação de ases que ele, rapazola, no Abrigo, assistiu ao seus papos literários: Ubiratan Teixeira, Bernardo Almeida, Bandeira Tribuzi, José Chagas, Nauro Machado, Carlos Cunha, Nascimento Morais Filho, dentre outros; e deputado estadual, em 1997, auxiliou muito bem bumba-bois, cordões carnavalescos, etc. “Se fosse Érico, na restauração do Largo e do Abrigo do Carmo, tudo ficaria muito melhor!” — apontou.
Um senhor currículo para uma obra memorável — Expedito Moraes referia-se a Érico de Oliveira Junqueira Ayres, seu vizinho querido do Monte Castelo e meu chapa, desde o Exame de Admissão do Liceu: Possui graduação em Engenharia Civil, pela Universidade Estadual do Maranhão-Uema (1973), mestrado em Arquitetura e Urbanismo, pela Universidade de São Paulo-USP 2001). Foi professor de 3.º grau, classe 6, nível 2 da UFMA e professor adjunto da Uema. Tem experiência na área de Planejamento Urbano e Regional, atuando, principalmente, nos seguintes temas: urbanismo e urbanização. Ficou a recomendação do meu amicíssimo Expedito Moraes: “Chamem o Érico!…”


“Inimigos do Bem” — O jornalista e radialista José Rocha (Gojoba), profundo conhecedor do assunto, rotulou os contra a Iinimigos do Bem: “Ao longo das últimas sete décadas o Abrigo Novo da Praça João Lisboa/Largo do Carmo presta grandes serviços aos frequentadores do Centro Histórico de São Luís. Abrigo Novo por que o Abrigo Velho, que ficava de frente para a Praça João Lisboa, foi demolido há 50 anos. Foi o que restou da pujança daquela área do Centro Histórico de São Luís. Acabou a Fonte Maravilhosa, das irmãs Fontenelle, com seu maravilhoso refresco de ´pega pinto´, bom para os rins. Acabaram o Hotel São José, precursor das pousadas. Acabaram com a farmácia, a Casa Vanguarda; o Moto Bar, a Casa do Linho Puro, a barbearia e, agora, querem demolir o ´Abrigo Novo´? O Iphan acha que o abrigo não faz parte da arquitetura colonial do Centro de São Luís. Tudo bem! Então, vamos demolir o Edifício Matos Carvalho (antiga sede do BEM), o Edifício João Goulart, o Edifício Caiçara… Ao invés de demolir o velho abrigo que tal revitalizá-lo e fazer uma grande festa, na sua reinauguração, com muito mocotó, caldo de cana com pão, abacatada com bolo de macaxeira, sanduíche de pernil de porco e de peru? Destrui-lo? Não já destruíram o bastante do Centro Histórico de São Luís?”




“Cenário imbatível da memória”, Moto Bar, etc. — Dois músicos de mão-cheia conterrâneos, o violonista João Pedro Borges (Sinhô) e Cesar Teixeira não deixaram o Abrigo por menos: O primeiro viajou no tempo com a visão memorável do Abrigo, com sua freguesia popularizada, poetas, prosadores, cantores, compositores, numa contribuição até mesmo de benquerença a um espaço que serve a contento para a aquisição de renda a categorias laboriosas, “Num cenário imbatível da memória”! Já o segundo, viu, na terça-feira, os trilhos do bonde, que fazia curva no Abrigo para a Rua Grande, soterrados pelos paralelepípedos, e a precisão, logo, da volta do Moto Bar, por exemplo, com suas histórias inesquecíveis de Bota-Pra-Moer, um tantã que marcou época em São Luís, quando lembrei, ali, com suas noites de autógrafos, revitalizando ainda nossa vocação literária, possível para um empresário de visão, na observação de uma área rebrilhando conservação e espaço para os nossos artistas da boa música.


No front da preservação do patrimônio memorial — O advogado, jornalista e radialista Josemar Pinheiro, também, ao telefone, rememorou aos gregos, troianos e vândalos: “Estivemos na linha de frente, igualmente, para incentivar na reforma da Praça do Panteon, em janeiro de 2018, inclusive com abaixo-assinados e discursos inflamados, para que o Iphan não se descuidasse do monumento relevante. Ficamos satisfeitos, sim, quando em 22.12.2018, as reformas foram entregues, com financiamento do governo federal, com a presença do prefeito de São Luís, Edvaldo Holanda Jr., do ministro Sérgio Sá Leitão (da Cultura), Carlos Marun (Secretaria de Governo), governador Flávio Dino e Kátia Bogéa, presidenta do Iphan. “Sempre nos batemos pela riqueza memorável da nossa Cidade”! — Josemar Pinheiro alvejou os discordantes, nas redes sociais, que sumiram da área.


São Luís memorável: De Bota-Pra-Moer ao Rei dos Homens — Toda cidade apresenta os seus loucos, certamente, uns mais de perto do povo. Tivemos, para fazer parte da História de São Luís, Bota-Pra-Moer, que mandava na frente da Igreja do Carmo, herói da Greve de 1951, a quem colocaram uma bandeira (nacional ou do Maranhão) na mão, para ele comandar os contra a posse do governador Eugênio Barros, com eleição apontada fraudulenta, e foi ele assim, na liderança oposicionista, até que surgiram as metralhadoras do Palácio dos Leões, mirando só para ele, que deu o brado e tirou o time dele de campo, em instância de lucidez: “Até aqui, a bandeira foi comigo! Apareça um mais doido do que eu”! Não apareceu: Ninguém era lelé da cuca todo para enfrentar balas com uma bandeira tremulando por escudo. Rei dos Homens ficou meu conhecido, quando eu iniciava o Jornalismo em O Imparcial, após estágio curricular do Curso de Comunicação Social da UFMA, e ele, no Bar e Restaurante Cajueiro, na Rua Afonso Pena, filava, aqui e acolá, “um de comer” dos seus frequentadores. Um dia, cogitei liberar um PF, na condição de saber o seu nome e de onde ele provinha, pensando eu numa matéria “sui generis”; já atracado com um prato de cocó, Rei dos Homens adiantou que tinha o nome de batismo Luís Washington de Camões e estudo nos mais recomendados colégios de São Luís, em vista da posse dos seus. Ficou mudo para devorar o cozido de boi. Reencontrei-o, sem demora, em São José de Ribamar, e quis saber mais da sua vida. Ledo engano! Só com dinheiro adiantado! Como eu estava desprovido, nada mais soube, tampouco foi perguntado, sobre o nosso Rei dos Homens, até que soubemos do seu falecimento ocorrido na cidade-balneário.
Texto: Herbert de Jesus Santos